Número de civis mortos em ataques russos aumentou 24% face a 2024
As baixas civis entre janeiro e novembro na Ucrânia foram 24% superiores às registadas no mesmo período de 2024, números que tornam 2025 "um dos anos mais mortais para o povo ucraniano", alertou hoje a ONU.
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU focada no crescente número de vítimas civis na Ucrânia, Kayoko Gotoh, representante dos Departamentos de Assuntos Políticos e de Consolidação da Paz das Nações Unidas, alertou que os números deverão continuar a aumentar, à medida que Moscovo intensifica os seus ataques aéreos em toda a Ucrânia.
Gotoh indicou que, apenas nos últimos dias, dezenas de civis ficaram feridos e centenas de milhares ficaram sem eletricidade e outros serviços básicos, após ataques em grande escala com mísseis e drones russos contra infraestruturas energéticas e de transportes em dez regiões da Ucrânia.
Os recentes ataques deixaram ainda mais de 600 mil pessoas sem energia elétrica na região de Kiev, "sob temperaturas de inverno congelantes".
No total, desde o início da guerra, em fevereiro de 2022, o Gabinete do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos verificou que 14.775 civis ucranianos foram mortos, incluindo 755 crianças.
Outros 39.322, incluindo 2.416 crianças, ficaram feridos.
"Estes números representam apenas as baixas verificadas. Os números reais são provavelmente significativamente mais elevados", frisou a representante da ONU.
Os ataques sistemáticos da Rússia às infraestruturas energéticas ucranianas em pleno inverno ameaçam deixar milhões de pessoas sem aquecimento, água e transportes públicos fiáveis, à medida que as temperaturas descem, sublinhou Gotoh.
Os moradores de prédios altos não conseguem utilizar os elevadores, uma situação que deixa os idosos e as pessoas com deficiência presos nas suas casas.
Além disso, só este ano, mais de 340 instalações educativas na Ucrânia foram danificadas ou destruídas, privando as crianças do seu direito à educação, assinalou a ONU na reunião de hoje.
Também Joyce Msuya, secretária-geral adjunta da ONU para Assuntos Humanitários, participou na sessão, enfatizando que "as pessoas não podem sobreviver sem aquecimento e correm o risco de hipotermia".
"Esses ataques desproporcionais contra a população civil são estritamente proibidos", recordou.
Por sua vez, o diretor do Fórum Internacional de Transportes (ITF), Tomaz Lovrencic, afirmou que as vítimas de guerra precisam de mais ajuda humanitária e alertou que existem "dezenas de milhares de amputados e dezenas de milhares de surdos devido às consequências da guerra".
Já Moscovo classificou as acusações como "hipocrisia" e "propaganda anti-russa".
O embaixador russo junto da ONU, Vasily Nebenzya, descreveu as declarações feitas na reunião como mais um exemplo de "russofobia" dos europeus, denunciando tentativas de "demonizar a Rússia".
Nebenzya afirmou ainda que cada nova proposta de paz é "muito pior" do que a anterior e agradeceu diretamente aos Estados Unidos "por tentarem fazer com que as mentes europeias, tão exaltadas, compreendam a verdade evidente" de que a guerra em curso "dificilmente será um conflito localizado".
"Creio que hoje ninguém duvida que a Rússia alcançará os objetivos da sua operação militar especial, independentemente das circunstâncias. A única questão é: vamos fazê-lo militarmente ou diplomaticamente? Reiteramos a nossa preferência pela segunda via. Contudo, devido às ações de sabotagem por parte dos falcões europeus, não vislumbramos perspetivas concretas nesse sentido", disse.
No encontro de hoje, os demais Estados-membros do Conselho de Segurança da ONU partilharam preocupações sobre os ataques russos em território ucraniano e o uso do frio como arma de guerra.
A reunião acontece num momento em que a Ucrânia tenta conseguir apoio europeu e resistir à pressão dos Estados Unidos por um acordo de paz desvantajoso com a Rússia.
Os Estados Unidos reforçaram hoje que "ambos os lados precisarão de fazer escolhas difíceis para acabar com a guerra", embora assegurando que o objetivo de Washington "é o fim da guerra e um acordo de paz mutuamente aceitável, que deixe a Ucrânia soberana e independente, e com a oportunidade de uma prosperidade real".