Crónicas

Ainda a segurança

1. Disco: “(self-titled)”, de Marcus Mumford, dispensa palavras. Começa assim: “I can still taste you and I hate it” [“Ainda posso sentir o teu gosto e odeio-o”]. Depois é ir por ali abaixo e desfrutar cada acorde, cada palavra.

2. Livro: Richard Ovenden é um académico e, na Universidade de Oxford, é o bibliotecário responsável pela Biblioteca Bodleiana, uma das melhores do mundo. “Queimar Livros” é para degustar por quem os ama. Capítulo a capítulo vamos sentindo um vazio, conforme somos confrontados com bibliotecas queimadas, livros mandados destruir pelos autores antes de fruídos, descuido e falta de cuidado. Ficar sabedor de tanto saber que desapareceu é fazer-nos partilhar um peso.

3. Ouvi, na semana passada, Pedro Calado, o “sempre à frente”, Presidente da Câmara do Funchal, dizer que, se pudesse, chamava as Forças Armadas para combater a insegurança no Funchal. Conduzia. Tive que parar o carro e ligar os quatro piscas, tão abismado fiquei. Numa assentada, reconhece o problema da insegurança e diz mais uma alarvidade, ao nível da citação de Mandela.

Calado sabe, porque o disse a seguir, que não compete às FA o assegurar a segurança interna, a não ser durante o Estado de Sítio ou de Emergência. Sabe disso, mas aceita que se o deveria poder fazer.

Atesta a enormidade do problema e “acha” que o mesmo se vai resolver com mais polícia na rua, com repressão. Se reuniu com alguém da polícia, e estou crente que a CMF o faz com a PSP com regularidade, está careca de saber que não há agentes em número suficiente. A carreira não é atractiva, nem bem paga.

Está-se mesmo a ver como isto vai acabar. Calado espera pela reunião com o Ministro da Administração Interna, que lhe vai dizer que não tem mais agentes para mandar para o Funchal. E abre-se assim a porta para que, como sempre, se culpe Lisboa por isso. Ou não vivêssemos numa terra onde ninguém assume as suas responsabilidades, pois a culpa é sempre dos outros.

Pedro Calado de parvo não tem nada. É míope porque sabe que é breve e não vai deixar marca nenhuma.

As Forças Armadas Portuguesas são uma instituição do estado à qual compete garantir a soberania nacional, a unidade do Estado e a integridade do território. O “estado a que chegámos”, por culpa de quem persiste em não ouvir, não põe em causa nenhuma das competências incumbidas às FA.

Esta questão da segurança vai-nos fazer passar “as passas do Algarve”. Vai demorar anos a ser resolvida e ao invés de usarmos esse tempo para, multidisciplinarmente, criarmos as bases de uma efectiva resolução do problema, o que fazemos é cruzar os braços e arrotar bitaites.

Ainda a semana passada aqui escrevi sobre a insegurança na cidade-capital. Sugerindo linha de rumo, pensada a médio/longo prazo. Mas o edil funchalense não consegue perspectivar o futuro. “Acha” que o importante é o imediato. O “achismo” não permite ver o longe.

Faz uns muros e uns portões, empareda umas casas abandonadas, escorraçando o problema de um sítio para o outro. Ir ao fundo, às verdadeiras razões, é trabalho para mais de quatro anos. E é esse o horizonte da esmagadora maioria dos agentes políticos que temos. Aqui há uns bons 20 e poucos anos, figura grada do “regime” dizia-me, com toda a desfaçatez, e a propósito das obras das diferentes Sociedades de Desenvolvimento, que o problema do pagar só se punha lá mais para a frente, e que quem governasse na altura que o resolvesse.

É isto o que temos, foi isto que escolhemos.

4. Há no xadrez um formato de jogo, muito apropriadamente, chamado Armageddon, usado para desempatar partidas que não chegam a resultados definitivos, após outras opções de desempate terem sido tentadas. Uma espécie de morte súbita.

No Armageddon, quem joga com as brancas tem cinco minutos para decidir os seus movimentos, enquanto quem joga com as pretas tem quatro. Teoricamente, esta é uma enorme vantagem… mas as brancas precisam ganhar o Armageddon para ganhar a partida. Um empate dá o jogo para às pretas.

