Há profissões em que as mulheres ganham mais do que os homens?
Em 2023, em média, as mulheres ganhavam menos quase 88 euros por mês do que os homens na Região Autónoma da Madeira. Multiplicado por 14 meses (salários base + subsídios de férias e Natal), essa diferença acumulada num ano seria de 1.227,8 euros, ou seja menos 7,7%. Isso foi há dois anos. Aliás, as diferenças são maiores quando se inclui o ganho médio (os bónus e extras), fixando-se em 130,5 euros/mês ou mais 1.566 euros num ano.
Os dados mais recentes (2024 e 2025) ainda estarão a ser apurados e não serão alvo desta análise para saber, afinal, se há profissões em que as mulheres ganhem mais do que os homens. Dado o tamanho da diferença, e o histórico regional, a primeira conclusão é que havendo, são muito poucos os casos.
A administração pública, a construção, a captação de água e a agricultura são as quatro áreas de actividade onde, em média, as mulheres ganham mais do que os homens. Isso é confirmado pelas médias, embora caso a caso tenhamos diferenças maiores. Há, efectivamente profissões onde há uma paridade salarial e, inclusive, as mulheres ganham mais.
Mas são excepções à realidade, também na Madeira, onde apesar de a média estar a baixar, os homens continuam a ter um direito, que ninguém consegue explicar - nem sequer os políticos e governantes - e resolver. Hoje as mulheres ganham menos 7,7% do que os homens. Há 15 anos, a diferença era de 21,3%, ou seja três vezes maior. Mas há excepções, sim.
As quatro áreas referidas - Administração Pública, a Construção, a Captação de Água e a Agricultura - são, de facto, algumas das poucas áreas de actividade em Portugal (mas também na Madeira) onde, em média, as mulheres auferem uma remuneração base mensal superior à dos homens, sendo estas situações excepcionais face ao panorama geral.
Contudo, é importante sublinhar que, embora nestes sectores específicos se verifique um diferencial salarial a favor das mulheres, a tendência geral é de uma disparidade salarial significativa em desfavor das mulheres.
Os dados recentes do Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) e da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), referentes a 2022, indicam que as mulheres ganham, em média, menos 13,2% em salário base e menos 16,0% em ganho total (incluindo prémios e subsídios) do que os homens a nível nacional.
Na Região Autónoma da Madeira, os dados conhecidos em Setembro de 2025 (mas referentes a 2023) indicavam que as mulheres ainda ganhavam menos 7,7% do que os homens em média, mostrando que, embora a diferença salarial tenha diminuído nos últimos anos, a desigualdade persiste.
Então como se explica essas excepções? A situação nos sectores mencionados deve-se, em parte, a distorções estatísticas, como a menor representatividade de mulheres nestas áreas (por exemplo, na Construção Civil), onde as poucas mulheres empregadas tendem a ocupar cargos mais qualificados ou de gestão, aumentando a média salarial feminina no sector. Mas, repita-se, são excepções que confirmam a regra da desigualdade salarial de género predominante no mercado de trabalho português. Os dados disponíveis publicamente pela DREM e pelo GEP (Gabinete de Estratégia e Planeamento, do qual a DREM extrai dados) confirmam esta tendência, embora os relatórios públicos da DREM geralmente concentrem mais em analisar a média geral e menos nos sectores específicos de excepção a nível regional. A informação sectorial detalhada é frequentemente proveniente dos "Quadros de Pessoal" tratados pelo GEP a nível nacional (incluindo as regiões autónomas), e os relatórios da DREM fazem referência a estes dados.
Assim, a nível geral, a DREM confirmou que a disparidade salarial na Madeira tem vindo a diminuir. Em 2021, a diferença do ganho médio mensal entre homens e mulheres empregadas por conta de outrem era de 161,22, o que se traduzia numa disparidade de 6,6% a favor dos homens. Dados mais recentes indicam que as mulheres ainda ganhavam menos 7,7% do que os homens em média. Em 2019, por exemplo, antes da pandemia de covid-19, a diferença salarial era de 13,6%, com os homens a ganharem, em média 1.176,6 euros e as mulheres 1.016,2 euros, com a remuneração base a ser, respectivamente, de 976,8 euros e 873,0 euros.
Embora a DREM (nem outra entidade) não publique abertamente tabelas sectoriais detalhadas que mostrem explicitamente a remuneração média de homens e mulheres para cada um dos sectores de atividade (A - Agricultura, B - Captação de Água, F - Construção, O - Administração Pública), os relatórios de "Mercado de Trabalho - Quadros de Pessoal em Foco" fornecem pistas e agrupamentos sectoriais.
