Turismo sem travões?
Debate final do ‘Madeira 7 Talks’ aquece sobre crescimento e habitação
A última conversa da 8.ª edição do ‘Madeira 7 Talks’, dedicada ao tema ‘Sem Rede’, juntou Sara Jardim, consultora imobiliária e empreendedora; Carlos Pereira, economista, professor, comentador e deputado à Assembleia da República; e Gabriel Gonçalves, gestor com mais de quarenta anos dedicados à promoção turística da Madeira. O painel terminou em tom acalorado, com divergências abertas sobre turismo, habitação e o papel do Estado.
Sara Jardim abriu com uma reflexão sobre política e liderança, defendendo que “a diferença está entre quem entra na política e engole sem dizer nada e quem não engole”. Carlos Pereira respondeu com ironia, apontando “um rol de provocações”, e desvalorizou a sua própria carreira, dividida entre sector privado e política: “Acho que fui um fracasso em todas elas.” Reafirmou, ainda assim, a importância da alternância democrática e da resiliência: “Na vida muitas coisas vão correr mal. O que temos de fazer é dar o nosso melhor.”
O centro do debate girou rapidamente para o turismo. Confrontado com a evolução do sector, Gabriel Gonçalves afirmou que a Madeira “se posicionou no pós-Covid da melhor forma possível”, deixando de ser “um destino para velhinhos”. Recordou que o crescimento não é controlável “de forma matemática” e que travar o sector pode ter efeitos negativos: “Quando estamos a crescer, ninguém pode dizer: parou. Porque se pára, depois cai.” Destacou ainda o aumento salarial no sector e mudanças profundas nos mercados emissores: a Polónia é hoje o terceiro e os Estados Unidos já ocupam o sétimo lugar.
Carlos Pereira questionou “até quando vamos permitir o crescimento do turismo e com que estratégia”, sublinhando o impacto desigual na vida dos madeirenses. Gonçalves contrapôs que “não existe carga a mais”, mas sim uma má distribuição ao longo do dia. Jardim sugeriu a criação de slots para evitar sobrecargas, enquanto o gestor recordou que “quem define o limite é a capacidade de alojamento instalada”.
A discussão subiu de tom quando Pereira trouxe números: entre 2011 e hoje, os lucros das empresas da Madeira cresceram “1000%”, enquanto os custos com trabalho aumentaram apenas “30%”. Para o deputado, a desproporção revela um modelo económico desequilibrado. Sara Jardim rejeitou restrições ao turismo e apontou a habitação como o verdadeiro problema: “Na habitação não há construção. O Estado é um bloqueio absoluto.” Pereira respondeu que a raiz da crise habitacional está na escassez de oferta pública: “Na Europa, 25% das casas são públicas; em Portugal, 2%.”
A troca final entre Jardim e Pereira deixou a sala expectante, encerrando a edição deste ano exactamente como o tema prometia: sem rede, com posições firmes e sem receio de confronto.