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Ron DeSantis apresenta declaração de candidatura à presidência dos EUA

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Foto: SCOTT OLSON

O governador do Estado norte-americano da Florida, Ron DeSantis, apresentou hoje a declaração de candidatura às eleições presidenciais do próximo ano, entrando na corrida como o principal rival republicano de Donald Trump.

O republicano de 44 anos revelou a sua decisão num documento entregue à Comissão Eleitoral Federal, mesmo antes de uma conversa 'online' com o CEO (diretor executivo) da rede social Twitter, Elon Musk, que deverá ter início dentro de poucas horas.

DeSantis é considerado o rival republicano mais forte de Donald Trump, o ex-Presidente (2017-2021) que já anunciou a sua recandidatura contra o democrata e atual chefe de Estado Joe Biden nas eleições previstas para final de 2024.

Este passo marca um novo capítulo na sua trajetória de ascensão, desde congressista pouco conhecido a governador de dois mandatos, destacando-se ainda como uma figura importante nos debates do país sobre raça, género, aborto e outras questões polémicas.

A entrada de DeSantis na corrida republicana é alvo de rumores há meses, sendo considerado um dos candidatos mais fortes para tentar alcançar os objetivos do partido: derrotar o atual Presidente, Joe Biden, e voltar a ocupar a Casa Branca.

O líder democrata de 80 anos, segundo argumentam os republicanos, "empurrou o país muito para a esquerda", ao mesmo tempo em que falhou em lidar com a inflação, a imigração e a criminalidade.

O candidato escolhido para representar o partido republicano deverá enfrentar Biden nas eleições gerais de novembro de 2024.

Contudo, para representar os republicanos na disputa com Biden, DeSantis tem de derrotar primeiro Donald Trump - sendo que ambos têm muito em comum.

DeSantis, que contou com o apoio de Trump para chegar a governador da Florida, adotou a personalidade inflamada do ex-Presidente, as suas políticas populistas e até mesmo alguns de seus maneirismos e retórica.

No entanto, DeSantis tem algo a seu favor que Trump não tem: uma reivindicação confiável de que poderá ser mais elegível numa eleição geral do que o ex-Presidente, que enfrenta várias disputas legais e obteve derrotas republicanas em três eleições nacionais consecutivas.

Há apenas seis meses, DeSantis venceu a reeleição na Florida com uns impressionantes 19 pontos percentuais de vantagem sobre o seu adversário democrata, em contraciclo quando comparado com as dificuldades que vários republicanos enfrentaram nas intercalares do ano passado.

Ciente do potencial de DeSantis, Trump tem-se concentrado nos últimos meses, quase exclusivamente, em minar o apelo político do seu rival.

Trump e a sua equipa acreditam que DeSantis pode ser a única ameaça legítima do magnata à indicação republicana.

Contudo, os ataques de Trump não serão o único obstáculo para DeSantis.

O governador da Florida pode ser um "peso-pesado" político daquele Estado e uma presença regular no canal conservador Fox News, mas aliados reconhecem que a maioria dos eleitores das primárias em outros Estados não o conhece bem.

Nascido na Florida com raízes familiares no Midwest (centro-oeste), DeSantis estudou na Universidade de Yale, onde jogou basebol, tendo também passado pela Universidade de Harvard, instituição elitista formadora de juristas e políticos reconhecidos.

Alista-se na Marinha, que serviu como consultor jurídico, função que o levou ao Iraque e ao campo de detenção de Guantánamo.

Posteriormente, concorreu ao Congresso, em 2012, e ganhou um distrito na área de Orlando, tornando-se membro fundador do 'Freedom Caucus' de extrema-direita no Capitólio.

Apesar do seu longo currículo, amigos e adversários observam que DeSantis tem dificuldades em exibir o carisma de campanha e o pensamento rápido que muitas vezes define os candidatos bem-sucedidos a nível nacional.

O político fez de tudo para evitar aparições públicas improvisadas e escrutínio da imprensa enquanto governador, o que é difícil, se não impossível, como candidato presidencial.

Os possíveis apoiantes também temem que DeSantis se tenha recusado a investir em relacionamentos com líderes partidários ou colegas eleitos, levantando questões sobre a sua capacidade de construir a coligação de que precisará para vencer Trump.

Por outro lado, Trump já conseguiu um forte apoio em Estados-chave, incluindo a Florida.

Além das primárias, o maior desafio de longo prazo de DeSantis pode estar nas políticas de extrema-direita que ele promulgou como governador.

Enquanto governador da Florida, enviou dezenas de imigrantes do Texas para Martha's Vineyard, na costa de Massachusetts, para chamar a atenção para o fluxo de imigrantes latino-americanos que tentam cruzar a fronteira EUA-México.

Também assinou e expandiu o projeto de lei dos Direitos dos Pais na Educação -- conhecido pelos críticos como a lei "Don't Say Gay", que proíbe a instrução ou discussão em sala de aula de questões ligadas à temática LGBTQ (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgénero) nas escolas públicas da Florida para todas as idades.

Mais recentemente, DeSantis assinou uma lei que proíbe as grávidas da Florida de abortarem após as seis semanas de gestação.

Removeu ainda um procurador eleito que prometeu não acusar pessoas sob as novas restrições ao aborto da Florida ou médicos que prestassem cuidados de afirmação de género.

DeSantis também assinou uma lei este ano que permite que os residentes da Florida tenham posse de uma arma de fogo não registada e pressionou para a adoção de medidas que, segundo especialistas, irão enfraquecer a liberdade de imprensa.

A luta política de maior destaque do governador, no entanto, veio contra a gigante do entretenimento Disney, com sede na Florida, que se opôs publicamente à sua lei "Don't Say Gay".

Em retaliação, DeSantis assumiu o controlo do corpo diretivo da Disney World e designou gestores públicos que ameaçam assumir o planeamento do parque, entre outras medidas extraordinárias.

O próprio DeSantis ameaçou construir uma prisão estadual na propriedade do parque.

DeSantis entra hoje oficialmente numa corrida que já inclui, além de Trump, a ex-embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU Nikki Haley; o senador da Carolina do Sul, Tim Scott; o ex-governador do Arkansas, Asa Hutchinson; e o empresário de biotecnologia Vivek Ramaswamy.

O ex-vice-presidente Mike Pence também é considerado um provável candidato presidencial, mas ainda não anunciou uma candidatura.