Jorge Carvalho obteve menos votos do que Miguel Silva Gouveia?
Os resultados das eleições autárquicas, na Madeira, têm dado que falar e prometem continuar a ser objecto de debate político, se não mesmo de acusações e contra-acusações, até mesmo fora do campo da luta política.
Depois de ultrapassada, porque óbvia, a primeira acusação em detracção da vitória de Jorge Carvalho no Funchal, outra já surgiu.
A primeira foi que Jorge Carvalho conseguiu menos votos do que o seu antecessor que concorreu pela coligação PSD/CDS. De facto, nas eleições de domingo passado, a candidatura de Jorge Carvalho obteve 21.779 votos e a de Pedro Calado, em 2021, conseguiu 26.841 votos. É evidente, portanto, que Jorge Carvalho obteve menos votos do que Pedro Calado.
A nova afirmação, também ela desfavorável ao vencedor de 2025 das eleições para CMF, dá conta de que Jorge Carvalho obteve menos votos do que Miguel Silva Gouveia conseguiu em 2021, numa coligação liderada pelo PS.
Será mesmo que foi assim?
A nossa análise / verificação será feita com base em dados oficiais, divulgados pela Secretaria Geral do Ministério da Administração Interna, tanto no que respeita a 2025, como a 2021. Além dos dados estatísticos puros e duros, faremos uma análise de contexto, nomeadamente com o cálculo e interpretação do número efectivo de partidos. Esse cálculo será feito com a ajuda de ferramentas de inteligência artificial.
Antes da verificação, propriamente dita, há um outro facto que se evidencia e não necessita de grandes apuramentos. Ainda que com menos votos, a candidatura de Jorge Carvalho conseguiu o mesmo número de vereadores que alcançados por Pedro Calado em 2021, seis.
Vejamos, agora, o que nos dizem os números dos resultados eleitorais.
Jorge Carvalho (PPD/PSD.CDS-PP) conquistou a presidência da CMF com 21.779 votos, correspondentes a 41,34 % do total, garantindo seis mandatos e uma maioria absoluta. Este resultado representa uma descida de 5,6 pontos percentuais e menos 5.062 votos face à vitória obtida por Pedro Calado em 2021, que então somara 26.841 votos (46,98 %).
O número de votos agora obtido por Jorge Carvalho é, de facto, inferior ao registado por Miguel Silva Gouveia, o candidato socialista e aliado do BE, PAN, MPT e PDR, que em 2021 alcançou 22.694 votos (39,72 %).
Apesar dessa quebra, a coligação PPD/PSD.CDS-PP manteve a liderança graças à fragmentação da oposição, que em 2021 se repartia por oito listas, surgiu agora dividida em treze.
Desta vez, o PS liderado por Rui Caetano concorreu isolado e desceu para 12,78 %, enquanto o Juntos Pelo Povo (JPP) e o Chega registaram fortes subidas, conquistando dois mandatos cada.
Analisemos a questão do número efectivo de partidos.
O Número Efectivo de Partidos (NEP) - (Effective Number of Parties, de Laakso & Taagepera, 1979) - é uma medida matemática que traduz quantos partidos ‘contam’ de facto numa eleição — ou seja, não apenas quantos concorrem, mas quantos têm peso real nos votos.
Um NEP ≈ 2 → Bipartidarismo (ex.: PSD/CDS vs PS); um NEP entre 3 e 4 → Sistema multipartidário moderado; um NEP > 4 → Sistema altamente fragmentado.
Esse indicador mostra que, embora em 2025 tenham concorrido 14 listas, o número de partidos que contam efectivamente é cerca de 4 (4.05). Em 2021, apesar de 9 listas, só 2,6 (2,63) partidos contavam verdadeiramente (o que significa que 2 eram dominantes e um pequeno terceiro começava a pesar).
Ora aumento do NEP no Funchal indica maior concorrência e fragmentação, e portanto maior dificuldade em formar maiorias claras — a menos que a força política líder concentre o voto fiel, como foi o caso do PSD/CDS agora.
Mesmo com menos votos e menor percentagem do que Pedro Calado em 2021, Jorge Carvalho beneficiou do aumento do NEP: o eleitorado dispersou-se por mais partidos (NEP passou de 2,6 → 4,0), o que reduziu o peso relativo da oposição e tornou possível ganhar com menos votos absolutos.
Como se verifica, é verdade que Jorge Carvalho obteve menos votos do que Pedro Calado, em 2021, e até do que Miguel Silva Gouveia, no mesmo ano. Mas é igualmente verdade que o contexto político de 2025 para a coligação PSD/CDS era matematicamente mais difícil, por haver um maior número efectivo de partidos. A dispersão nas demais candidaturas explica a manutenção da maioria absoluta, desta vez, por Jorge Carvalho.
Assim, avaliamos a afirmação do leitor como verdadeira.