O amor de Cafôfo à Madeira é uma paixão de Verão

O discurso de Paulo Cafôfo no encerramento do congresso dos socialistas madeirenses, onde voltou ao lugar que emprestara a Sérgio Gonçalves (para “aquecer”, ou sobretudo “ocupar a cadeira”, para evitar que outros se lá colocassem e deixar o lugar sempre vago para ele) deixou-me dividido nas emoções, entre o estupefacto e a sensação de que ele voltou, mas nada mudou.

Pelas reviravoltas nas suas posições, como esta de vir defender o CINM quando pouca ou nada fez quando Ana Gomes procedeu a um dos maiores ataques de sempre a uma das maiores mais-valias para a economia madeirense, ou sobretudo este anúncio de defesa intransigente da Autonomia, quando a sua práxis sempre foi a de dizer amen a António Costa (salvo nos últimos tempos, quando percebeu que seria corrido e que seria importante garantir tacho no PS da Madeira) e adotar uma postura de acordo com os interesses centralistas de Lisboa.

Um número de contorcionismo que não surpreende, dadas as suas posições ao longo da sua carreira política. Ou melhor, uma verdadeira “flor humana” (para quem não sabe foi um número de magia muito famoso no Funchal de meados do século XX, onde a protagonista entrava numa cabina e depois desaparecia misteriosamente, surgindo depois “plantada” noutra parte do recinto). Numa altura estava no Funchal, outra em Lisboa, outra no Brasil, depois de volta ao Funchal.

Umas vezes dizendo uma coisa, outras vezes outra. Mas, numa coisa sempre foi coerente: prometeu, prometeu e prometeu. E não cumprir com nada ou quase nada com aquilo que prometeu.

Portanto, as promessas de Cafôfo não me surpreenderam. São mais um “saco cheio de nada”, algo que sai da boca onde outrora havia um sorriso resplandecente e agora assome apenas um esgar cinzento.

O que me surpreendeu foi a “lata” da sua grande declaração de amor à Madeira. E que me fez lembrar o seu amor ao Funchal...

Um amor que, como todos sabem, desvaneceu-se quando se quis candidatar às eleições regionais. Na altura, disse que tinha muita pena, mas que teria de trocar de noiva, para bem dos madeirenses.

A noiva, contudo, já experimentada quanto às “traições” do então edil funchalense, recusou o noivo. Abandonado, Paulo Cafôfo ainda ameaçou voltar para casa da mãe (a escola do Campanário), mas depois lá fez o sacrifício (comoveu-me, creiam) de ir ganhar uns dinheiritos para o parlamento madeirense. Tudo, realçou, para defesa dos madeirenses e em nome do amor à Madeira.

De repente, eis que há uma outra noiva, mais endinheirada que surge: Lisboa, através de António Costa, acena-lhe com um lugar na Secretaria de Estado das Comunidades.

Afinal, estas eram, como jurou a pés juntos, o seu amor de sempre. Qual Funchal, qual Madeira, qual PS. Os emigrantes é que eram!

Durou pouco esta paixão, este amor exclusivo. A paixão pelo PS Madeira voltou. Sérgio Gonçalves, a quem colocara na presidência socialista, numa espécie de “barriga de aluguer”, perdera as eleições regionais, como era esperado, o Governo da República passava por maus dias e lá Cafôfo, mais uma vez, abandonou a noiva.

Candidatou-se à liderança, arrumou uns pretendentes, e surgiu no congresso do PS da Madeira (não estava nevoeiro) a declarar a sua candidatura às legislativas nacionais (ou seja, mal chegou e já quer ir embora), porque (vejam só se isto não lembra outros amores de Cafôfo) «a Madeira é a causa da minha vida, um compromisso que assumi há muitos anos, muito antes de me imaginar na Política”.

E para que não restassem dúvidas ainda acrescentou: “Faço-o por todos os Madeirenses e Porto-Santenses, que merecem que eu dê tudo o que tenho por eles. Contem também comigo, porque a Madeira é a nossa causa”. Agora, façam um esforço de memória e recordem-se do que disse no passado, quais eram os seus sonhos, quais as suas juras de amor. E quanto tempo é que isto durou.

Paulo Cafôfo sabe que não vai ganhar estas legislativas na Madeira. Como tal, sabe que o seu estado de graça pode acabar ainda este ano. Como tal, nada melhor do que garantir um lugar. O que, para quem dizia que não queria saber da política para nada, pode ser surpreendente. Ou talvez não!

Enfim, os amores de Cafôfo são como as paixões de Verão. Muito intensos no início, mas desaparecem rápido….

Ângelo Silva