IA e Gastronomia: Madeira desafiada a acelerar o futuro
Eliano Marques e Diogo Freitas defendem adopção rápida da tecnologia e inovação sem medo
Na 8.ª edição do ‘Madeira 7 Talks’, sob o tema ‘Sem Rede’, Eliano Marques, cientista de dados e especialista em inteligência artificial, e Diogo Freitas, chef e empreendedor gastronómico, protagonizaram uma conversa marcada pela urgência da inovação e pela necessidade de mudança de mentalidade na Região e no País.
Eliano Marques, que nasceu na Zona Velha do Funchal e regressou a Portugal em 2020, salientou ter já criado três empresas desde então. A preocupação com o futuro levou-o a lançar um alerta: “Se queremos gerar bens e serviços em 2050, temos de acelerar a adopção destas ferramentas.” Apontou o excesso de burocracia e a “politiquice” como travões que podem fazer Portugal ficar para trás, defendendo que a Madeira poderia ser “a zona do país com a adopção de IA mais rápida”, bastando para isso “alterar o mindset”.
Anunciou mesmo que, dentro de um mês, serão apresentados na Madeira projectos ligados à robótica, incluindo robôs para cozinhas, actualmente em fase de treino. O objectivo é ter, até ao Verão, um humanóide capaz de lavar e secar loiça. A robótica, disse, estender-se-á a vários sectores, dos hospitais à produção alimentar. “Se a Madeira quisesse, já podia aumentar a sua autonomia alimentar com produção vertical. Precisamos de adoptar novas técnicas. Continuamos a ser os últimos em muitas coisas.” E reforçou que, sem mudanças profundas, “daqui a 10 ou 15 anos não teremos outra maneira de fazer isto avançar”.
Diogo Freitas, chef do restaurante Audax, assumiu-se “maníaco por produtividade” e vê a tecnologia como aliada. “Não tenho medo nenhum da IA. Já existem inúmeras ferramentas para a gastronomia. A nossa área passa grandes desafios, mas é uma questão de observar e adaptar.” Sobre a ambição de conquistar uma estrela Michelin, respondeu que é um objectivo, embora o foco principal seja “criar as melhores experiências para os clientes”. Salientou também que, apesar da importância da tecnologia na gestão e na criatividade, “a experiência de ir a um restaurante é sobretudo conectividade humana”.
Sobre o Audax, garantiu ter querido romper com a restauração tradicional da ilha: “Faltava inovação, irreverência. Fazemos muitas coisas diferentes.” Licenciado em gestão, diz-se colaborativo, ambicioso e determinado a tornar o Audax “uma referência mundial”. O custo médio ronda os 150 euros por pessoa, mas o restaurante lançou menus de almoço a 35 e 45 euros.
No debate, o economista e deputado Carlos Pereira questionou a relação entre o “maravilhoso mundo novo da IA” e a lei do trabalho, lembrando que o tema não é apenas de mentalidade, mas político. Também levantou dúvidas sobre a introdução de tecnologia nas escolas, recordando países que já recuaram. Eliano Marques defendeu maior flexibilidade laboral e a necessidade de “reinventar a forma como trabalhamos”.
A sessão terminou com a mesma ideia com que começou: a tecnologia avança a passos largos e a Madeira terá de decidir se acompanha ou se fica para trás.