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"É uma ilusão achar que se pode ser importante sem pagar um preço", avisa Marcelo

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O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, reiterou hoje a mensagem de que o poder implica responsabilidade e afirmou que "é uma ilusão achar que se pode ser importante sem pagar um preço".

O chefe de Estado falava no Palácio de Belém, em Lisboa, num discurso em que fez comparações entre o desporto, a economia e a política, durante uma receção à seleção portuguesa de andebol em cadeira de rodas campeã europeia e mundial.

"É uma ilusão achar que se pode ser importante sem pagar um preço, que se pode ter poder sem ter responsabilidade, isso não existe. Também no vosso caso é assim. Sabem que o vosso preço, a vossa responsabilidade é o que se deixam de fazer, não fazem da mesma maneira para poderem chegar onde chegaram", declarou Marcelo Rebelo de Sousa.

A ideia de que o poder implica responsabilidade foi central no discurso que o Presidente da República fez em 04 de maio, manifestando a sua oposição à manutenção de João Galamba como ministro das Infraestruturas.

Hoje, perante os atletas e dirigentes da seleção de andebol em cadeira de rodas Federação Portuguesa de Andebol, o Presidente da República considerou que "o mais difícil é formar-se equipa, é criar-se espírito de corpo, é atuar como equipa" e falou dos "altos e baixos" que há tanto no desporto como economia e na política, em que "os ciclos não são iguais".

"Isso passa-se em tudo no país. Na economia, temos números ótimos em termos de certas matérias fundamentais para a vida dos portugueses, e depois temos problemas que não são tão ótimos no dia a dia dos portugueses, porque as coisas não são simultâneas", disse, retomando uma análise que tem feito nos últimos dias sobre a situação económica nacional.

O Presidente da República acrescentou que "é preciso que um ciclo suba para que o outro suba, e às vezes quando o outro está a subir, começa o primeiro a descer".

"Os números bons, grandes, subiram, chegam às pessoas, durante um tempo estão com as pessoas, coincidem os ciclos. Depois, de repente, as pessoas ainda estão a sentir um ciclo positivo, no entanto qualquer coisa lá fora ou cá dentro faz com que o ciclo geral não seja tão bom", exemplificou.

Marcelo Rebelo de Sousa referiu ainda que quem está no desporto, assim como na economia, na política e na sociedade em geral, está constantemente sujeito a comparações e confrontos com outros, com jogos a eliminar, de "mata-mata", vitórias e derrotas.

"No desporto as comparações são diárias. Se quiserem, no desporto há eleições, não direi todos os dias ou todas as semanas, mas com uma periodicidade superior às eleições políticas, e portanto todos os jogos são mata-mata, quase todos, mesmo os que não eram, passam a ser -- na expressão do Scolari -- mata-mata. Ganham é uma coisa, perdem é outra coisa. Acumula vitórias é uma coisa, falta uma deixa de ser isso", disse.

Nesta ocasião, o Presidente da República condecorou a Federação Portuguesa de Andebol com o título de membro honorário da Ordem do Mérito e prometeu mais tarde distinguir individualmente os elementos da seleção de andebol em cadeira de rodas que em novembro do ano passado se sagrou campeã europeia e mundial.

No fim desta cerimónia na Sala das Bicas do Palácio de Belém, o chefe de Estado tirou várias fotografias ao lado dos atletas e dirigentes da seleção e da federação de andebol e aproximou-se dos jornalistas para fazer uma 'selfie' com um telemóvel, mas logo depois afastou-se.

A comunicação social tentou perguntar-lhe pela audição de hoje do ministro das Infraestruturas, João Galamba, na Comissão Parlamentar de Inquérito à Tutela Política da Gestão da TAP, marcada para as 17:00, mas Marcelo Rebelo de Sousa saiu da sala sem prestar declarações aos jornalistas.

Na comunicação que fez ao país em 04 de maio, o Presidente da República resumiu os incidentes entre o gabinete de João Galamba e o seu ex-adjunto Frederico Pinheiro como "um momento em que a responsabilidade dos governantes não foi assumida como deveria ter sido com a exoneração do ministro das Infraestruturas".

O chefe de Estado assumiu ter uma "divergência de fundo" com o primeiro-ministro, António Costa, quanto à manutenção de João Galamba como ministro -- em relação à qual já tinha manifestado publicamente a sua oposição na véspera, através de uma nota escrita.

Marcelo Rebelo de Sousa argumentou que "onde não há responsabilidade, na política como na administração, não há autoridade, respeito, confiança, credibilidade" e que "um governante sabe que ao aceitar sê-lo aceita ser responsável por aquilo que faz e não faz, e também por aquilo que fazem ou não fazem aqueles que escolhe, e nos quais é suposto mandar".