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Madeira

“É imperativo que o Estado assuma integralmente os custos da insularidade”

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O vice-presidente da Associação Académica da Universidade da Madeira (AAUMa), Tiago Alves, na sessão solene de abertura do ano académico 2025/2026, destacou tanto os avanços da instituição como os desafios nacionais que continuam a prejudicar estudantes e universidades.

A UMa recebeu este ano mais de 500 novos estudantes e inaugurou as licenciaturas em Engenharia Biomédica e Engenharia Física e Computacional, além de abrir vagas para 13 CTSP, cerca de 20 mestrados e 8 doutoramentos, “conquistas que nos deixam muito orgulhosos”, afirmou o vice-presidente.

Contudo, o cenário nacional domina as preocupações e marcou grande parte do discurso do representante. “Houve uma descida enorme do número de candidatos ao ensino superior”, alertou, lembrando que “a Madeira tem menos 360 colocados e a UMa perdeu cerca de 150 estudantes”. A nível nacional, o sistema perdeu quase 10 mil candidatos, “valores negativos que não víamos desde 2018”.

Mencionou, ainda, dados da OCDE que colocam Portugal abaixo da média europeia no número de licenciados e mencionou o livro ‘O ensino superior em Portugal’, de João Filipe Queiró: “‘O ensino superior é a base para a soberania do nosso país’. Como estamos a contribuir para essa soberania se não conseguimos sustentar o ensino superior?”, questionou à plateia presente.

Entre os pontos mais críticos, Tiago Alves apontou o impacto das propinas e o desfasamento entre bolsas e custos reais. “O valor máximo da bolsa ronda os 1.900 euros anuais, enquanto um estudante deslocado gasta mais de 900 euros por mês”, sublinhou. O alojamento estudantil foi outro dos temas fortes abordados pelo estudante. “Temos 120 mil estudantes deslocados para apenas 16 mil camas públicas. 90% ficam entregues à especulação imobiliária.”

No caso da Madeira, o vice-presidente da associação lembrou que metade dos estudantes da UMa recebe bolsa e que o Funchal é actualmente “a 3.ª cidade mais cara do país em habitação e custo de vida”, factor que afasta potenciais candidatos e reduz a competitividade da universidade.

Na ocasião Tiago Alves abordou a investigação e denunciou a taxa de 500 euros para entrega de tese e o peso das propinas de doutoramento, defendendo que os excedentes financiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia deveriam ser canalizados para apoiar investigadores. “A ciência precisa de estabilidade e investimento, não de precariedade”, afirmou.

Dirigindo-se ao Governo Regional, reconheceu o apoio existente, mas apelou a maior pressão sobre o Governo da República, ao dizer que “é imperativo que o Estado assuma integralmente os custos da insularidade.”

Tiago Alves concluiu valorizando a comunidade académica e reforçando o compromisso da AAUMa com a instituição. “Esta universidade é feita de estudantes que não desistem. Continuaremos a criar pontes entre academia e sociedade”, rematou.