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Madeira

Na véspera do 25 de Abril mensagem do bispo Francisco Santana era destaque

Chegada de D. Francisco Santa à Madeira. Imagem de um vídeo dos Arquivos RTP
Chegada de D. Francisco Santa à Madeira. Imagem de um vídeo dos Arquivos RTP

Na véspera da Revolução dos Cravos em Portugal, o DIÁRIO destacava, na primeira página, uma mensagem de saudação aos leitores, enviada pelo novo bispo do Funchal, D. Francisco Santana. O DIÁRIO dizia que a mensagem havia sido enviada para o dia da ordenação de bispo, que fôra a 21 de Abril, em Lisboa, mas que, “por razões alheias à nossa (do DIÁRIO) vontade”, só foi possível publicar no dia 24.

“Aos leitores do Diário de Notícias, no dia da minha ordenação episcopal, envio a minha saudação amiga com uma bênção que, desejo, traduza a minha dedicação ao bom Povo do Arquipélago da Madeira.”

No dia 21 de Abril, o “nosso Jornal da Madeira”, nas lavras do bispo, publicou uma mensagem de D. Francisco Santana, bem mais desenvolvida, em que o prelado dizia pretender ser um marinheiro, mais do que um bom pastor.

“Posso dizer-vos que estou contente e até feliz. Nunca desejei esta missão porque não me sentia digno e preparado, mas qual de nós pode discutir os desígnios de Deus?”

“De uma coisa podeis estar certos. Vou para o Funchal só para vos servir. Há quase dois anos desejais ter um Bispo e tendes o direito e a necessidade de tê-lo. Mas todos vós, por várias vezes, e de diversos modos manifestastes o desejo de ter um bom Pastor. O Santo Padre, em vez de um ‘Pastor’, vai enviar-vos um ‘Marinheiro’!”

“Dentro em breve ireis ver o que é um marinheiro que, há já bastantes anos, vive os problemas bem pesados dos homens do mar, aprendendo deles as boas qualidades e evitando tanto quanto possível os seus defeitos. No entanto, também a São Pedro, que era pescador, o Senhor fez dele um bom Pastor. Eu tenho a esperança que o Senhor faça de mim o vosso ‘Bom Pastor’.”

D. Francisco Santana acabou por ser uma das figuras mais marcantes da autonomia madeirense, em especial nos primeiros anos. Foi um político marcante. Como nos lembra Bernardo Martins, no seu livro ‘O 25 de Abril na Madeira’, o bispo disse pretender, para o seu Jornal da Madeira, combate político, sem missas e santinhos. Para isso tinha os padres nas igrejas.

A Diocese do Funchal, na sua comunicação institucional, sintetiza o percurso no bispo. D. Francisco Santana foi nomeado bispo no dia 18 de Março de 1974. A sua ordenação episcopal deu-se no dia 21 de Abril, numa cerimónia celebrada por D. António Ribeiro, cardeal-patriarca de Lisboa, tendo como coadjuvantes D. António dos Reis Rodrigues, Bispo de Madarsuma, e D. Maurílio de Gouveia (madeirense), Bispo de Sabiona.

 Chegou à Madeira no dia 10 de Maio e, dois dias depois, no dia 12, tomou posse na Sé do Funchal. Faleceu a 5 de Março de 1982, vítima de um cancro.