Este cenário lembra o que acontece na Ucrânia. A Rússia de Putin “joga” com as brancas, tem mais um minuto que as pretas para fazer o seu jogo, e tem de o ganhar. As pretas são manobradas pelos ucranianos, a quem basta um empate.

Os serviços mínimos para Putin são a ocupação e manutenção de todo o Donbass. Todo. O empate, para a Ucrânia, é impedir que isso aconteça, o que lhe dará a vitória.

Com o discurso da passada semana, Putin anuncia que vai “pôr a carne quase toda no assador”. Mobilização parcial dos reservistas - que levarão dois a três meses a chegar à frente de combate -, apoio aos referendos anunciados, ameaça de se defender de um ataque nuclear - como se alguém o tivesse intimidado com isso e não fosse precisamente o oposto que aconteceu.

Como todos os “bullys” apressou-se a dizer que não fazia “bluff”, que falava a sério. A doutrina nuclear russa anda ao sabor das conveniências do Sr. do Kremlin.

Depois veio Shoigu, o Ministro da Defesa. O discurso chegou a ser patético, quando anunciou que já tinham sido mortos mais de 100 mil militares ucranianos e que a Rússia só tinha perdido 6 mil homens. Mas, apesar disso, precisa de mais 300 mil.

É óbvio que isto representa uma escalada na guerra que opõe Putin, e os seus sequazes, à Ucrânia. Não há como desdizê-lo. Mas tenhamos em conta que a Rússia já pôs no terreno tudo o que de melhor tem.

Outro factor a ter em conta tem a ver com as suas Forças Armadas serem um antro de corrupção. Tropas mal treinadas, armamento deficiente e com falta de manutenção, materiais de 3.ª qualidade, um exército digno de uma república das bananas do terceiro mundo. Vale pela quantidade e zero pela qualidade.

A Rússia de Putin, que devemos continuar a distinguir da Rússia dos russos, meteu-se numa camisa de forças, da qual não sabe como sair. O presidente russo e os restantes cleptocratas que o rodeiam, já perderam a guerra. E ninguém tem coragem de lhes dizer isso.

5. Tenho 5G no meu telemóvel. Levei o reforço do reforço do COVID e a vacina da gripe. Ainda me falta a da pneumonia. Achei por bem vacinar-me, não fosse o 5G fazer com que apanhasse, pela terceira vez, o vírus chinês.

Como as ondas do 5G são iguais às do micro-ondas, vendi o que tinha em casa e agora aqueço o leite pondo o telemóvel dentro do copo. Demora é um pouco a aquecer.

“Acho” que tenho hipersensibilidade e sou afetado negativamente por frequências eletromagnéticas. Vou a almoçaradas com os amigos, que se prolongam pela tarde e noite dentro, e no dia seguinte tenho dores de cabeça, cansaço e náuseas. Sempre fui assim. Até nos anos 80, quando só tinha telefone fixo em casa. O chamado 0G.

Como ainda não temos 5G em todo o lado, sempre que saio de uma zona de 4G, ou a ela retorno, dou um arroto. Pareço a Menina Felisberta do fundo da rua quando me tira o olhado. Nunca vi ninguém arrotar tanto e tão alto como ela. Diz que é devido ao “olho gordo” que levo em cima de mim. Que nunca viu igual.

Com o 3G eram soluços.

Voltando às vacinas, tirando um ataque de autismo que tive no dia em que levei o reforço do reforço, tem corrido tudo bem. Ouço com frequência na minha cabeça o Bill Gates a dar-me conselhos de compra e venda de acções. Já tentei orientar o chip, que vem com o líquido da vacina, para que lhe possa responder. Só para ver se ele não quer investir algum em mim. Assim já podia seguir o que me propõe.

Uma coisa porreira que a vacina tem, é que nos torna magnéticos. Já posso “colar-me” na porta do frigorífico. Com este calor e humidade, não imaginam o fresquinho que é.

Por hoje fico-me por aqui. Já ouço o Sr. Gates a me chamar.

6. Os meus amigos que levam muito a sério o que vai escrito, que me desculpem o ponto anterior. É só uma falhada, para eles, tentativa de fazer humor.