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A Teia

A Madeira está mergulhada numa crise política, sem precedentes, causada pela demissão do Governo Regional e do Presidente da maior Câmara da Região, por alegadas práticas de corrupção. Não vou aqui discorrer sobre essa investigação e sobre as pessoas em causa, cuja presunção de inocência lhes assiste, apesar dos graves indícios que sobre elas pendem. O que é preciso recordar é que há décadas que o Bloco, e outros partidos da oposição, alerta e denuncia “ligações perigosas” entre os poderes políticos e os grupos económicos nesta Região.

O Bloco de Esquerda, juntamente com outras forças da oposição, tem denunciado, desde que me recordo, a existência de uma teia urdida em torno dos interesses que gravitam na área da governação da Madeira e que, aos olhos de qualquer comum dos mortais, tiveram como resultado o enriquecimento rápido de responsáveis empresariais que cresceram à sombra do regime, instalado nesta terra, há quase meio século. Eu próprio já fui arguido, várias vezes, por denunciar essas relações perigosas entre grandes empresas construtoras regionais a quem, sistematicamente eram adjudicadas obras públicas. O falecido Deputado Paulo Martins foi perseguido e levado à barra dos tribunais, várias vezes, por trazer à luz do dia situações de duvidosa legalidade. O BE, e outras forças políticas, fartaram-se de denunciar, no Parlamento e fora dele, contratos pouco claros e indícios de alegados favorecimentos nos portos da Madeira, na área da inspeção automóvel, na área da construção civil, na gestão danosa do setor da banana por parte das cooperativas, entre tantas outras situações suspeitas. Hoje é fácil colocar cartazes na rua a bradar contra a corrupção. Mas quando era difícil denunciar esses atos, os que agora se auto-intitulam de paladinos da luta contra a corrupção gravitavam em torno do poder e, calados como ratos, estavam no PSD, alguns deles com cargos eleitos. Falo, naturalmente, da extrema-direita cujos membros vieram (quase) todos do PSD e foram coniventes com todas as situações pouco claras que ocorreram em quase meio século de governação. Que os eleitores não se enganem: votar na extrema-direita, em futuros atos eleitorais, é o mesmo que votar no PSD. Votar na extrema-direita, nas próximas eleições regionais, que deverão ser convocadas para final do primeiro semestre deste ano, não muda nada e apenas perpetua e reforça o poder do PSD-Madeira. Bem vemos como o líder nacional da extrema-direita anda histérico a fazer pressão para ir para o governo dos Açores com o PSD, afirmando que o PSD nacional só conseguirá governar coligado com eles. Tanta berraria dos fascistas de extrema-direita para se juntarem ao PSD. E acreditem: na Madeira será igual. Por isso, a mudança política só acontecerá reforçando aqueles que, como o BE, tudo farão para que mude o regime e para que tudo não fique na mesma. Deixar tudo na mesma é o que quer a extrema-direita e o PSD, juntos numa teia de interesses que lesa a Madeira e os madeirenses.