Sargaços, o único mar sem costa
"Tanto Sargasso quanto Sargaço têm origem na palavra portuguesa 'sargaço', que significa uva. A alga recebeu esse nome por exploradores portugueses do século XV, que acreditavam que as bexigas de ar do Sargaço se pareciam com a fruta", lê-se no Geography Realm, um site de informações que "abrange pesquisas e casos de estudos sobre aplicações de geografia, sistemas de informação geográfica (SIG), tecnologias geoespaciais e cartografia. Isto para o leitor perceber que, na internet não faltam fontes sobre este assunto que, tentaremos, explicar com o seu contexto histórico, inclusive citando passagens do próprio DIÁRIO que remontam há décadas.
"Entre 2010 e 2012, um grande número de autores de sete países diferentes e 26 organizações distintas desenvolveram um caso científico para estabelecer a importância global do Mar dos Sargaços", lê-se no estudo The Sargasso Sea Alliance (Aliança do Mar dos Sargaços), liderado pelo governo das Bermudas, que tinha como objectivo "promover a consciencialização internacional sobre a importância do Mar dos Sargaços e mobilizar o apoio de uma ampla variedade de organizações nacionais e internacionais, governos, doadores e usuários para medidas de proteção do Mar dos Sargaços".
Um resumo deste estudo internacional foi publicado em 2012 com a denominação "Resumo Científico e Evidências de Apoio", salientando as nove razões pelas quais o Mar dos Sargaços é importante. "Compilar a ciência e as evidências para este caso foi uma tarefa significativa e, durante esse processo, vários relatórios foram especialmente encomendados pela Aliança do Mar dos Sargaços para resumir nosso conhecimento sobre vários aspectos do Mar dos Sargaços. Este relatório é um desses relatórios encomendados. Estes estão agora sendo disponibilizados na Série Científica da Aliança do Mar dos Sargaços para fornecer mais detalhes da pesquisa e das evidências utilizadas na compilação do caso sumário. Uma lista completa dos relatórios desta série pode ser encontrada na contracapa deste relatório", que pode encontrar aqui, caso queira aprofundar conhecimentos.
Curiosamente, um mapa muito antigo, cuja data e origem (está escrito em francês) não conseguimos apurar, mostra a identificação de Mar dos Sargaços mesmo ao lado da Madeira, muito provavelmente porque as primeiras evidências destas algas flutuantes tenham sido detectados em grandes quantidades no mar a oeste do arquipélago.
(...) desde a baía de Machico à Ponta de S. Lourenço e na costa meridional do Porto Santo; ajaca de pau (Grapsus minutus), comum sobre as madeiras flutuantes e sobre o casco das tartarugas ou outros objectos que a corrente traz a estes mares, sendo este o caranguejo que alguns pretendem ter sido tomado por Cristóvão Colombo como seguro indício da proximidade da terra, quando o navegador o lobrigou em pleno oceano, agarrado a massas de sargaço ou qualquer pedaço de madeira arrastado pelas aguas (...) Referência ao sargaço no Elucidário Madeirense que nos remete ao tempo dos Descobrimentos
"A definição do Mar dos Sargaços começou como uma noção histórica que remonta a centenas de anos, baseada nos primeiros encontros de marinheiros no mar com algas Sargassum, sendo posteriormente reconhecida pela sua ecologia única", acrescenta o estudo. "Situado no Atlântico Norte, é um 'mar dentro de um mar', com o seu limite externo determinado por uma combinação de factores oceanográficos dinâmicos (principalmente correntes) e biologia — principalmente a ocorrência de tapetes agregados de Sargassum", refere.
Contudo, referiam, "até ao momento, não houve uma definição ou delimitação consensual do Mar dos Sargaços, com muitas interpretações que foram mapeadas ao longo do último século. Para que a Aliança do Mar dos Sargaços (SSA) avançasse com o seu trabalho, algum tipo de delimitação operacional era necessária, constituindo o objetivo central deste projecto. Trabalhando em conjunto com a SSA, desenvolvemos um limite simplificado (elipse) da Área de Estudo com base em características oceanográficas e biológicas generalizadas que se estendem até a Dorsal Mesoatlântica".
Historicamente, "o Mar dos Sargaços foi mapeado em áreas que, desde então, passaram a fazer parte das Zonas Económicas Exclusivas (ZEE; limites de 200 milhas náuticas) dos Estados costeiros. Por razões pragmáticas e políticas, a SSA solicitou a exclusão das ZEE dos Estados das caraíbas afectados e dos EUA. A ZEE das Bermudas (Reino Unido) continua incluída, mas uma área que se estende por 50 milhas náuticas da costa das Bermudas foi excluída", acrescenta.
