“Passou a ser normal” o congestionamento automóvel na zona Oeste da Madeira?
Em causa o aumento do tráfego automóvel sobretudo na Via Expresso, nos sublanços entre a Ribeira Brava e a Calheta
A circulação automóvel nas estradas madeirenses já conheceu dias mais calmos. E se antes as notícias só davam conta de congestionamentos na Via Rápida, sobretudo entre o Funchal e o Caniço, o cenário tem vindo a mudar.
Hoje, por exemplo, na informação matinal sobre o trânsito, o DIÁRIO dava conta de algum congestionamento entre a Rotunda da Ribeira Brava Sul e a Rotunda da Tabua.
Os comentários não tardaram, com alguns leitores do DIÁRIO a darem conta de que este é o ‘novo normal’, por aquelas paragens. Filipe Andrade, por exemplo, dizia que “isso já nem é notícia, passou a ser normal, tal como o trânsito de manhã do Caniço para o Funchal e à tarde do Funchal para o Caniço”. Mas será mesmo assim? É isso que vamos procurar aqui verificar.
Para percebermos melhor que realidade caracteriza o trânsito automóvel nos concelhos da Ribeira Brava, Ponta do Sol e Calheta vamos focar a nossa atenção no tráfego rodoviário na Via Expresso.
Nos últimos meses, têm sido cada vez mais frequentes as notícias que dão conta de congestionamentos nos vários lanços daquela artéria principal da zona Oeste. E se antes essa situação acontecia sobretudo no período de Verão, quando a procura pelas praias da também conhecida como ‘Costa do Sol’ era maior, desde o ano passado, pelo menos, que as complicações na circulação automóvel naquela zona são mais recorrentes, mesmo fora do período estival.
O “trânsito lento” e as “extensas filas de viaturas” fazem parte dos cenários descritos nas páginas dos jornais e nas suas edições ‘on line’. Por vezes, a demora prolonga-se por largas dezenas de minutos, para percorrer apenas um ou dois quilómetros. E o aumento de tráfego rodoviário tem levado ao aumento do número de acidentes nas estradas daquela zona, situações que também têm sido noticiadas.
Nas últimas semanas, quase todos os dias têm surgido alertas da aplicação ‘InfoVias’, uma ferramenta que permite saber, em tempo real, o estado do trânsito, os congestionamentos, as interrupções e outras informações úteis das estradas madeirenses, para complicações na circulação rodoviária na zona Oeste.
A par disso, esta nova realidade já tem merecido o reparo de alguns autarcas daquelas localidades, que pedem uma solução ao Governo Regional.
Por outro lado, o líder do Executivo madeirense tem, em diversos momentos, reconhecido a existência do que diz ser um “bom problema”.
Trânsito na zona oeste "é um bom problema"
Miguel Albuquerque desvaloriza o aumento de tráfego entre a Ribeira Brava e a Calheta e enaltece dinâmica económica
Marco Livramento , 20 Junho 2025 - 12:06
Por exemplo, no dia do concelho da Calheta, em Junho último, confrontado com os congestionamentos frequentes, sobretudo entre a Ribeira Brava e a Calheta, Miguel Albuquerque enalteceu o facto de a economia estar dinâmica e as pessoas terem dinheiro para gastar e para andar de carro.
Na ocasião, dizia aos jornalistas que novas acessibilidades exigem tempo para serem projectadas, incluindo uma via rápida até à Calheta, que só poderá ser equacionada numa revisão do actual contracto de concessão.
Governo vai duplicar a plataforma rodoviária entre a Ribeira Brava e a Ponta do Sol
Garantia do secretário Pedro Fino na sessão solene do Dia do Concelho da Ponta do Sol
Orlando Drumond , 08 Setembro 2024 - 11:32
Já no ano passado, o então secretário regional de Equipamentos e Infraestruturas, Pedro Fino, na cerimónia comemorativa do dia do concelho da Ponta do Sol, prometia “duplicar a plataforma rodoviária” entre a Ribeira Brava e a Ponta do Sol. De acordo com o governante, essa intervenção iria “reduzir o intenso tráfego que diariamente existe na estrada do Lugar de Baixo”.
Mas vamos aos números que podem sustentar a tese do aumento de circulação rodoviária na Via Expresso entre os concelhos da Ribeira Brava e da Calheta e, consequentemente, corroboram o que parece ser o novo normal no que respeita ao trânsito e às acessibilidades naquelas localidades.
Nesta apreciação vamos ter em conta o tráfego rodoviário na Via Expresso, particularmente em alguns dos pontos de contagem de viaturas, nomeadamente Tabua, Lugar de Baixo, Madalena do Mar 2 e Arco da Calheta. Deixámos de fora o ponto Ribeira Brava, por essa contagem incluir tanto as viaturas que circulam para a zona Oeste, como para a zona Norte, podendo desvirtuar o objecto em apreço.
Segundo a Direcção Regional de Estatística (DREM), nos últimos seis meses, em quase todos estes pontos houve um aumento da circulação automóvel em comparação com o mesmo período do ano passado. A excepção recai apenas no Arco da Calheta, que registou um ligeiro decréscimo, passando dos 1.803.105 automóveis para 1.791.161, uma diferença de quase 12 mil viaturas.
Na Tabua, por exemplo, passaram quase 3,4 milhões de viaturas, nos dois sentidos (3.385.889), no ano passado tinham passado 3,2 milhões (3.208.498). No Lugar de Baixo, passámos dos 3,1 milhões de automóveis (3.190.401) no primeiro semestre de 2024, para os 3,3 milhões (3.360.367) nos primeiros seis meses deste ano. Na Madalena do Mar 2, o aumento também foi notório, passando dos 2,1 milhões de carros (2.152.932) para 2,3 milhões (2.337.777).
Se recuarmos uma década os aumentos são ainda mais evidentes. No caso da Tabua, passámos de dois milhões de automóveis (2.032.709) no primeiro semestre de 2016 para os actuais quase 3,4 milhões, traduzindo-se num aumento na ordem dos 66,5%. No Lugar de Baixo, há 10 anos contavam-se pouco mais de dois milhões (2.006.217) de automóveis no mesmo período, originando um aumento, para este ano, de 67,5%. Na Madalena do Mar 2 foi onde o aumento foi mais significativo, na ordem dos 81,4%, já que há 10 anos somaram-se pouco mais de 1,2 milhões de viaturas (1.288.995). No Arco da Calheta, o aumento foi de 73,5%, já que foram contados pouco mais de um milhões (1.032.534) de carros, em 2016.
Outra forma de facilmente constatarmos o aumento de veículos que circulam nos vários lanços da Via Expresso da zona Oeste, ainda que com menor alcance temporal, é olharmos para o tráfego médio diário ponderado. Este ano, contaram-se, em média, por dia, na Tabua, 18.707 viaturas, mais 3.385 do que em 2022; no Lugar de Baixo são já 18.566 os carros contabilizados diariamente, mais 3.358 do que há quatro anos; na Madalena do Mar 2 o aumento foi de 3.092 veículos por dia, já que actualmente passam por ali a cada dia 12.916 automóveis; por fim, no Arco da Calheta, são mais 2.006 viaturas que por ali passam diariamente entre 2022 e 2025, já que são contados 9.896 carros.
Face aos argumentos apresentados, consideramos verdadeiro o teor da afirmação do leitor Filipe Andrade.