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Encher balões os balões da vida…

Os cotas já são nada para um jovem para quem 2010 já foi há bué (será que ainda dizem “bué?)

É comum dizer-se, ou fazer crer, que a vida é uma festa e que deve ser assim encarada (se bem que de festa muitas vezes não tenha nada). Mas aceitemos que sim.

Nas festas há, habitualmente, balões!

Para podermos festejar condignamente, é preciso que os balões estejam cheios de ar (ou hélio, para melhor flutuarem). Mas fiquemo-nos pelo ar.

E, se é a vida uma festa, temos de a ir enchendo de balões festivos e garridos nas formas e cores, cheios de ar, com o ar que ainda vamos podendo respirar.

Suponhamos então que temos um balão, e que o vamos enchendo a cada expiração. Expira, enche um pouco, veda o bucal, inspira, abre o bucal e expira mais um pouco, enchendo-o aos poucos, com cuidado para não rebentar. Lá vem uma vez em que por brincadeira, desaperta um pouco o bucal deixando sair um pouco de ar em forma de assobio mais ou menos estridente para que a festa se torne mais alegre e divertida, como se quer que sejam as festas.

Sendo frágil como a vida, há que ter cuidado com os espinhos e arestas que podem provocar furos que, se não tapados a tempo, podem fazer esvaziar abruptamente o balão ou até fazer com que estoure com estrondo. Às vezes ainda há tempo de o substituir e recomeçar o enchimento de outro, outras vezes esse tempo não existe e fica, tal como a vida, terminada a festa que o balão ajudava a colorir.

Enquanto vamos enchendo o balão da festa da vida, lá vem a ocasião em que nos distraímos e o ar reflui, provocando uma inevitável tosse e aquela sensação de engasgo aflitivo e incómodo que só o tempo faz passar, não comprometendo no entanto a continuação do enchimento do festivo balão.

Assim a vida vai passando e os balões vão enchendo, uns mais do que outros, dependendo sempre da capacidade de ar que cada um vai conseguindo insuflar a cada expiração.

Ainda vou enchendo o meu balão, com a esperança de o poder inflar por mais alguns anos, mas há poucos dias tive um engasgo súbito quando fui “obrigado” a refletir na inexorável passagem do tempo e na sua relatividade consoante quem o aprecia...

Em conversa com um jovem de 15 ou 16 anos, e porque a vida, para além de ser uma festa, é também feita de festas, principalmente em tempo de férias e de verão, falando sobre a onda de festivais agora existentes, a maioria dirigidos para a juventude, disse-lhe haver alguns que já não eram para os “cotas” como eu.

“Isso já não se diz”, disse-me ele! “Isso é tão 2010!”

“Então o que é que se diz?”, perguntei, recebendo um “nada, não se diz nada” em troca. Os cotas já são nada para um jovem para quem 2010 já foi há bué (será que ainda dizem “bué?).

Sobreveio o engasgo provocado pelo ar refluente, abri a boca e como não saiu nada, deixei-a aberta durante o tempo de estupefacção que deve ter durado alguns minutos, e voltei a fechar pensando que de facto o prazo de validade varia, como o tempo, consoante quem o aprecia!

2010 foi ontem...

Pelo menos para mim!

E continuei a soprar o balão para que a festa se possa prolongar para que também um cota como eu possa ainda dizer, daqui a uns anos: “isso é tão 2020!”

Considerei estarmos na “silly season” ao elaborar esta reflexão, mas a bazófia com que alguns vão enchendo os seus balões permite concluir que “silly season” é uma estação que se pode prolongar pelo ano inteiro, com exacerbações mais evidentes em períodos de excitação eleitoral.