Sabendo-se que a estratégia dos nossos velejadores era mesmo procurar um rumo mais a sul, fugindo das calmarias em que uma determinada zona do Atlântico (Mar do Sargaço) é fértil, só daqui a uns dias, concluída meia travessia, é que saberemos qual das tácticas se mostrou mais eficaz. Relato do DIÁRIO sobre a regata America 500, que acompanhava o veleiro 'Espírito da Madeira', a 20 de Novembro de 1992
Das tácticas e da 'guerra' de nervos que caracterizam na fase final da regata, dizem apenas que estão a fazer pelo melhor. Passam agora por uma zona próxima do famoso, pela negativa, Mar dos Sargaços. A julgar pelas quantidades de sargaço que têm encontrado pelo caminho. Relato da mesma prova e dos mesmos competidores madeirenses, na edição de 29 de Novembro de 1992
O primeiro domingo de Setembro foi a data escolhida pela Igreja para evocação do Senhor Bom Jesus de Ponta Delgada. No tempo em que os povoadores da ilha ainda arribavam pelas suas encostas e fajãs iniciando o amanho das sumarentas terras de basalto, cuja fertilidade era certeza de sobrevivência, naquela espalmada língua de magma, vulcânico bocejo das montanhas, interrompendo à ciclópica altivez da costa debruçada sempre a pique sobre o oceano, tiveram início as romarias ao Bom Jesus de Ponta Delgada. Percorriam-se as distâncias ligando aquele lugar aos outros constituindo ponto de partida de quem se lançava, levado pelas certezas da fé, a caminho do então já conhecido templo, repousando à beira-mar, abraçado pela maresia que o lodo e o sargaço e os limos, semeados pelas marés, faziam transpirar. Dobraram-se os séculos. O maior e mais antigo arraial da Ilha da Madeira, sofrendo as naturais clivagens que o transportaram da Idade Média até aos nossos dias, repete-se anualmente no resvalar do Verão para o outonal alvorecer das vindimas. Horácio Bento Gouveia, num artigo de opinião no DIÁRIO, a 5 de Setembro de 1994
De referir, para termos de referência, além dos riscos que estão a ser avaliados para o impacto do sargaço em excesso no meio marinho e no habitat do lobo-marinho, que demos conta na edição impressa de hoje, é de referir que existe, desde Julho do ano passado, uma Estratégia Regional para monitorização e mitigação do sargaço flutuante na Região Autónoma da Madeira. Inclui um Plano de Acção que "irá operacionalizar as áreas de intervenção no âmbito da detecção, monitorização, recolha, transporte e destino final do sargaço que chega à região".
The Only Sea in the World Without a Coast
The Sargasso Sea is a "sea within a sea" with no land boundaries.
Aliás a exploração comercial do sargaço chegou a ser aventada no ano passado, não sendo de descartar que haja essa possibilidade. Ou seja, além do risco para o meio ambiente, o aspecto desagradável para os humanos, o sargaço ainda pode render dinheiro.
Segundo o Ciência Viva - Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, criada em 1996, o Sargaço (Sargassum, denominação cientítica) é uma alga castanha (Phaeophyta) da família Sargassaceae, que "concentra-se especialmente numa zona conhecida como 'Mar de Sargaços', região alongada no meio do Atlântico norte, cercado por correntes oceânicas. Alimenta-se através da fotossíntese, aproveitando também os excrementos de diferentes organismos que nela habitam. Tem uma coloração entre o amarelado ou acastanhado. Possui o corpo dividido em partes distintas: uma parte de fixação; ramos cilíndricos curtos e longos; e vesículas pequenas cheias de ar".
A associação ambientalista Cosmos lamenta que o Programa Finisterra, aprovado pelo Governo da República para recuperação do litoral, não seja extensivo às duas regiões autónomas. (...) A situação é tal que, de acordo com a Cosmos, 'na costa Sul da ilha, o sargaço amarelo, certas algas, caramujos e lapas estão a caminho da extinção'. Por essas e por outras, o Programa Finisterra era vital para a recuperação de uma costa tão pouco estudada. Notícia do DIÁRIO, 27 de Fevereiro de 2003
A verdade é que são cruciais e "a base de um complexo ecossistema que alimenta uma incrível variedade de vida marinha, servindo de abrigo móvel e de banquete amovível, no Atlântico Norte. Segundo uma investigação recente, larvas e juvenis de 122 espécies diferentes de peixe, bem como tartarugas marinhas recém-nascidas, nudibrânquios, cavalos-marinhos, caranguejos, camarões e gastrópodes recorrem a esta fonte alimentar. É amplamente utilizado como fertilizante", acrescenta. E é uma espécie que "não sofre ameaças actualmente", existindo abundantemente nessa vasta área que referimos no artigo.
