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'Media' estão em "tempestade perfeita" há muitos anos, alerta Associação de imprensa

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Foto Lusa

A presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (APImprensa), Cláudia Maia, afirma que os jornais e órgãos de comunicação estão a passar por uma tempestade perfeita que se arrasta há muitos anos.

Entre os fatores que contribuem para este panorama, Cláudia Maia refere à Lusa uma queda de 65% do investimento publicitário em cinco anos, porque a publicidade anteriormente direcionada para os meios de comunicação está agora canalizada para grandes plataformas.

A presidente da APImprensa refere que para esta tempestade contribuíram também as alterações nos hábitos de consumo, uma vez que a proliferação das redes sociais transformou como as notícias são produzidas, distribuídas e consumidas.

A responsável menciona que o rápido fluxo de conteúdos nestes meios tem contribuído para a disseminação de notícias falsas e desinformação e posto em causa a credibilidade dos meios de comunicação e dos seus profissionais.

Os problemas de distribuição, a desinformação associada à pandemia de covid-19 e ao uso de jornais em papel também são fatores que têm contribuído para a quebra na venda de jornais, de acordo com a entrevistada.

"A somar a tudo isto, durante muitos anos não houve qualquer tipo de apoio do Governo no sentido de olhar para esta realidade e estudar, de facto, o que se estava a passar. Não havia medidas concretas, nem estruturas para o setor", refere Cláudia Maia.

Nesta matéria, a presidente da APImprensa destaca o Plano de Ação para a Comunicação Social, apresentado pelo anterior governo, em outubro de 2024, embora a associação continue à espera que grande parte das suas medidas sejam implementadas.

Ademais, "há dois ou três anos que se fala de novos hábitos de consumo dos jovens que deixaram de ler em papel para passarem a ler 'online'".

Segundo a presidente da associação, em 2025, até 16 de dezembro, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) tinha registado 111 inscrições e 106 cancelamentos de publicações periódicas.

Cláudia Maia admite que grande parte dos novos títulos funcionem digitalmente, uma vez que "estão a surgir novas publicações periódicas mais no digital", embora confesse não saber se o digital é mais sustentável que o papel.

Por sua vez, a presidente da ERC, Helena Sousa, foi ouvida em 16 de dezembro na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto, onde apontou que "em 2010 estavam registados na ERC perto de 3.000 títulos de imprensa".

Passados 15 anos, "este número reduziu-se para quase metade, com apenas 1.675 títulos registados no ano de 2024", prosseguiu a presidente da ERC.

Além disso, "atualmente, os jovens consultam a informação em ferramentas de Inteligência Artificial (IA) como o ChatGPT ou Gemini, e isto é muito desafiante porque o tráfego dos 'sites' de notícias está a cair", explica Cláudia Maia.

Ainda assim, "muitas vezes, o papel ainda paga as contas, mas está a desvanecer", afirma a responsável pela APImprensa.

Na perspetiva da formação, para que a IA seja devidamente utilizada pelos jornalistas, a APImprensa lançou um programa de formação de 100 horas, gratuito e que abrangia tanto jornalistas como quadros superiores, porque "não adianta de muito que um jornalista esteja apto a fazer, a aprender e a aplicar conhecimentos, se depois no topo não houver este casamento".

Cláudia Maia refere ainda o lançamento de um programa de mentoria para os 175 associados da associação, apoiado pela Google, com uma equipa que vai trabalhar nas redações, perceber as suas necessidades e encontrar soluções com recurso a IA.

A presidente da APImprensa realça a necessidade de deslocalizar as formações sobre esta matéria para vários sítios do país, embora diga que não tem dados que permitam traçar uma assimetria na formação em IA entre o litoral e o interior.