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Onde andam as explicações?

Ninguém duvida que vivemos num país que tem condições para crescer e dar um futuro digno aos seus cidadãos. Fruto da sua posição geográfica privilegiada, da qualidade reconhecida dos serviços que presta em várias áreas, do alcance global da sua língua, da capacidade de trabalho dos seus cidadãos, da beleza do seu território, da vastidão da sua área marítima e da localização-chave de que usufrui na intersecção de várias rotas comerciais, Portugal tem os factores e os recursos que precisa para ser uma nação próspera, pautada pela sustentabilidade da economia, pelas boas práticas das indústrias e, não menos importante, pela satisfação dos cidadãos e daqueles que aqui escolheram ganhar a vida de forma honesta.

No entanto, é também claro para todos – especialmente para aqueles que têm a coragem de andar nas ruas e ouvir a população, não se acobardando nos corredores do poder, nos pequenos círculos de certas instituições, no conforto de grupos de ‘amigos’ que pensam todos da mesma forma ou na covardia do anonimato de um teclado de computador – que algo de muito mal se passa no país e que, à custa desse mal, nos transformamos numa sociedade que não gosta do que vê no presente, sente pouco orgulho no seu passado e tem pouca esperança no que lhe reserva o futuro. Mesmo assim, as explicações para o pântano político que nos rebaixa, desilude e asfixia não são difíceis de encontrar.

Encontramo-las num Estado que, em praticamente todas as suas vertentes (Administração Pública, Segurança Social, Saúde, Ensino, Justiça e outras) se tornou inconcebivelmente extenso, propositadamente complexo, obcecadamente preocupado em se justificar a si próprio e que, graças ao seu crescimento imparável, virou as costas às pessoas a quem deveria servir, respeitar e honrar.

Encontramo-las numa burocracia que favorece alguns, dificulta a vida de quase todos e transformou o quotidiano de tantos portugueses de bem que querem viver, trabalhar, investir e criar riqueza no seu próprio país num autêntico calvário, que poderia ser perfeitamente evitado.

Encontramo-las em alguns influentes ‘intelectuais’ e noutras tantas cabeças ‘bem-pensantes’ que, com o consentimento de certas personalidades que se especializaram na veneração ideológica, procuram reescrever a História, rever os Valores que nos orientam há séculos e converter as escolas e as crianças em experiências sociológicas, onde vale tudo, desde a sexualização ignóbil e precoce ao desrespeito pela Vida, pela Pátria e pelos mais velhos.

Encontramo-las num Estado que gastou (e que continua a gastar) demais, que se enquistou à volta de interesses muito poderosos e que, voltado cada vez mais para dentro de si próprio, tem gerido os processos de decisão e a própria Justiça de maneira a servir os grupos económicos que estão pendurados nas máquinas partidárias e nos vários orçamentos de Estado.

Encontramo-las nos grandes que exploram descaradamente os pequenos, enquanto certa classe política, em vez de os defender, protege os grandes e torce as regras do jogo em seu favor, pois ainda são demasiados os que pensam que os contribuintes só existem para pagar os enormes buracos que a má gestão tem criado na banca, na TAP, na CP e em tantas instituições públicas, totalmente poluídas pelo compadrio e pelo amiguismo.

Porque muita da classe política que nos tem governado nas última décadas permitiu a continuação dos abusos, não fez os cortes necessários, reduziu os rendimentos, aumentou os impostos, esmagou o poder de compra e alimentou a proliferação de redes asfixiantes de nepotismo e corrupção, não é surpresa a raiva latente que ferve na população contra essa gentinha que tem andado ocupada a distribuir benesses para ser reeleita e servir a si mesma e aos amigos, sem cuidar do Bem Geral nem do futuro de todos nós.

Cientes disso, cabe a nós perceber que é mais do que tempo de devolver o poder a quem é honesto, a quem cumpre as obrigações e a quem anda a pagar os infindáveis privilégios de que gozam aqueles que não governam para nós. Aliás, é mais do que tempo de forçar o poder político a reorientar-se e a decidir em prol das pessoas, em ver de se governar a si e a alguns privilegiados do sistema. Que não nos esqueçamos disso. E que façamos sentir o justo peso da nossa mão quando o momento certo chegar. Sem dúvida alguma, esse momento há de chegar.