Por exemplo, na Administração Pública, a nível nacional (incluindo as Regiões Autónomas), este é consistentemente um dos sectores onde as mulheres têm uma remuneração média superior. Isto deve-se, em parte, à elevada proporção de mulheres em cargos de média e alta direcção, comparativamente a outras áreas, e a uma estrutura remuneratória mais rígida e transparente. Os dados da DREM sobre o Emprego na Administração Regional da Madeira mostram o número de postos de trabalho e a remuneração média, mas não a desagregação por sexo nesse nível de detalhe.
Já a Construção, é um sector que apresenta uma grande discrepância na distribuição de género na força de trabalho. O pequeno número de mulheres empregadas na Construção tende a estar em funções técnicas, de gestão ou administrativas, que são geralmente mais bem pagas do que os trabalhos operacionais e braçais, predominantemente ocupados por homens. Isso distorce a média salarial feminina para cima, superando a média masculina dentro do mesmo sector. O sector de 'Indústria, construção, energia e água' na Madeira já apresentou um ganho médio mensal superior a outros sectores, o que corrobora a sua especificidade salarial.
Na Agricultura e Captação de Água, o cenário é semelhante à da Construção, com a menor representatividade feminina nestas áreas a fazer com que as médias sejam influenciadas pelos cargos que ocupam.
Ou seja, na prática, embora haja excepções, os números demonstram a regra geral da disparidade salarial que reportada em todos os relatórios, estudos e barómetros disponíveis nos últimos anos. Os dados da DREM sobre a Região Autónoma da Madeira confirmam a tendência nacional de que as mulheres ganham, em média, menos do que os homens na maioria das profissões. Os relatórios sectoriais mais detalhados, que identificam profissões específicas onde a situação se inverte, são geralmente produzidos, como já mencionado, a nível nacional pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento (GEP) e pela CITE (Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego), com base nos "Quadros de Pessoal".
A DREM, por exemplo, utiliza estes dados agregados nos seus boletins informativos. Não é possível, a partir dos relatórios públicos da DREM, extrair uma lista exaustiva de profissões específicas ("tipo de profissão") onde a mulher ganha mais que o homem na Madeira, pois os dados são apresentados de forma agregada por sector de atividade (CAE).
Contudo, com base nos dados nacionais que incluem as regiões autónomas, as profissões/grupos de profissões (códigos CPAP) onde as mulheres tendem a ter uma remuneração base média superior à dos homens, devido às razões estruturais mencionadas anteriormente (distribuição de género nos cargos de topo ou menor representatividade feminina em cargos de base), incluem, podemos concluir que:
- Profissionais das ciências e da engenharia (áreas específicas): Em alguns nichos tecnológicos ou de engenharia, onde há poucas mulheres, as que estão empregadas tendem a ocupar posições altamente qualificadas e, consequentemente, mais bem pagas.
- Gestores e quadros superiores da Administração Pública: Dentro da Administração Pública (uma das 4 áreas referidas), as mulheres em posições de gestão de topo ou em certas carreiras técnicas superiores auferem remunerações médias que superam as dos homens, devido à estrutura da carreira e ao facto de os homens estarem mais distribuídos por escalões mais baixos, ou vice-versa em sectores específicos.
- Especialistas em ciências da vida e da saúde (em certos subsectores): Embora a saúde seja uma área predominantemente feminina, em algumas especialidades médicas ou de investigação muito específicas, a média salarial feminina pode, excepcionalmente, superar a masculina.
É fundamental reiterar que estas são excepções estatísticas e não a regra. A tendência geral é que, mesmo em profissões onde as mulheres são maioria e mais qualificadas, continuam a ganhar menos do que os homens. A disparidade salarial agrava-se em cargos de topo, onde a diferença pode chegar a 700€ a favor dos homens a nível nacional.
Para perceber melhor o cenário, socorremo-nos da plataforma DataLABOR, projecto da CoLABOR - Laboratório Colaborativo para o Trabalho, Emprego e Proteção Social, fundado em 2018, e que “conta com uma equipa multidisciplinar de investigadores altamente qualificados e desenvolve a sua atividade em torno de quatro objetivos centrais: apoiar a conceção e reformulação de políticas nas suas áreas temáticas; capacitar as instituições, incluindo a administração pública, as empresas e as instituições do terceiro setor; qualificar o emprego, mediante a formação de quadros e a criação de emprego científico; contribuir para debate público nas áreas do trabalho e da proteção social, através de formas de divulgação eficazes e inovadoras dos resultados da investigação que leva a cabo”, explica.
Refira-se que a CoLABOR ostenta o selo de Laboratório Colaborativo, atribuído desde a sua fundação e revalidado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) até 2028, mas que em princípio deverá ser extinta. Em todo o caso, é o trabalho mais minucioso sobre o trabalho e, especificamente, o trabalho de género e respectivas remunerações que nos vamos centrar. Os gráficos que a seguir publicamos dão uma perspectiva desta ideia de menor discrepância salarial entre mulheres e homens com o passar dos anos, mas ainda um caminho longo a percorrer para a igualdade.