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Venezuelanos realizaram 2.814 protestos para reivindicarem direitos

FOTO MIGUEL GUTIERREZ/EPA
FOTO MIGUEL GUTIERREZ/EPA

Os venezuelanos realizaram 2.814 protestos entre janeiro e março de 2023 para reivindicarem os seus direitos, 47% mais do que os 1.909 registados no primeiro trimestre de 2022, segundo dados divulgados hoje pelo Observatório de Conflitos Sociais (OVCS).

Os dados dão conta que em média foram registados 31 protestos diários, segundo o OVCS. "Os protestos pacíficos, nas suas diferentes modalidades, foram levados a cabo principalmente por trabalhadores ativos, reformados, pensionistas", explica-se no relatório "Protestos na Venezuela -- 1.º trimestre de 2023". Em janeiro de 2023 registaram-se 1.262 protestos, em fevereiro 762 e em março 790, acrescenta-se. Segundo o OVCS, "continua a tendência" de exigir direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, que atingiram 2.486 ações, 88% do total geral registado. "Passou um ano desde o último reajuste salarial. Nestes últimos doze meses, os trabalhadores foram submetidos à sobrevivência perante um Governo que não atende às reivindicações dos manifestantes", explica-se no relatório.

Segundo o OVCS "todos os dias, os cidadãos expressam a sua insatisfação com as precárias condições de vida resultantes de uma economia 'dolarizada', em cenários de corrupção e impunidade, em que as autoridades são indiferentes às necessidades básicas da população". "Os salários e as pensões são insuficientes e não garantem as condições mínimas para viver com dignidade. O último ajuste do salário mínimo foi fixado em 130 bolívares, o que corresponde a 5,4 dólares à taxa oficial do Banco Central da Venezuela", sublinha-se. O OVCS "registou a participação ativa de mulheres em pelo menos 2.473 protestos, 88% de todas as ações documentadas". "Os dados recolhidos demonstram a presença, liderança e participação das mulheres venezuelanas em todos os assuntos de interesse do país", sobretudo nos económicos, sociais e culturais, em que "tendem a ter um maior protagonismo na reivindicação de direitos", explica-se.

Segundo o relatório, "em março, em comemoração ao Dia da Mulher, foram realizadas mais de 60 grandes mobilizações a nível nacional, exigindo a erradicação de todos os tipos de violência e o direito à vida". "Foi o momento certo para dar visibilidade aos femicídios e continuar a denunciar a discriminação contra as mulheres", sublinha-se. No documento refere-se que o maior número de protestos no primeiro trimestre de 2023 registou-se no estado venezuelano de Bolívar, com 282, seguindo-se Anzoátegui (238), Mérida (225), Portuguesa (177), Táchira (177), Lara (170), Sucre (167), Miranda (155), Carabobo (149), Nueva Esparta (129), Barinas (116) e Falcón (102). Registaram-se também protestos em Trujillo (99), Arágua (87), Distrito Capital (85), Zúlia (70), Monágas (66), Yaracuy (65), Guárico (63), Delta Amacuro (47), Vargas (45), Apure (40), Cojedes (37) e Amazonas (23). "Cinquenta e seis protestos foram reprimidos em 18 estados do país, com 14 manifestantes detidos e um ferido", detalhou-se.

Por outro lado, profissionais da "educação realizaram pelo menos 1.714 protestos para denunciar as precárias condições de trabalho nas instituições de ensino venezuelanas, incluindo salários insuficientes, infraestruturas deterioradas e a violação dos seus direitos básicos". Segundo o OVCS "o colapso dos serviços básicos continuou a fazer parte das reivindicações dos cidadãos". Por outro lado, "os atos de corrupção, envolvendo funcionários públicos, geraram manifestações em todo o país". Os cidadãos "exigem justiça, o combate à impunidade" e que os recursos do Estado sejam utilizados para garantir uma vida digna aos venezuelanos". Registaram-se 23 protestos, em nove estados do país, denunciando violações dos Direitos Humanos por parte das forças de segurança do Estado. "Pais e representantes expressaram preocupação e condenaram as ameaças de porta-vozes do Governo de substituir professores por militantes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV, o partido do Governo) nas escolas".