Em que mundo vivemos?

É muito frequente, nos dias que correm, ouvirmos as expressões “o mundo está louco” ou “já nada é como antes”. As estórias que se ouvem, com contornos mais ou menos rocambolescos, ou até inverosímeis, apontam, regra geral, para os jovens como principais protagonistas de comportamento fora do padrão socialmente válido, quando nós sabemos que ele pode ser transversal a toda a sociedade, independentemente da classe social. A velocidade em que tudo parece acontecer, e nos chega através de todos os canais de informação, dá-nos a estranha sensação de que hoje, realmente, o mundo é muito diferente. Será assim tão diferente mesmo?

A instantaneidade digital confere à nossa realidade uma versão mais atípica, em particular através das redes sociais, pois o incremento tecnológico a que vem assistindo desde algumas décadas a esta parte, catalisa tudo o que acontece à nossa volta. Temos de viver com as redes sociais e tomá-las pelo que são e não pelo que dizem ser. Mais importante do que navegar na Internet é ter competência para saber navegar nos valores da vida ou então desmobilizar e sair de lá. A verdade e a mentira são intemporais mas, hoje, com efeito, a diferença entre a verdade e a mentira é cada vez mais dúbia, tal como a distinção entre a seriedade e a trapalhada, entre a realidade e aquilo que queremos dela. A ficção tomou contado nosso dia a dia e faz com que passemos a tomar como certo o que nos dá mais jeito, pois vivemos numa cultura de embalagem que despreza o conteúdo. Há muito boa gente que anda por aí (já andava antes de navegar na Net) fingindo, tentando parecer leve enquanto semeia veneno capaz de apagar o sorriso de alguém. Não, não são apenas os jovens, nem os de ontem nem os de hoje, com comportamentos pouco recomendáveis.

Nestes dias, em que se fazem romagens aos cemitérios para homenagear os nossos mortos com flores, seria pertinente parar um pouco e pensar nos laços que adiámos, nos gestos que deixámos para depois, nas desculpas que arranjámos para não estar, para não escutar, para não partilhar. Quantos de nós não trocaríamos tudo pelos abraços que não demos enquanto estavam vivos? É preciso pensar que, verdadeiramente importante é se importar. Que é sempre melhor ter do que não ter. Mesmo que vivamos num mundo que nos pareça virado do avesso.

Madalena Castro