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Consórcio europeu apresenta conceito de central energética de fusão nuclear

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O consórcio europeu EUROfusion vai apresentar hoje, em Bruxelas, o projeto de uma central de demonstração de energia de fusão nuclear, a DEMO, que deve entrar em funcionamento em meados deste século.

"Este dispositivo único de fusão nuclear, primeiro do seu tipo, entrará em funcionamento em torno da metade deste século e demonstrará a produção de 300MW a 500 MW [megawatts] de eletricidade gerada por fusão nuclear, uma energia limpa e segura, e a sua ligação à rede", refere um comunicado do consórcio europeu sobre a nova central.

Esta terça-feira, o EUROfusion, consórcio europeu de investigação em energia de fusão nuclear, "irá anunciar o início das atividades de desenho conceptual para a primeira central Europeia de demonstração de energia de fusão nuclear", assim como o seu plano de investigação, que permitirá à experiência mundial de fusão ITER [reator de fusão nuclear a ser construído em França], um início de operação promissor".

"A fusão é o processo que alimenta estrelas como o nosso sol e promete uma fonte de energia limpa inerentemente segura e quase ilimitada a longo prazo aqui na Terra. A energia de fusão gerará imensas quantidades de energia a partir de poucos gramas de combustíveis abundantes encontrados em todo o mundo", lê-se no comunicado do EUROfusion.

A fusão nuclear - a junção de núcleos de átomos - é o processo inverso ao que está na base dos atuais reatores nucleares, a fissão nuclear - a separação de núcleos atómicos de elementos radioativos.

Cientistas do Reino Unido afirmaram no início de fevereiro que a produção de energia de fusão nuclear está em níveis nunca antes registados, um passo para a operacionalização do maior reator do mundo, em França.

Uma equipa do reator experimental de fusão Joint European Torus (JET), localizado perto de Oxford, gerou, em dezembro de 2021, 59 megajoules de energia de fusão nuclear em cinco segundos, mais do dobro do último recorde, atingido em 1997, segundo a Autoridade de Energia Atómica do Reino Unido.

Este teste, que contou com investigadores europeus, incluindo portugueses, visa preparar a operacionalização do maior reator de fusão nuclear experimental do mundo, que está a ser construído em França.

Os resultados "são a demonstração mais clara do potencial da fusão para fornecer energia sustentável", apontou, em comunicado, a Autoridade de Energia Nuclear.

Cerca de 350 cientistas da União Europeia, Reino Unido, Suíça e Ucrânia participam, todos os anos, nos testes realizados no reator de fusão do JET.

O processo de fusão nuclear acontece quando os isótopos de hidrogénio deutério e trítio encapsulados são aquecidos, por campos magnéticos muito potentes, a uma temperatura 10 vezes superior à do centro do sol para criar plasma, estado da matéria em que os núcleos atómicos de hidrogénio colidem e se fundem em átomos de hélio mais pesados, libertando grandes quantidades de energia sem radiação.

A fusão nuclear tem uma capacidade energética quatro milhões de vezes superior à do carvão, petróleo ou gás.

O ITER estará preparado para produzir 500 megawatts por períodos de 400 a 600 segundos, devendo começar a funcionar, numa primeira etapa, entre 2026 e 2027.

O desafio dos investigadores é conseguirem criar um reator que consiga obter uma reação de fusão sustentada.

Portugal participa no EUROfusion -- consórcio que apoia diretamente a experiência do ITER -- através do Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico, que tem o estatuto de Laboratório Associado.