O meu pobre País...

Este mês de Agosto, os diferentes canais de TV, levaram-nos a “viajar” pela rota do fogo florestal, no nosso país. Da janela da nossa TV, vimos, em choque, as populações em pânico, no interior do País, na sua protecção do fogo florestal, na defesa das suas vidas e bens. “Visitamos” o interior do país, nos seus piores momentos, vimos como as pessoas se organizam na sua vida, distantes dos grandes centros, mergulhados na floresta, no silêncio, diremos, no mais remoto recanto da vida, se o comparamos, com a vida nas cidades.

Relembremos, que neste mesmo território, do interior, muitos portugueses, o escolhiam, para os seus momentos de lazer, momentos de retemperar as suas energias e continuar a sua vida.

A reportagem da Rtp 1, Domingo, no “Bom Dia Portugal”, o Sr. Virgílio, idoso, de Alvoco da Serra, Seia, disse: “Ficamos, hoje, mais pobres, e isto vai demorar imenso tempo a recuperar. Se calhar, já não, na minha vida.”

Neste mesmo noticiário, o Presidente da Ancose, Manuel Marques, disse: “invistam no interior, invistam na prevenção, invistam nos pastores, que são os guardiões da floresta.”

José Reis, Professor, da Faculdade de Economia, da Universidade de Coimbra, no seuartigo de opinião, “Estes fogos que nos roubam o chão”, escreveu:

“Em 2017, sob o título doloroso “Estes fogos que nos descarnam...., chorei nestas páginas as lágrimas de uma tragédia que devastou o nosso chão comum e tocou cada um de nós. Então como hoje, senti o rugir do vento, a voragem das chamas e a asfixia do ar que, na aldeia onde nasci, ameaçaram e desafiaram a coragem dos meus amigos de infância, dos meus colegas de escola, dos meus conterrâneos que, numa tristeza imensa, ficaram rodeados de uma paisagem negra e destruída.” (Público, 19 Agosto) Franscisco Rodrigues dos Santos, no programa, da CNN Portugal, “Verdade e Consequência”, no passado Sábado (21h22), disse: “a ùltima imagem que fica é aquela, que, depois, se perpetua na memória colectiva das pessoas.

O que é facto, circunstância assente e, creio eu, interpretando o sentimento geral do povo português, é que o governo não esteve à altura do cataclismo e da emergência que se abateu sobre o País, porque nas maiores crises exige-se o máximo de sucesso e competência das lideranças.”

“A insensibilidade de quem governa Portugal, que ficou evidente, por uma sucessão de acontecimentos:

- as férias do Primeiro Ministro: as imagens na praia, a bronzear, quando as primeiras ignições davam sinal no nosso território;

- Depois, aquele célebre jantar entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro, que brindavam com cerveja, à beira-mar, quando, a verdade é esta, o País ardia e as pessoas arriscavam as suas vidas;

- Depois, tivemos a Festa, e a palavra impressiona, do Pontal, em que o Primeiro Ministro, o Governo e o partido que suporta esta governação estavam numa festa, à mesma hora, que o País estava entregue à sua sorte.

- E, mais, havia um membro do Governo, nesse mesmo dia, que tinha alertado, de alguma, para usar um eufemismo, descoordenação, de meios, no terreno.”

José Reis, no mesmo artigo acima referido: “Eu, que elogio o planeamento e a preparação cuidada, declaro que estou farto de me ver atolado em planos, planeadores, agências, zonamentos, gestão, prazos, desenhos de protecção, limpeza (como se tratasse de fazer a higiene!), despovoamento, ações integradas, medidas inovadoras, mapas, contratos, descentralizações e desconcentrações, o raio que os parta!”

Helena Freitas, Professora de Ecologia, da Universidade de Coimbra, escreveu no seu artigo de opinião: “Os ecossistemas vivem próximo de limiares críticos, ou seja, pontos de não-retorno em que a resiliência se esgota e a degradação se acelera.

Quando esses limites são ultrapassados, o colapso não surge como catástrofe súbita, mas como erosão silenciosa da capacidade de regeneração, percebida apenas quando já é tarde.” (“Limiares críticos: o limite invisível dos ecossistemas”, Público, 23 Agosto).

Em momentos, de crise, como o que vivemos, no nosso País, releio, sempre, um artigo o Expresso, de 23 de Janeiro de 2010, que guardei: “Leis mal feitas custam mais de 7,5 mil milhões”. Incide sobre diplomas com gralhas, erros gramaticais e remissões para normas inexistentes. Cavaco Silva e Pinto Monteiro criticaram a falta de qualidade das leis. Uma jurista do governo fez as contas e apontou para este valor, que impressiona.

Nuno Garoupa, ao tempo, Professor na Universidade de Illinois e especialista em Custo das Leis disse que “o valor de 7,5 mil milhões subestima em muito os custos da má qualidade legislativa e apenas poderá, na melhor das hipóteses, referir-se a custos directos”.

João Freitas