África, um longo (e tortuoso) caminho para a estabilidade
A África lusófona da qual sou incondicionalmente apaixonado, como disso já dei conta por diversas vezes nestas páginas, teima em não se encontrar. Quem acaba por sofrer? A população, como sempre. Os mais vulneráveis e desprotegidos. É uma tristeza profunda para quem percorre estes maravilhosos países, perceber que a raiz dos problemas de sempre vão castrando um futuro com tanto potencial e que poderia ser tão risonho. Não há como ficar indiferente à magia que nos envolve quando pisamos os nossos pés num solo que tem tanto de misterioso como de impactante. Por ali temos a sensação de que tudo está ainda por fazer e que se fosse feito aprendendo com os erros dos outros daria caminho para um percurso absolutamente fascinante. As gentes, a riqueza em bruto, o calor, as praias, a natureza e a força do que ainda se encontra com uma naturalidade única, preservada por vicissitudes do tempo e da história que a mantiveram muito próxima da sua essência. Quem já foi sabe do que falo. O cheiro da terra, a capacidade das pessoas se reinventarem e se regenerarem, a forma como são felizes muitas vezes com pouco, ensinaram-me que damos demasiada importância à superficialidade que nos consome o dia a dia e não raras vezes nos impede de absorver e admirar o óbvio, o mais bonito e frugal.
É por isso sensível e delicado falar das razões que as razões escondem, Algumas que desaguam em nós. E ver esses países darem um passo atrás já não nos enche de esperança de darem de seguida dois à frente mas a frustração de um “outra vez” que não desarma. Os ventos que vêm de São Tomé e Príncipe falam de uma profunda crise institucional que coloca em colisão membros do partido do poder. O ADI. Esquecendo-se do verdadeiro propósito desse mesmo poder, o de servir as populações, digladiam-se entre si para ver quem manda, quem ganha, quem ordena. Com isso regressou a crise energética, com a racionalização da eletricidade que priva o povo de luz durante parte do dia. Já não se aceita nem se pode compreender. Aprisionados a chorudos contratos que só beneficiam alguns vão dando um sinal à comunidade internacional que não traz boas sensações nem segurança nos investimentos que estavam projectados.
Em Moçambique, país onde vivi e do qual guardo as melhores recordações possíveis, a frase continua a mesma. “Vai acontecer, agora é que é”. Mas nunca acontece nem nunca é. Com uma localização única que podia transformar o mesmo numa das maiores atrações turísticas do Mundo, o problema sério em Cabo Delgado mantém-se. Não se percebe como grupos associados ao ISIS continuam a controlar uma parte a Norte e a dizimar os locais sem que ninguém faça nada. Do pouco que se sabe e dos que foram contabilizados, 29 mortos em Julho e nos últimos dias mais três corpos que foram encontrados sem vida numa aldeia. Parece uma região tão longínqua da capital Maputo que não tem importância. Mas tem. São vidas de pessoas e é um capital reputacional do país que se encontra em causa. Não é aceitável nem admissível que este conflito se arraste há tanto tempo sem que se peça ajuda ou que se tomem decisões que resolvam de vez o assunto.
Na Guiné Bissau, um mês depois de assumirem a presidência da CPLP os jornalistas da RTP e da Lusa foram expulsos do país. Pior, Waldir Araujo, guineense e delegado da RTP África local, foi agredido cobardemente e ameaçado perto da sua residência. Para além de um amigo que muito prezo é um escritor e jornalista de alma cheia, que pagou o preço por não se vender ao sistema nem se calar perante as evidencias. É a falência completa do que restava da CPLP e a prova provada de que esta instituição não funciona nem serve os propósitos dos laços que existem entre os diversos povos. Vivemos numa hipocrisia pungente do assobia para o lado e afasta a água do capote. Uma inércia que a mim, amante da África próxima do nosso coração me revolta e indigna. Aqui fica a minha homenagem a um homem que muito tem feito pelo País. Um abraço para ti Waldir e que nunca desistas do que acreditas.
Frases Soltas:
Esta semana soubemos que um neonazi alemão declarou-se mulher para cumprir sentença numa prisão feminina. Com o radicalismo woke abrem-se brechas na nossa sociedade que vão permitindo este tipo de aberrações. Felizmente que o Mundo parece querer acordar para uma imposição de pensamento radical que vai contra tudo o que a natureza nos ofereceu.
Estas presidenciais prometem ser as mais divertidas de sempre. Candidatos são mais que muitos e dos mais diversos espectros políticos. Quando tudo parecia indicar um passeio do Almirante Gouveia e Melo, o andar da carruagem tem-nos mostrado uma realidade diferente. Comprem pipocas porque a novela só agora começou.