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Vitorino avisa que “ninguém vai aceitar fechar o mundo outra vez” numa pandemia

Foto Miguel Espada/Aspress
Foto Miguel Espada/Aspress

“Ninguém vai aceitar fechar o mundo outra vez [numa pandemia]. Impensável”. Quem o afirma é o ex-director geral da Organização Internacional para as Migrações, António Vitorino, que, esta manhã, participou numa conversa com a jornalista Maria Flor Pedroso sobre o tema 'Nova Ordem Mundial: Desafios Globais e Oportunidades Emergentes', integrada no programa do 34.º Congresso Nacional de Hotelaria e Turismo, que decorre no Funchal.

O antigo ministro português e ex-comissário europeu explicou que os países vão ter de aprender com a pandemia de Covid-19 e procurar medidas preventivas, pois não será possível impedir a mobilidade de pessoas e impor restrições, como aconteceu no início de 2020, pois as populações não o aceitam. A este respeito, lembrou a “enorme resistência às restrições” que o governo chinês quis impor à população de Xangai. “Eu nunca tinha visto o Governo chinês a mudar uma política em 8 dias e esta era uma política que tinha o carimbo do presidente Xi Jinping. Acabaram, com o fim da política ‘Covid zero’”, observou.

António Vitorino entende que a pandemia foi “um grande disruptor”, um factor que terá “impactos de longa duração, não só do ponto de vista sanitário como também políticos”. Veio expor as grandes desigualdades mundiais. “No final de 2022, 80% das pessoas dos países desenvolvidos estavam vacinadas e apenas 20% das pessoas nos países menos desenvolvidos estavam vacinadas. Ou seja, quem é rico safa-se. Isto tem efeitos na ordem mundial. Os países do sul global dizem que a ordem internacional só serve o hemisfério norte e não contem connosco”, referiu, acrescentando que a pandemia fez recuar em dez anos a redução da pobreza mundial.

Vitorino considera que a guerra na Ucrânia “é uma consequência lateral da pandemia”, já que a crise sanitária global “veio acelerar a rivalidade” entre EUA e China, que formam o novo “mundo G2” das potências que hoje disputam o poder mundial. Segundo o antigo ministro, “Putin achou que os EUA estavam demasiado empenhados no conflito com a China” e aproveitou para invadir o país vizinho. Entretanto, a rivalidade os colossos China e EUA “abre espaço para outras potências menores”, como a Rússia, a Índia e a Turquia e, com menor protagonismo, o Brasil e o México.

Neste contexto global, o mesmo conferencista prevê que os fenómenos migratórios se agravem e alertou para a necessidade de Portugal ter uma estratégia e perceber qual a mão-de-obra de que tem mais falta e procurar garantir formação profissional.

A outro nível, António Vitorino entende que “todas as empresas hoje estão obrigadas a incorporar a inteligência artificial” nos seus negócios. É um tema que suscita um “debate desequilibrado”, pois “é possível olhar para a inteligência artificial como ameaça, mas também com expectativa de grandes progressos (caso da saúde, onde é altamente promissora)”. Também neste capítulo, há “dois países que estão claramente na frente, China e EUA”, enquanto “a Europa está a ficar para trás na investigação de inteligência artificial. “Vivemos num mundo de aplicações e plataformas globais chinesas e americanas. Nós estamos completamente dependentes na economia digital destas duas potências”, alertou, defendendo que os europeus procurem desempenhar um papel mais activo neste domínio.

Para António Vitorino, o alargamento da União Europeia “é inevitável”, mas a adesão da Ucrânia não deverá acontecer em menos de dez anos. O que o alargamento vai obrigar é a uma mudança das regras de funcionamento da União Europeia, prevendo alterações, por exemplo, na Política Agrícola Comum (PAC), devido à produção excessiva de cereais.

Por fim, Vitorino fintou as perguntas de Maria Flor Pedroso sobre um eventual regresso ao exercício de cargos políticos em Portugal. Quanto ao futuro, o ex-ministro disse apenas estar a escrever as suas memórias referentes aos últimos cinco anos.