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Líder do PS considera "pouco digno" de Montenegro fazer "leilão" de salários

Foto Paulo Cunha/LUSA
Foto Paulo Cunha/LUSA

O secretário-geral do PS considerou hoje que "é pouco digno" do primeiro-ministro fazer um "leilão de valorizações salariais", depois de Luís Montenegro ter falado num salário mínimo de 1.600 euros, dias antes de uma greve geral.

"É pouco digno de um primeiro-ministro, em vésperas de uma greve geral, estar com esta espécie de leilão de valorizações salariais. Essas discutem-se, avaliam-se, em função do crescimento da economia do país, em função das previsões para o nosso futuro, em sede de concertação social", afirmou.

José Luís Carneiro falava aos jornalistas antes de marcar presença na sessão evocativa "Mário Soares - as palavras e as imagens", em Lisboa, que assinalou o dia em que o fundador do PS, que foi Presidente da República e primeiro-ministro, faria 101 anos.

O secretário-geral do PS afirmou que é objetivo de todos dar melhores condições de vida e melhores remunerações aos trabalhadores, salientando que ele próprio já defendeu que o país deve almejar ter o salário médio "na ordem dos 2.500 euros" até 2035.

"Agora, os termos em que o primeiro-ministro está a apresentar estas propostas são termos que não dignificam o sentido do compromisso e até a honradez da palavra que se deve dar aos trabalhadores, que não merecem que lhes faça isto numa altura em que os seus representantes estão a preparar e depois tomarem uma decisão naturalmente muito refletida sobre uma greve geral", criticou.

José Luís Carneiro considerou igualmente que o Governo está a ter "uma abordagem ideológica" no que toca às alterações à legislação laboral, e tem como objetivo fazer "um ajuste de contas com a Agenda para o Trabalho Digno", levada a cabo pelo último governo socialista, alterações laborais que contaram com a abstenção do PSD.

O secretário-geral do PS defendeu também que "a gravidade das propostas laborais é de tal ordem que os trabalhadores têm mostrado que estão conscientes do que se está a passar", nomeadamente "de despedimento sem justa causa, do lançamento dos mais jovens na precariedade", e de "deixar de criminalizar o trabalho não declarado, o que significa lançar muitos, milhares e milhares de trabalhadores no trabalho informal e também para a economia informal".

"São todos os sinais contrários àquilo que a nossa economia precisa. Uma economia que se queira produtiva, competitiva, à escala europeia, à escala global, tem de ser uma economia capaz de ser produtiva pela incorporação de inovação tecnológica, pela qualificação dos trabalhadores, pela sua valorização também salarial. Portanto, é tudo ao contrário daquilo que a nossa economia precisa para afirmarmos o país como um país competitivo e simultaneamente justo do ponto de vista social", referiu.

Sobre Mário Soares, José Luís Carneiro afirmou que hoje "é um dia especialmente importante" e destacou a celebração dos 101 anos do seu nascimento.

"Mário Soares, ele que é, com muito orgulho, o grande fundador do Partido Socialista. Temos muita honra, muito orgulho em continuarmos a dar continuidade a esse projeto, o projeto de um partido que é a casa comum da democracia e a casa comum de quem ama a liberdade", salientou.

O secretário-geral indicou que os socialistas procuram mostrar diariamente como o PS "é mesmo a casa que honra e que dignifica os valores que, antes e depois do 25 de Abril, procuraram criar melhores oportunidades de vida para todos, democracia e liberdade e bem-estar". 

No sábado, discursando no X Congresso Nacional dos Autarcas Social-Democratas (ASD), no Porto, o primeiro-ministro e presidente do PSD, Luís Montenegro, aumentou os objetivos salariais para o país, falando em 1.600 euros de salário mínimo e 3.000 euros de médio, um dia após mencionar valores inferiores.

"Nós não queremos crescer 2% ao ano. Queremos crescer 3%, 3,5%, 4%. Nós queremos que o salário mínimo não chegue aos 1.100 [euros]. Esse é o objetivo que temos para esta legislatura, mas nós queremos mais. Que chegue aos 1.500 ou aos 1.600", disse.

O primeiro-ministro, que na sexta-feira tinha sugerido aproveitar a oportunidade da possível mudança das leis laborais para elevar o salário mínimo para os 1.500 euros e o médio para 2.000 ou 2.500, no dia seguinte disse não querer "que o salário médio chegue aos 1.600 ou 1.700", mas sim que "chegue aos 2.500, 2.800 ou 3.000 euros".