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Crónicas

Ontem em Famalicão, já perceberam a importância da polícia?

Nas ultimas semanas temos assistido a um desfilar de polícias nas ruas de Portugal, em protesto por melhores condições salariais e uma equiparação do suplemento de risco em relação à Polícia Judiciária. Para se perceber o que está em causa, a 30 de Dezembro entrou em vigor um decreto lei aprovado naturalmente pelo Governo que define ( com retroativos ) o pagamento de um suplemento de missão para as carreiras da PJ que não teve acompanhamento nas restantes forças de segurança. Este ato considerado injusto e discriminatório gerou uma onda de indignação a um descontentamento que já se vinha a notar há algum tempo e que não reflete apenas as míseras condições salariais mas também a falta de condições nas esquadras. No entender da polícia, se são eles que vão na frente dos conflitos armados na maioria das vezes, deixando terreno livre para os inspetores da PJ poderem investigar, também eles deveriam merecer a atenção dos nossos governantes uma vez que o risco é igual senão maior, “isto é ainda mais imoral pois há motoristas e cientistas de laboratório, por exemplo, que ganham mais de 600 euros de subsidio como se corressem algum perigo de vida!”.

Tantas vezes falamos que o nosso país é dos mais seguros do mundo, gabamo-nos de que podemos circular à vontade e a qualquer hora por todo o lado e esquecemo-nos de quem tem quota parte de responsabilidade nessa matéria. Portugal vive do turismo e o turismo vive de segurança. Fazem parte do mesmo contexto e são indissociáveis, não há destino que sobreviva a guerras, confrontos, assaltos e medo. Parece-me por isso obvio que andamos há algum tempo a brincar com o fogo ( não é por acaso que segundo um relatório recente, passámos em três anos, de terceiro para sétimo país mais seguro do mundo ). Não é de agora que as nossas forças de segurança se queixam da falta de meios. Veículos parados sem condições para circular, falta de agentes, “os polícias não têm recursos para trabalhar. O gás pimenta, não existe para todos os elementos e as falhas no papel para as impressoras e ‘toner’, são constantes”, aponta um dos sindicatos. Temos sempre a tentação de nos revoltar perante uma multa ou algum excesso de força que vemos na televisão mas esquecemo-nos constantemente de diversas situações do nosso dia que são passadas de forma pacata e tranquila porque “alguém” assegura o controlo e a vigilância.

Ontem em Famalicão no jogo de futebol em que a equipa local defrontava o Sporting assistimos a imagens absolutamente deploráveis, com confrontos entre adeptos das duas equipas de que resultaram feridos, garrafas, pedras e cadeiras pelo ar. Tudo isto por falta de policiamento o que resultou inclusivamente no adiamento do jogo. Se provas fossem precisas, tivemos um supremo e cabal exemplo da importância da polícia na nossa sociedade e dos riscos que todos nós estamos a correr com o impasse em que nos encontramos. Com a revolta dos agricultores um pouco por toda a Europa, que alastrou para o nosso país o Governo resolveu desembolsar cerca de 200 milhões de euros em subsídios de um dia para o outro o que veio revoltar e acicatar ainda mais os ânimos entre as nossas forças.

Teme-se por isso uma radicalização dos protestos, “com os comandantes desesperados e os homens a quererem mesmo entregar as armas”. É o descambar de uma situação que pode vir a trazer consequências ainda mais graves do que as que assistimos ontem no que era para ser um jogo de futebol e se transformou numa batalha campal. É bom não esquecer que é a nossa polícia o primeiro cartão de visita no aeroporto, que controla as entradas e saídas com a recente extinção do SEF. Estão por isso reunidas todas as condições para uma tempestade perfeita e um retrocesso grave no nosso fluxo turístico com as noticias que vão saindo lá fora. Pergunto se não é tempo de sairmos também nós à rua e nos juntarmos a esta causa para que se perceba de uma vez por todas que Portugal está unido à volta das nossas forças de segurança e que lhes damos o devido mérito e valor.