Estão os valores dos novos arrendamentos na Madeira ao nível dos de Lisboa?
É abundante a informação e desinformação sobre preços relacionados com o mercado imobiliário. Neste caso, vamo-nos centrar num dos aspectos do mesmo, os novos contratos de arrendamento de imóveis.
Na Madeira, regista-se o mesmo fenómeno que a nível nacional: insuficiência de imóveis para arrendar, face à procura existente. A consequência, na linha do que defende a lei da oferta e da procura, é o aumento dos preços dos arrendamentos.
A esse propósito, quando são feitas afirmações sobre o mercado de arrendamento na Região, há uma tendência para comprar com o que acontece noutros pontos do País e, em especial, com Lisboa. Não raro, é afirmado que os preços na Região estão ao nível dos de Lisboa e há mesmo quem afirme que o valor das rendas cresceu 20% nos últimos 12 meses.
Será verdade alguma dessas afirmações?
A verificação dos factos, que subjazem às afirmações referidas, será feita com recurso aos números oficiais periodicamente divulgados pelo INE – Instituto Nacional de Estatística – e a notícias da imprensa regional.
Vamos considerar a mediana do valor das rendas dos novos contratos do segundo semestre de 2024 e a do primeiro semestre do 2025. A comparação será feita para a Madeira como um todo e para a Região de Lisboa – Grande Lisboa (aqui definidas como NUT III pela estatística oficial).
O que se constata é que, no segundo semestre de 2024, a mediana do valor das rendas praticadas na Grande Lisboa foi de 13,06 euros por metro quadrado. No mesmo período, na Região Autónoma da Madeira a mediana foi de 9,60 euros por metro quadrado.
Olhemos para o que aconteceu no primeiro semestre do ano em curso.
Nos primeiros seis meses de 2025, o valor médio das rendas na grande Lisboa manteve-se quase inalterado, ao fixar-se em 13,16 euros por metro quadrado. Foi um acréscimo de 10 cêntimos por metro quadrado.
Nos mesmos seis meses, na Região Autónoma da Madeira, a mediana do preço dos novos contratos de arrendamento foi de 10,44 euros. Esse valor representa um aumento de 85 cêntimos por metro quadrado, quando comparado com o semestre anterior, o último de 2024.
O que estes números revelam é que o aumento da mediana do valor das rendas na Grande Lisboa, em 12 meses, foi de 0,8%. Na Madeira e no mesmo tempo, o aumento foi de 8,8%.
Apesar de o crescimento dos preços ter sido substancialmente maior na Região do que na Grande Lisboa, ficou-se bem aquém dos 20% que vão sendo referidos. Por outro lado, os mesmos dados contrariam a ideia, muitas vezes difundida, de que os valores dos arrendamentos na Madeira são superiores aos de Lisboa. Isto não invalida que o valor médio não o possa ser, não sendo, no entanto, o indicador mais correcto para a comparação em causa, por não expurgar o efeito dos valores extremos, o que acontece quando se adopta a mediana.
Outra coisa que fizemos foi tentar perceber a origem da afirmação de que os valores das rendas na Região Autónoma da Madeira crescem ao ritmo de 20% num ano.
Como explicado, isso ficou muito longe de acontecer nos 12 meses compreendidos entre Julho de 2024 e Junho de 2025.
Da pesquisa que efectuámos, temos como melhor hipótese para justificar essa percepção com o que aconteceu no dia 29 de Setembro de 2024. Nessa data, a DREM – Direcção Regional de Estatística – divulgou uma informação com o título ‘Valor por metro quadrado dos novos contratos de arrendamento na RAM cresceu 17,9% em termos homólogos’.
Uma das hipóteses é que, a partir desta informação, se tenha fixado a ideia dos 20% (os 17,9 arredondados).
Como referido, a análise aqui efectuada considera a Madeira como uma unidade e a Grande Lisboa a outra. Se análise incidisse, por exemplo, na comparação entre os concelhos de Lisboa e do Funchal os dados seriam certamente diversos.
No entanto, como fica demonstrado, os valores medianos dos arrendamentos na Madeira não estão ao nível dos da grande Lisboa, nem há um crescimento de 20% nos mesmos, a 12 meses, na Região. Assim, as afirmações são avaliadas como falsas.