Propostas para valorizar jornalismo ganham apoio multipartidário na Madeira
Mesa-redonda juntou, na passada sexta-feira, representantes de 12 das 14 candidaturas às eleições Regionais de 23 de Março, na sede do Sindicato dos Jornalistas, no Funchal
“O reforço do financiamento para garantir a sustentabilidade dos órgãos de comunicação social regionais e a manutenção dos postos de trabalho dos jornalistas, combate à precariedade e a valorização salarial” foram alguns dos temas abordados numa mesa-redonda que juntou, na última sexta-feira, representantes de 12 das 14 candidaturas às eleições Regionais de 23 de Março, na sede do Sindicato dos Jornalistas, no Funchal.
CDU, PSD, Livre, JPP, Nova Direita, PAN, PS, PPM, BE, Chega, ADN e CDS/PP apresentaram as suas visões para o sector na Madeira e comprometeram-se a levar as reivindicações dos jornalistas madeirenses ao Parlamento Regional, caso sejam eleitos.
Com a realização deste evento a direcção regional da Madeira do Sindicato de Jornalistas explica que “pretendeu transmitir as principais dificuldades enfrentadas no exercício da sua missão e, simultaneamente, auscultar os partidos para perceber quais as suas propostas para a comunicação social”.
Ricardo lume, da CDU, questionou quantos jornalistas já viram limitados os seus direitos ao abrigo da lei de imprensa, que prevê: a liberdade de expressão e de criação, liberdade de acesso à informação e o direito de participar na orientação do respectivo órgão de redacção. Disse que a precariedade laboral deve ser combatida e acrescentou que a RTP como empresa pública não pode ser um exemplo de precariedade no País e na Região.
Vera Duarte, do PSD, destacou que o MediaRam foi melhorado na Região no ano passado e sublinhou que, desde 2015, o PSD tem procurado melhorar a realidade do jornalismo, com reuniões com a RTP e outros órgãos de comunicação.
Já Marta Sofia, do Livre, identificou alguns problemas que o jornalismo enfrenta que são, no seu entender: a dependência financeira do Governo Regional, a falta de pluralismo e diversidade, as pressões políticas e a auto-censura. Acrescentou que o sector tem poucos recursos para investir na investigação e sublinhou que há cidadãos com baixa literacia mediática, com dificuldade em distinguir notícias de entretenimento. Como solução para os problemas, disse ser necessário promover a imprensa regional independente e mecanismos de financiamento público, em particular financiamentos europeus.
Por seu turno, Carlos Silva, do JPP, referiu que o digital podia ser uma oportunidade para o jornalismo, com o nascimento de alguns projectos nessa área. Alertou que o Porto Santo tem sido um pouco esquecido e sugeriu uma delegação da RTP na “ilha dourada”.
Da Nova Direita, Paulo Azevedo assumiu não ter propostas eleitorais pensadas para o sector, mas mostrou-se disponível a reflectir sobre o assunto e a reunir-se com o sindicato.
Mónica Freitas, do PAN, disse que um dos perigos da tecnologia é a perda do pensamento crítico e afirmou ser necessário incentivar os jovens a consumir jornais e incentivar a contratação de mais profissionais para o sector.
Vítor Freitas, do PS, disse “não haver democracia sem imprensa livre”, sendo necessários mecanismos para garantir a liberdade de imprensa, nomeadamente mais dinheiro público alocado à comunicação social.
Luís Ornelas, do Partido Popular Monárquico, também apontou a necessidade de serem reprovados os apoios públicos e disse ter em vista, nas suas medidas eleitorais, um programa de formação em jornalismo económico, inteligência artificial e jornalismo de catástrofe.
Roberto Almada, do Bloco de Esquerda, questionou: “Como é possível que em pleno século XXI ainda tenhamos pessoas a trabalhar a falsos recibos verdes, em risco de perder o vínculo?”. E prometeu contribuir com outras forças políticas para que o parlamento seja um órgão atento no que o Governo da República faz com o centro regional da RTP. Criticou ainda a concentração de órgãos de comunicação social na mão dos mesmos grupos empresariais.
Ricardo Correia, do Chega, apelou à transparência do financiamento público, não se mostrando contra os apoios do MediaRam, mas defendendo mecanismos para garantir que os apoios são aplicados de forma correcta. Defendeu ainda a criação de uma plataforma de denúncia anónima, para os profissionais alvo de censura, com as denúncias a serem encaminhadas para os órgãos competentes.
Miguel Pita, do ADN, mostrou-se também preocupado com a precariedade que existe na comunicação social e manifestou a sua disposição para ouvir as ambições e preocupações dos jornalistas, para poder formalizar as suas propostas para o sector.
Por último, José Manuel Rodrigues, do CDS, destacou a descida dos assinantes da imprensa, a baixa dos ouvintes da rádio, a redução drástica do mercado publicitário e a concorrência desenfreada das redes sociais como os principais problemas do sector. Disse que a precariedade é inimiga da liberdade e acrescentou que um jornalista que não tem vínculo está mais sujeito a pressões e a ser despedido. Alertou ainda para a importância de serem reforçados os apoios à comunicação social.
Segundo o Sindicato de Jornalistas, do encontro estiveram ausentes a Iniciativa Liberal, que já tinha avisado antecipadamente que não poderia participar “por motivos de agenda” e a coligação Força Madeira, que “não compareceu”.
“Da nossa parte fica o compromisso de voltarmos a reunir individualmente com os partidos que forem eleitos, para abordarmos com mais pormenor as questões que dizem respeito à comunicação social”, sublinhou Filipe Gonçalves, presidente da direcção regional da Madeira do Sindicato de Jornalistas, a concluir a sessão.
Em suma, as diversas forças políticas presentes mostraram abertura para voltar a reunir com o sindicato, no sentido de aprofundar esta discussão em prol do futuro do jornalismo.