“A facilidade de acesso fez muitos desvalorizarem o verdadeiro valor da água”, diz Carlos Martins
À margem do Fórum ‘O Valor da Água’, que decorreu durante toda a manhã de hoje, Carlos Martins, assessor do Conselho de Administração das Águas de Portugal, deixou um alerta claro: a água, apesar de estar garantida 24 horas por dia nas casas portuguesas, continua a ser profundamente desvalorizada pela sociedade. “Portugal é um dos países do mundo que, felizmente, conseguiu levar água com qualidade às casas, todos os dias do ano. Essa facilidade fez com que muitos desvalorizassem o seu verdadeiro valor”, afirmou.
O assessor explicou que o objectivo do fórum promovido pela ARM em conjunto com o DIÁRIO, é precisamente criar um espaço de reflexão sobre esse valor, que considera múltiplo e essencial à vida, mas também determinante para a saúde pública, para a economia, para a agricultura, para o turismo e para a preservação dos ecossistemas. “Quando poluímos rios e zonas costeiras, estamos a criar valor. Mas esse valor não é percepcionado pela sociedade ou até mesmo por sectores que já deveriam estar muito mais informados”, apontou.
O responsável defendeu a importância de trazer para o debate comparações internacionais e práticas de gestão adotadas noutras regiões, especialmente em contextos onde a escassez hídrica já é sentida de forma severa. “É preciso que os decisores percebam o papel que a água tem na sociedade. É um bem essencial cujo valor ainda não está “devidamente incorporado”, disse, sublinhando que muitas comunidades no mundo continuam sem acesso à água potável, realidade que contrasta com a abundância sentida em Portugal.
Na sua intervenção pública durante o fórum, Carlos Martins optou por uma abordagem mais social e conceptual do tema, deixando para outros intervenientes a análise técnica dos tarifários. Recordou que há mais de 2 mil milhões de pessoas no mundo que passam horas por dia a recolher água, atribuindo-lhe um valor infinitamente superior ao que lhe é dado em sociedades onde basta abrir uma torneira.
“De facto, nós, felizmente, somos já de uma geração que se habituou a ter água disponível e talvez essas facilidades nos tirem a capacidade de lhe atribuir o seu verdadeiro valor”, alertou, evocando uma conhecida máxima das Nações Unidas, “Só quando carregares a tua própria água perceberás o valor de cada gota.”
O assessor destacou também a desigualdade que acompanha o acesso à água e à sua qualidade, notando que muitos países, apesar de não sofrerem escassez física, enfrentam escassez económica por falta de capacidade para investir nas infraestruturas necessárias.
Neste sentido, lembrou que a água tem impactos directos sobre a saúde, a economia, a produção alimentar, a igualdade de género e a educação, sendo central em praticamente todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.