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O avarento e a pobre viúva *

A pobre viúva, porém, negava ter tirado o que quer que fosse. A pobre mulher entregou a bolsa tal como a encontrou

Quem tudo quer, tudo perde.

Um mercador muito rico e avarento, no final de uma feira, dirigia-se para casa, quando apanhou um grande desgosto ao dar conta que tinha perdido a bolsa com 400 cruzados de ouro. O mercador correu ao duque da cidade, equivalente ao presidente da Câmara, pediu que anunciasse a perda e prometeu que daria 40 cruzados a quem encontrasse a bolsa.

A artimanha do mercador

Algum tempo depois, uma pobre viúva encontrou a bolsa e, mesmo sem saber o seu conteúdo, entregou-a ao duque. De imediato, deram notícia ao avarento, que pulou de alegria, mas pensou logo num estratagema para nada pagar à viúva.

Na presença do duque e da viúva, o avarento disse que além dos 400 cruzados a bolsa continha mais 40 escudos venezianos, que já não se encontravam na bolsa. O mercador queria, assim, dar a entender que a viúva teria ficado com eles, nada teria que pagar de recompensa, como tinha prometido. A pobre viúva, porém, negava ter tirado o que quer que fosse. A pobre mulher entregou a bolsa tal como a encontrou.

A sentença do duque

O duque, porém, percebendo a manha do mercador avarento, disse: A bolsa que a viúva encontrou apenas continha 400 cruzados. Portanto, esta não é a bolsa que o mercador perdeu.

Dirigindo-se à viúva, o duque entregou-lhe a bolsa, era sua propriedade porque a tinha achado. Dirigindo-se ao mercador, o duque disse que continuasse à espera que alguém encontre a sua bolsa com os 400 cruzados de ouro mais 40 escudos venezianos.

O mercador avarento ficou cego e mudo de fúria consigo próprio, quis ficar com tudo, mas tudo perdeu. É caso para relembrar o ditado:

A ganância do dinheiro

dos outros não quer saber,

quem tudo para si quer,

a alma acaba por perder.

* Baseado num conto de Teófilo Braga in Contos Tradicionais do Povo Português, tomo II, Publicação D. Quixote, 1995