Todos, Todos, Todos: está na altura de levar a Educação Inclusiva a sério

O pé das crianças está sempre a mudar de número — ou estou equivocada? Os mesmos sapatos já não dão mais. Apertam, deixam de servir. E, ainda assim, na escola, continuamos a querer que todos calcem o mesmo tamanho.

Há pouco tempo descobri que tenho intolerância à lactose. Desde então, os meus amigos adaptaram-se: bolos, pratos principais, beberiques, appetizers — tudo “sem lactose”, tudo “por causa de ti”. E eu, que tento evitar açúcares e o E951, E472, E954, E551... porque fazem obviamente mal, lá como tudo com um ar satisfeito porque sei que fizeram um esforço genuíno para me incluir. E é exatamente aí que me pergunto: Porque razão não fazemos tudo isso na escola pública?

Ainda há quem diga que os apoios que todos os alunos podem usar para aprender melhor – as chamadas Medidas Universais de Suporte à Aprendizagem – são sinónimo de facilitismo. Que baixar a bitola é abdicar da exigência. Mas não é disso que se trata. Trata-se de dar espaço para crescer — e, como nos sapatos, esse espaço é essencial para seguir em frente.

Todos, em algum momento da vida, precisamos de medidas de apoio. E todos, em algum momento, podemos deixar de precisar delas. As medidas não são uma tatuagem a ferro usada pelos escravos, são as muletas que precisamos quando fazemos uma luxação na perna. Servem para ajudar na recuperação, até estarmos prontos para caminhar sem elas. O erro está em pensar que só alguns merecem esse suporte, quando na verdade elas são universais.

A Educação Inclusiva procura eliminar as barreiras de aprendizagem. O foco não deve estar no que o aluno “tem”, mas nas barreiras que o contexto cria e que precisamos de remover para que ele possa aprender, pertencer e participar plenamente na escola.

Incluir é permitir que cada aluno encontre a sua forma de aprender. Uns são mais visuais, outros mais auditivos, outros precisam de sentir, de baloiçar na cadeira. Se queremos que todos caminhem juntos, não podemos exigir que usem os mesmos sapatos.

As Medidas de Suporte à Aprendizagem não são facilitismo. Criar alternativas, reajustar estratégias — isso não é baixar a exigência, é ensinar com Empatia e Equidade.

Na escola, como na vida, há alturas em que precisamos de um apoio extra. O importante é perceber quando o sapato aperta e ter a coragem de experimentar outro número.

Eu calço o 38. E tu?

Bianca Fernandes