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Neste dia de Natal

A cozinha está cheia de louça da consoada, e de pratinhos com restos de doces que, mesmo sem fome, se beliscam sem se pensar

Amanhece morno e calado, o dia de Natal.

As missas do parto, cada vez mais temáticas e direcionadas, terminaram e os corpos, recheados de carne de vinho e alhos e cacau, rebolam pela casa com os pés enfiados nas pantufas do amigo secreto.

As crianças acordam dum pulo a seguir as migalhas deixadas pelo Pai Natal, o único invasor a quem se convida, pela chaminé, ou por artes mágicas de transformismo, pelos exaustores modernos. Vão abrir os presentes deixados pelo velho de barbas brancas, de acordo com o volume do subsídio de Natal dos patrocinadores.

A cozinha está cheia de louça da consoada, e de pratinhos com restos de doces que, mesmo sem fome, se beliscam sem se pensar.

De regresso à sala, já não se vê o chão, forrado de restos de papel de presente, rasgado de contentamento.

O bife já chia na frigideira, os ovos que irão a cavalo, em fila de espera e a água para o cacau também. É tempo do pequeno almoço mais completo e demorado do ano.

O almoço será nos avós, onde a tarde se traduzirá em partidas de dominó ruidoso e braços de ferro entre avôs e netos, com estatísticas de 100% vitórias para nova geração.

O jantar será em casa, onde a louça continua por lavar, os pés a tropeçar nos papéis rasgados e na alegria dos mais novos. Serão restos dos restos de todos, numa soma de restos mais substancial que um dia normal.

Acaba o dia porque toda a gente correu desde novembro. Virá a primeira oitava, a segunda, a terceira e um novo ano, que se deseja sempre de saúde, paz e amor. Para todos. Sem exceção.