Crónicas

O VAR em cima da ponte

Não me cabe a mim fazer juízos de valor ou de honorabilidade de um determinado sujeito

1. E de repente (ou talvez não…) uma névoa cinzenta volta a pairar sobre o futebol português. Para quem achava que o vídeo árbitro vinha resolver todos os males e tirar todas as dúvidas ou suspeitas que recaiam sobre a arbitragem, eis que várias situações recentes acabam por provar o contrário. Tudo parece manter-se na mesma, o poder apenas mudou de mãos e se as novas tecnologias (que são bem vindas), pareciam à partida conseguir mitigar ações incompreensíveis a que fomos assistindo nos nossos relvados, percebemos agora que as mesmas se revelam infrutíferas, perante a mão humana. Com uma agravante, delegámos a determinação de um lance a pessoas que se escondem atrás das câmaras, no conforto da sua cadeira, sem dar a cara e sem as sujeitarmos ao natural escrutínio. Um árbitro agora, na dúvida e seguindo o protocolo, deixa rolar e entrega a responsabilidade aos senhores que analisam os lances através de um televisor. Quando achávamos que várias repetições e ângulos de um lance à vista de todos não deixariam corredor para tamanha lata, damos conta que ainda assim há quem não tenha um pingo de vergonha ou a mínima capacidade de análise.

Não me cabe a mim fazer juízos de valor ou de honorabilidade de um determinado sujeito, não tenho conhecimento de causa para isso, nem quero pensar que alguém vindo de uma associação de futebol específica, decide consoante a sua cor clubista ou algum tipo de pressão exercida por forças estranhas que há muito tempo contaminam o futebol português. Por isso prefiro chamar-lhe apenas incompetência. O árbitro Fábio Melo useiro e vezeiro em erros grosseiros, daqueles que estão à vista de todos, é por isso incompetente e não pode continuar a passear a sua incompetência na nossa Liga. Já havia feito das suas num jogo do Benfica com o Moreirense e mais recentemente na não reversão de um penálti e de uma expulsão, prejudicando de forma escandalosa o Marítimo num jogo em casa com o Casa Pia. No jogo do Benfica em Braga, que determinou a saída do clube encarnado da Taça, fez vista grossa a um penálti, daqueles que ninguém tem dúvidas e nem sequer chamou o árbitro para que formulasse a sua própria análise.

É bom que comecemos a perceber se o que antes era visto como uma evidente pressão e coação aos árbitros, não estará agora a condicionar o VAR e com isto a colocar-lhes óculos de Alcanena em certos jogos ou lances. Não nos distraiamos muito em analisar o trabalho de quem dá a cara sem começar a chamar quem está na cidade do futebol à colação. Se um treinador ou um jogador são punidos pelos seus atos e pela sua incompetência, bem como os homens do apito, é bom que comecemos a ter o mesmo grau de exigência para quem, com todas as condições de visualização de imagens insiste ainda assim no erro, sem que para isso exista qualquer explicação. Que se tomem medidas e se punam os que colocam o VAR sob uma ponte de papel…

1. Por falar em ponte, a nova assessora de Inovação da Ministra do Trabalho veio há dias propor uma invasão à Ponte 25 de Abril para resolver os evidentes problemas na habitação em que nos vemos mergulhados. Começa muito mal Inês Franco Alexandre. Primeiro porque esta ação não configura inovação absolutamente nenhuma, todos nós nos recordamos do celebre buzinão na ponte, em protesto contra os preços dos combustíveis, que ditou o princípio do fim do cavaquismo, já lá vão mais de 25 anos, mas também porque não se espera de alguém que pertence aos quadros do governo uma atitude de ativismo irresponsável mas sim a procura de soluções e o encontro de medidas concretas para a resolução dos problemas. O que me parece verdadeiramente inovador e digno de nota pela gravidade, é que aproveite uma entrevista já na qualidade de assessora, como a própria o afirma, para promover uma marca (Decathlon) para a qual trabalhou num passado recente.

Por isso se tinha dúvidas se esta seria “a sua praia”, como a própria se questiona a determinado momento, eu daqui lhe digo claramente que não. Se não consegue perceber a importância do cargo que ocupa e o dever de responsabilidade e de recato, como forma de prestigiar o Governo, o melhor mesmo é que regresse ao seu habitat natural, de ativismo social e aí, como tem sido apanágio no nosso país, tudo ou quase tudo lhe será permitido sem que daí venha algum mal ao mundo. Não me cabe a mim colocar um peso excessivo sobre uma jovem com um futuro inteiro pela frente, que como todos nós está sujeita ao erro. Mas é por demais evidente a forma leviana como vamos chamando para nos representar e para guiar os nossos destinos, pessoas que pouco ou nada têm a ideia do cargo que ocupam e do seu grau de exigência.

Um caso evidente de suicídio político ou de salto sem rede com a particularidade de ter escolhido por coincidência a ponte 25 de Abril, palco de tantas tragédias que se sucedem ano após ano sem que disso tenhamos muitas vezes noção. O mínimo de noção é o que se pede a quem assume certo tipo de cargos. Será pedir muito?