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Porquê agora?

O mínimo que as Instituições podem agora fazer é devolver a decisão ao povo em eleições antecipadas

Desde há muitos anos que se fala na promiscuidade do poder político com o poder económico nesta Terra. Ao longo dos anos, várias pessoas fizeram denúncias em diferentes locais e instâncias e nada aconteceu. Houve mesmo pessoas, como o meu marido que, infelizmente, partiu faz este ano 10 anos que, por cada denúncia que fazia, mesmo na sua qualidade de Deputado, o governo colocava um processo em tribunal, como se o criminoso fosse ele. Isso acontecia também com outras pessoas na mesma situação. Normalmente ficavam com o estatuto de arguidos, com termo de identidade e residência. Até depois do Paulo morrer, eu e a minha filha herdamos um processo e passamos a ser arguidas.

O mesmo aconteceu com alguns jornalistas, aquando do exercício do seu trabalho, onde faziam a cobertura do que era dito, por diferentes atores políticos, ou membros da sociedade civil. Vai tudo para o tribunal, era a palavra de ordem de quem estava no poder.

Quando alguém tinha a coragem de também colocar processos contra membros do governo, particularmente o Presidente de então, ele refugiava-se na imunidade, nunca comparecia quando era chamado, e acabava tudo por prescrever passado algum tempo, sem que nada fosse apurado, sem que nada acontecesse.

Prosseguiam as denúncias e tudo continuava a ser governado da mesma forma debaixo dos olhos de toda a gente. A maioria dos que continuavam a contestar, mesmo dentro do partido do poder, faziam-no, por trás das costas, nos cafés, nos almoços e jantares bem longe das vistas dos visados, a maioria por medo das repercussões que podiam sofrer nas suas vidas. Outros porque não queriam mais processos. Estavam fartos de ser bodes expiatórios.

Mas para quem estava atento, não havia dia nesta Terra onde esses problemas não viessem à luz do dia, sobretudo trazidos pelos partidos da oposição. Dentro e fora do Parlamento. Até houve uma Comissão de Inquérito Parlamentar depois de declarações polémicas de um próprio Deputado do partido do poder. Foram chamados os visados, alguns deles por acaso são os mesmos que agora estão a ser investigados.

De tudo isto o poder judicial tinha conhecimento. Nunca agiu, sobretudo na investigação mais ao fundo das questões de corrupção levantadas. As conclusões da Comissão de inquérito Parlamentar foram impostas pela maioria do poder, ficando tudo “em águas de bacalhau” como diz o povo.

Entretanto, realizaram-se as eleições Regionais, onde tudo veio outra vez à berlinda, mas nada aconteceu. Era tudo política, e os ”políticos são todos iguais”, e, portanto, o melhor é ficar quietinho para não “levar no focinho”.

E agora, de repente, de forma espetacular, a justiça acorda e coloca no centro da sua ação os mesmos que já tinham sido mil vezes denunciados, sem qualquer consequência. Porque não agiram antes das eleições é a pergunta que mais se coloca? Se assim fosse, evitariam todo o espetáculo triste que está acontecer, e a clarificação política eleitoral poderia ter tido um outro desfecho, com o eleitorado mais elucidado e, portanto, mais consciente nas decisões que ia tomar.

PORQUÊ AGORA? Acho que as pessoas residentes nesta Região Autónoma merecem um esclarecimento fundamentado sobre este timing, até porque o mesmo vai manter uma das pessoas visadas neste processo de corrupção à frente dos destinos do governo, até a votação do orçamento regional, que já estava agendada para fevereiro, e era do conhecimento público.

O mínimo que as Instituições podem agora fazer é devolver a decisão ao povo em eleições antecipadas e que o povo saiba penalizar quem o andou a aldrabar durante tanto tempo.