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Venezuelanos contestam falta de aumento do salário mínimo

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Foto EPA/MIGUEL GUTIERREZ

A falta de aumento no salário mínimo nacional provocou descontentamento em muitos venezuelanos, mesmo apoiantes do Governo de Nicolás Maduro, que se limitou a anunciar aumentos em vários subsídios no 1.º de Maio.

O Dia Internacional do Trabalhador costuma ser aproveitado para anunciar aumentos do salário mínimo na Venezuela, mas o executivo ficou-se por aumentos no subsídio de alimentação, que subiu para 40 dólares (36,36 euros), indexado, e no 'bónus de guerra', que aumentou para 30 dólares (27,27).

"Há mais de um ano que não há aumento do salário e o que foi anunciado é um aumento do Cestaticket (subsídio de alimentação) e do 'bónus de guerra', afirmou um oficial de segurança em declarações à Agência Lusa.

Miguel Pereira, 50 anos, pai de dois filhos, de 15 e 25 anos de idade, foi "apanhado de surpresa" com o anúncio.

"Vivemos dos momentos mais difíceis de sempre e os políticos, apesar de dizerem que representam o povo, continuam muito desligados da realidade. Cada vez temos de apertar mais o cinto e o que foi anunciado só pode interpretar-se como algo de mau gosto", disse.

Este venezuelano esperava um aumento dos salários, tanto no setor público como no privado e contou que para alimentar a família precisa de "pelo menos 100 dólares semanais, mais de 02 dólares diários para o transporte, sem incluir o vestuário, os materiais escolares e o colégio, e o seguro".

"Não houve aumento do salário, mas nos próximos dias veremos os preços a subir e ficaremos pior do que estávamos", desabafou, acrescentando que a mulher está atualmente em tratamento para um cancro, e que tem familiares que emigraram para fugirem da pobreza.

Argénis Monsalvez, simpatizante da revolução bolivariana, sofreu "um choque" quando ouvia os anúncios na televisão estatal venezuelana.

"Senti-me mais pobre. Não consigo entender que se diga que desapareceram milhões de dólares, em corrupção, das empresas do estado, e nunca há dinheiro para um aumento digno do salário", disse.

A trabalhar num café, sentiu hoje um "nó na garganta" quando um conhecido cliente lhe disse não ter dinheiro para lhe dar uma gorjeta, depois de trocar o café com leite grande por um café pequeno.

A imprensa venezuelana dá conta das queixas de vários cidadãos, entre eles Maria Alejandra Díaz, uma conhecida advogada, tida como afeta ao chavismo, que divulgou um vídeo reclamando pelo "engano total" aos trabalhadores.

"Não há um aumento do salário real. Primeiro diziam-nos que era por causa das sanções internacionais, agora a narrativa mudou e passou a ser a corrupção, ou seja, já não é o bloqueio, mas o saque do nosso país", afirma no vídeo.

Esta advogada reclama que mais de cinco milhões de reformados foram esquecidos e acusa o Governo de violar a Constituição, a Lei Orgânica do Trabalho e acabar com as convenções coletivas.

Segundo o economista e professor universitário Luís Oliveros, os anúncios estão a forçar "o venezuelano a dar-se de conta de que depender dos anúncios de Maduro o faz ser pobre".

A Confederação de Trabalhadores da Venezuela anunciou que vai convocar várias ações de protesto.

Na última segunda-feira, centenas de trabalhadores, simpatizantes e opositores do Governo venezuelano, marcharam em Caracas para assinalar o Dia Internacional do Trabalhador, na expectativa de um próximo aumento do salário mínimo nacional.

O Presidente Nicolás Maduro anunciou que os aumentos dos subsídios, apesar de serem pagos em bolívares, passam a ser referenciados em dólares e indexados ao valor cambial do dólar.

Em março de 2021, o Governo estabeleceu o salário mínimo dos venezuelanos em 130 bolívares, que na altura equivaliam a 29 dólares norte-americanos, mas que atualmente equivalem a 5,20 dólares (4,73 euros).

No setor privado, o salário mínimo mensal que os empresários pagam aos trabalhadores ronda atualmente os 60 dólares mensais (54,54 euros).

Vários sindicatos locais exigiam que o aumento do salário mínimo mensal dos venezuelanos fosse entre 100 e 150 dólares (90,90 e 136,35 euros).