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Portugal tem que assumir a agricultura como verdadeiro desígnio nacional

Foto DR/AGROS
Foto DR/AGROS

O presidente da Agros, Idalino Leão, afirmou que, em Portugal, falta assumir a agricultura e o agroalimentar como um "verdadeiro desígnio nacional", vincando que em causa está a soberania alimentar do país, recentemente posta à prova.

"Acho que não é só no caso da seca ou da gestão ou falta de gestão da água, mas o que está a faltar, de há um bom par de anos a esta parte, é assumir a agricultura e o setor agroalimentar, como um verdadeiro desígnio nacional", afirmou o presidente da Agros -- União de Cooperativas de Produtores de Leite, em declarações à Lusa.

Para Idalino Leão, o que está em causa é a soberania alimentar do país, que recentemente foi posta à prova com a guerra na Ucrânia e com a pandemia de covid-19.

"Tudo o que produzirmos, significa que é algo que não vamos comprar fora, e isso significa riqueza que fica cá e gente que fica nos territórios rurais, tornando o território mais coeso e sustentável", sublinhou, ressalvando que, em determinados produtos, Portugal nunca será autossuficiente porque não tem condições para isso.

Este responsável classificou ainda a questão geracional como "o maior falhanço da PAC" (Política Agrícola Comum), lembrando que apenas 4% dos agricultores portugueses têm menos de 40 anos.

Neste sentido, defendeu ser necessário tornar a profissão de agricultor "socialmente reconhecida" e haver vontade política para que os diversos partidos e governantes assumam o papel que a agricultura desempenha.

O presidente da Agros disse que, por exemplo, o papel da agricultura no turismo ainda não é valorizado, apontando que Portugal tem patrimónios reconhecidos pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), cujos habitats são cuidados pelos agricultores e pelos seus animais, tornando-se um "chamariz", o que acaba por alavancar o PIB (Produto Interno Bruto).

"O setor agrícola precisa de previsibilidade para depois trazer a viabilidade económica porque não há nenhum jovem que queira vir para o setor, sem ganhar dinheiro", vincou.

Por outro lado, mostrou-se preocupado com "as tendências da PAC" relativamente à estratégia "Do Prado ao Prato" e ao Pacto Ecológico Europeu, assegurado que, a serem executadas como estão previstas por Bruxelas, a Europa segue no mau caminho.

A PAC, a ser aplicada como está, implica uma redução de 12% na produção europeia, que terá que ser compensada por outros blocos já em crescimento, como o asiático, o norte-americano e mesmo a América Latina.

"O que me faz confusão é a UE obrigar agricultores a um espartilho de regras ambientais e à legislação de bem-estar animal, quando, por outro lado, estamos a adquirir produtos destes mesmos blocos, que não cumprem estas regras, o que me parece hipocrisia", referiu.

Ainda assim espera haver abertura por parte da União Europeia para reverter esta situação, mesmo notando: Bruxelas "já nos habituou a reagir tarde".