A Guerra Mundo

Zelensky defende que cessar-fogo "não levará à paz"

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O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, defendeu hoje que um cessar-fogo na Ucrânia "não levará à paz", falando com o enviado especial do Papa Francisco a Kiev para mediar a paz com a Rússia, o cardeal italiano Matteo Zuppi.

"O chefe de Estado sublinhou que o cessar-fogo e a suspensão do conflito não levarão à instauração da paz", indicou a Presidência ucraniana num comunicado, no final da reunião entre o cardeal e Zelensky, que reafirmou que não aceitará qualquer cessar das hostilidades que não passe pela retirada russa do seu território.

"O inimigo aproveitaria uma pausa para reforçar os seus meios e lançar outra ofensiva", disse Zelensky, advertindo de que essa situação traria consigo "uma nova onda de crimes e terrorismo" por parte da Rússia.

Junto do enviado especial do Vaticano, o chefe de Estado ucraniano insistiu em que "a Rússia deve retirar, com todas as suas tropas, das fronteiras ucranianas internacionalmente reconhecidas".

Na reunião de hoje, Zelensky também condenou a destruição da Central Hidroelétrica de Nova Kajovka, no sul do país, que desencadeou uma catástrofe natural e humanitária na zona e está a obrigar à retirada de milhares de habitantes.

"Este crime representa enormes ameaças e terá graves consequências na vida das pessoas e no ambiente", declarou Zelensky, que abordou também com o cardeal Zuppi a situação humanitária na Ucrânia.

Segundo o próprio gabinete presidencial ucraniano, Zuppi transmitiu a Zelensky a solidariedade do Papa Francisco com o povo ucraniano, e o dirigente instou o Vaticano "a contribuir para a aplicação do plano de paz ucraniano", que inclui a recuperação por Kiev de todos os territórios ocupados por Moscovo desde que iniciou a ofensiva no país vizinho, a 24 de fevereiro de 2022.

Zelensky "frisou que só os esforços conjuntos, o isolamento diplomático e a pressão sobre a Rússia podem influenciar o agressor e trazer uma paz justa ao solo ucraniano", indicou a Presidência.

"O Presidente observou que o Vaticano pode dar um contributo eficaz para a libertação dos prisioneiros ucranianos, o regresso das crianças deportadas e a restauração da Justiça", acrescentou.

"Saudamos a predisposição de outros Estados e aliados para procurar caminhos para a paz, mas como a guerra continua a decorrer em território ucraniano, a fórmula para a paz só pode ser ucraniana", sustentou Zelensky, referindo-se ao plano para a paz apresentado por Kiev que impõe como condição a retirada total da Rússia dos territórios ucranianos.

A visita de dois dias do cardeal Zuppi a Kiev, que termina hoje, ocorre numa altura em que as forças ucranianas realizaram, nos últimos dias, uma série de "ações ofensivas" destinadas a testar as defesas russas e reivindicaram avanços junto da cidade devastada de Bakhmut, no leste do país. A Rússia afirma ter repelido todos esses ataques.

A invasão russa da Ucrânia dura há mais de 15 meses, e todas as iniciativas de paz entre as duas partes parecem condenadas ao fracasso, querendo Kiev e Moscovo resolver o conflito no campo de batalha, nesta fase.

A ofensiva militar causou até agora a fuga de mais de 14,7 milhões de pessoas -- 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 8,2 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Pelo menos 18 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.

Justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia, a invasão foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que hoje entrou no seu 468.º dia, 8.983 civis mortos e 15.442 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.