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Subsidiodependência

Embora correndo o risco de me repetir, porque já o referi várias vezes nestas páginas, volto ao tema que traz todo o Mundo apreensivo, a inflação. O papel do Governo é governar, o papel da oposição é contestar e o papel dos grupos económicos é controlar uns e outros. Desengane-se quem julga que o Governo pode controlar a inflação, quando muito limita-se a subsidiar as famílias e as empresas, pois os salários e os lucros das PME serão sempre engolidos pelo alto custo de vida. Por sua vez o Estado, para fazer frente a degradação económica, é obrigado a aumentar a dívida pública junto dos grandes grupos económicos, ou seja, a Banca.

A inflação e a subsidiodependência vieram para ficar para que toda a economia gire à volta dos empréstimos financeiros e respetivos juros.

Basta puxar um pouco pelos neurónios e perceber que se todos os países são devedores, alguém emprestou o dinheiro ou forneceu a crédito. Com um pequeno exercício mental simples constatamos que todos os países da UE são contribuintes líquidos para os fundos da mesma. Mas, paradoxalmente, todos estes países são devedores à UE o que era suposto, por força das dívidas, os cofres da EU estarem depauperados financeiramente. Todavia a UE derrama um PRR de 16.644 milhões de euros na economia dos países seus contribuintes/devedores, para colmatar os efeitos da crise pandémica, sendo 13.944 milhões a fundo perdido. Assim, pela lógica, a UE não teria riqueza que lhe permitisse cunhar moeda ou está a fazê-lo sem sustentabilidade baseado no PIB ou então a “estória” da economia está muito mal contada com contornos inexplicáveis, quiçá maquiavélicos para enganar papalvos. Os doutorados em economia e finanças dir-me-ão que isto não funciona bem assim e já não é composta pelo simples deve/haver que aprendemos nos bancos da escola. Pois bem, então inventem uma formula mais simples de nos explicar porque afinal quem mexe com toda a economia, simples ou complexa, produto dos muitos milhões, somos todos nós, pobres contribuintes.

Na verdade, estamos a chegar a um ponto sem retorno em que, ou os governos serão obrigados a subsidiar tudo o que mexe ou a economia dos países, simplesmente, estagna. Isto tornou-se uma regra estrutural mundial que ao menor desequilíbrio sócio/económico a economia corre o risco de desmoronar-se e terá que ser reinventada outra fórmula, quem sabe, o dinheiro eletrónico mas que já será baseada noutra fórmula que não o deve/haver. A pandemia Covid 19 e a guerra na Ucrânia vieram simplesmente mostrar, com alguma antecedência, o que há muito era sabido, a fragilidade do tecido económico mundial onde os países mais abastados estão dependentes uns dos outros e os mais pobres dependentes das migalhas que sobram da mesa dos ricos para conseguirem sobreviver. A ganância pelo dinheiro e pela supremacia do poder está chegando a um ponto sem retorno e o Mundo ameaça tornar-se ingovernável. Não sou pessimista, sou observador dos factos.

A economia está montada de modo a que todos os países sejam controlados por ela.

Segundo noticiou a CNN business, no final de 2021, 10% dos mais ricos controlam 76% da riqueza global, 50% dos mais pobres possuem apenas 2% e 40% da classe média detêm os restantes 22%, sendo que, só em 2020 à custa da pandemia Covid 19, a fortuna líquida de, só um, desses grupos económicos cresceu 3.6 triliões de dólares. Ora só um cego não vê que isto que a desigualdade é tal que jamais poderá ser uma economia sustentável. Aos próprio governos convém fechar os olhos porque já não conseguem ter mão nisto.

É recorrente que o governo português já aventou a hipótese de vir a taxar os lucros extraordinários das empresas mas isso está a tornar-se muito controverso entre partidos da oposição, e as associações empresariais também não concordam porque numa economia tão fortemente dependente do Estado ninguém consegue avançar uma solução para resolver esta asfixia financeira.

Até um simples projeto técnico/empresarial tem que ser co-financiado ou avalizado pelo Governo, pois os empreendedores, por si só, nem teriam hipótese de suportar os custos tão elevados desses projetos. O Estado passou a ser o “patrão” de tudo e de todos; adjudicações, concursos públicos e os indispensáveis apoios para tudo, daí que a própria democracia corre um sério risco quando, cidadãos e empresas se tornam subsidiodependentes do Estado.