Projecto YouNDigital com importante papel na educação e formação digital
A conferência final do projeto de cidadania digital YouNDigital decorre entre hoje e quinta-feira, na Universidade Lusófona no Porto, e à agência Lusa a coordenadora do projeto, Maria José Brites, salientou a sua importância na educação digital nos jovens.
A aposta na educação digital foi feita "através de formação que já demos e que temos preparada para dar aos jovens, inclusive com a parceria com a Direção-Geral da Educação: YouNDigital e Clubes de Informação e Comunicação", disse a coordenadora e investigadora do CICANT - Centro de Investigação em Comunicação Aplicada, Cultura e Novas Tecnologias da Universidade Lusófona.
A responsável acrescentou a importância da participação de jovens de todo o país na formação mas também na redação digital do projeto.
Maria José Brites salientou a necessidade de pensar as questões éticas no jornalismo, "em particular o jornalismo escolar, mas também os algoritmos, o ecossistema informacional, as questões da diversidade e a inteligência artificial" (IA).
No caso em particular dos algoritmos, a coordenadora diz ser importante "colocar os jovens em contacto com as notícias e com o contexto das desordens informativas, para que mais facilmente as identifiquem, avaliem e reflitam criticamente sobre as mesmas".
Maria José Brites diz-se surpreendida com o resultado de um inquérito feito pela plataforma a 1.362 jovens de 15 a 24 anos, sobre a sua relação com os algoritmos, pois "um grupo de jovens disse claramente que não via problema no facto de o algoritmo lhes dar mais sobre o que eles queriam e aquilo que pensavam".
"Era muito bom que o algoritmo devolvesse pesquisas com informação que se alinhava com as suas preferências", referiu.
Para a coordenadora do projeto isto "levanta enormes problemas sob o ponto de vista da diversidade", pois "estes jovens assumem que este estreitamento de opiniões facilitadas pelo algoritmo até agrada, pois evita conflitos e processos de escolha nem sempre fácies e tranquilos".
Sobre o inquérito, a investigadora referiu também que a aprendizagem sobre jornalismo e tecnologias recentes nas escolas foi um aspeto muito ausente das respostas dos entrevistados.
Além disso, o facto de os jovens consumirem notícias através das redes sociais levanta questões sobre a polarização política, porque "um jovem que comece a pesquisar sobre política no TikTok ou no YouTube e se depare com conteúdos mais extremistas fica mais vulnerável se não estiver desperto e preparado para lidar com possíveis informações aliciantes e erróneas", disse Maria José Brites.
"Ao ser-se apanhado pela rede do discurso de ódio, o algoritmo irá reforçar esse direcionamento para mais e mais conteúdos dessa natureza. Além disso, a falta de uma robusta literacia para os media não facilita processos de capacitação e de conhecimento sobre a forma como funcionam estas plataformas e sobre como escapar às suas armadilhas", mencionou a responsável.
O facto de haver "um contexto vasto de informação que por vezes não é verificada, mas que é mais apetecível, não só pelo seu formato, mas também pelos temas apresentados", pode levar os jovens a consumir "informação errónea, com poucos traços de credibilidade", afirmou.
O projeto YouNDigital surgiu em 2022 "em reposta ao contexto em que vivemos, na incerteza do que é o jornalismo e a sua relação com as audiências, muito em especial com as audiências jovens e na forma como é (ou não) feita a socialização em torno das notícias, incluindo com as pessoas de casa".
O YouNDigital chegará ao fim ainda este ano, quando acaba o seu período de financiamento, embora "isto não signifique necessariamente o fim do projeto".
"Estamos na fase de debater o que se pode deixar como legado, que possa ser utilizado e reutilizado (...)", concluiu a coordenadora do projeto.