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Explicador Madeira

A prevenção do suicídio é possível

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“A investigação científica é clara: o suicídio pode ser prevenido.” Quem o diz é a Ordem dos Psicólogos Portugueses, que no dia em que se assinala o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, 10 de Setembro, destaca que o suicídio continua a ser uma das principais causas de morte evitável em Portugal.

Em Portugal ocorrem cerca de três suicídios por dia, existindo uma taxa de mortalidade por suicídio por 100 mil habitantes de 9,8%, em 2023. Na Madeira, esta taxa foi mais reduzida, nesse mesmo ano, ficando-se pelos 6,3%. O número de mortes por suicídio em Portugal continua a ser mais elevado do que e qualquer outro país do Sul da União Europeia.

Suicídios na Madeira abaixo da média do país

"É muito importante que estejamos todos atentos", defendeu representante da estratégia nacional, insistindo na importância do reforço da saúde mental

Paula Henriques , 10 Setembro 2025 - 14:03

Por cada morte, centenas de pessoas próximas são directamente afectadas, desde familiares, a amigos, passando pelos próprios profissionais de saúde. Segundo a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), “a prevenção do suicídio exige uma abordagem multissectorial, que articule política públicas robustas com intervenções clínicas eficazes”.

Comportamentos suicidários

Comportamentos suicidários são comportamentos associados à morte e ao desejo de morrer. Incluem pensamentos ou sentimentos suicidas, tentativa de suicídio e o próprio suicídio. Importante referir que ter pensamentos ou sentimentos suicidas nem sempre resulta numa tentativa de suicídio. Ainda assim, nunca devem ser ignorados, pois são sinais de grande sofrimento emocional e de que a pessoa em questão necessita de ajuda, idealmente de um profissional.

A maior parte das pessoas que morreu por suicídio sofria com problemas de Saúde Mental, como Depressão e Perturbação Bipolar. Contudo, são vários os factores de risco, como haver tentativas anteriores, um plano de suicídio ou até história de suicídio na família. Existem, então, diversos sinais de alerta aos quais devemos estar atentos.

Falar sobre ou pensar em morrer, ou “desaparecer”; ameaçar suicidar-se; procurar aceder a meios letais (como comprimidos, ou armas); aparência de desespero e sentir-se “inútil” e “um fardo”; sentir que não tem saída e que não existem razões para continuar a viver, são alguns sinais.

A OPP partilha ainda outros sinais de alerta como a distribuição de bens pessoais, despedir-se da família e amigos, apagar as redes sociais e falar sobre como não tem medo da morte. Atenção, ainda, para com aqueles com mudanças de humor súbitas e intensas, quem aumentou o consumo de álcool ou outras drogas, e quem se isolou da família e amigos.

Quando existe a suspeita de que alguém tem pensamentos ou sentimentos suicidas, devemos iniciar uma conversa sobre o assunto, aberta e com respeito. Alguém que tenha um plano, não deve ser deixado sozinho, e devem ser removidos os meios que possam ser utilizados para cometer o suicídio.

“Falar sobre o suicídio não incentiva nem ‘dá ideias’, pelo contrário, pode reduzir a ansiedade e ajudar a pessoa a sentir-se compreendida”, elucida da OPP, que pede que se comunique com respeito e aceitação pelo que a pessoa está a passar. Deve demonstrar-se apoio a esta pessoa, recusar a promessa de segredo e encaminhá-la a procurar ajuda profissional.

O que fazer quando temos pensamentos suicidários

A OPP aconselha a que procuremos ajuda se nos sentirmos desesperados e/ou em grande sofrimento, quer pelo 112 ou através de alguma das linhas de apoio disponíveis (contactos abaixo). Falar com um familiar ou alguma outra pessoa de confiança pode ajudar na obtenção de ajuda, a encontrar um lugar seguro e afastar-se de meios letais.

Sugere, ainda, que se concentre nos seus sentidos e pense no que está a tocar, a cheirar, a ouvir e a ver: “Pode, por exemplo, segurar num cubo de gelo enquanto ele derrete, focando-se na sensação de frio”. Ou, ainda, focar-se em actividades que permitam que se distraia, como tomar banho ou fazer exercício físico. “Pense, apenas,  nos próximos 5 a 10 minutos”, aconselha a OPP.

Policy Brief

A OPP partilhou um ‘Policy Brief’, com recomendações de políticas públicas para a prevenção do suicídio. Recomenda, primeiramente, que seja cumprido o rácio de um psicólogo por cada 5 mil utentes, no Serviço Regional de Saúde. Tal permitira a implementação de um futuro Plano Nacional de Prevenção do Suicídio; a implementação de programas universais de prevenção da depressão; capacitar equipas de Saúde para identificar sinais precoces de risco; a realização de triagens eficazes e encaminhamento célere e adequado para cuidados especializados; a garantia da continuidade de cuidados; o assegurar do acesso regular dos profissionais a supervisão; assim como oferecer intervenções psicológicas baseadas em evidências junto de pessoas em situação de risco ou de pessoas que perderam alguém por suicídio.

Numa realidade em que uma das principais causas de morte de jovens entre os 15 e os 29 anos é o suicídio, a OPP quer que seja cumprido o rácio recomendado de um psicólogo por cada 500 alunos, nas escolas portuguesas. “O reforço de psicólogos no contexto escolar é decisivo para uma intervenção educativa integrada e preventiva”, garante. É importante, também, a formação contínua e especializada em avaliação e intervenção no risco de suicídio, transversal dos sistemas de Saúde, Educação, comunitários, prisionais e forças de segurança. Esta capacitação deve abranger os psicólogos, mas também outros profissionais de primeira linha, como médicos, enfermeiros, professores, garantindo um trabalho articulado e informado com os psicólogos.

Por outra, a OPP recomenda o acelerar da construção de políticas públicas de mitigação dos factores de risco suicidário. “Políticas que reduzam vulnerabilidades socioeconómicas e promovam a coesão social têm um impacto significativo na redução do risco suicidário”, explica. Entre as intervenções prioritárias encontram-se as medidas de protecção do rendimento, acesso digno à habitação, acesso universal à saúde, políticas activas de emprego e programas de apoio psicossocial comunitário. Deve, também, garantir-se uma regulação eficaz do acesso a meios letais, como armas de fogo e locais de elevado risco, com a implementação de intervenções infraestruturais, de mensagens dissuasoras e mecanismos de suporte imediato.

Segundo a OPP, “os Media podem desempenhar um papel decisivo na prevenção do suicídio, especialmente quando comunicarem de acordo com as boas práticas e orientações baseadas na Ciência Psicológica. O aumento da literacia em Saúde Psicológica e disseminação de estratégias adaptativas para lidar com dificuldades de Saúde Psicológica, promovem comportamentos protectores. Por fim, o avanço na prevenção do suicídio exige um investimento constante na produção de conhecimento científico e na qualificação de sistemas de monitorização.

Contactos úteis

INEM: 112

Linha de Apoio Psicológico do SESARAM: 969 320 140

Serviço de Aconselhamento Psicológico do SNS24: 808 24 24 24

Linhas de Apoio que garantem o anonimato:

SOS Voz Amiga | 15h30 às 00h30 | 213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660

Conversa Amiga | 15h às 22h | 808 237 327 / 210 027 159

Telefone da Amizade | 16h às 23h | 228 323 535

Linha Nacional de Prevenção do Suicídio | 24h | 1411