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Há imigrantes em Macau a sobreviver apenas da doação de alimentos

Foto CARMO CORREIA/LUSA
Foto CARMO CORREIA/LUSA

Associações de Macau disseram à Lusa que há trabalhadores imigrantes com graves carências de bens de primeira necessidade e que estão a sobreviver apenas da doação de alimentos, devido à perda de salários.

Durante o regime de confinamento parcial, no âmbito do combate ao surto de covid-19 em Macau, as autoridades indicaram que os empregadores não tinham de remunerar os trabalhadores, obrigados a permanecer nas suas casas, à exceção das empregadas domésticas, incentivadas a permanecerem nos domicílios dos empregadores.

"Na verdade, não sei como vamos sobreviver, mas pedimos comida uns aos outros, cada grupo [comunitários filipino] dá assistência alimentar", disse a presidente do Sindicato Progressivo dos Trabalhadores Domésticos em Macau, Jassy Santos, na semana em que os trabalhadores se encontram sob licença sem vencimento, uma situação que deverá terminar no próximo fim de semana, mas que abriu um precedente no território.

Outra associação filipina, a Aliança Comunitária Filipina, disse que os trabalhadores receiam não ter salário suficiente para pagar as despesas de subsistência até ao próximo mês.

"Precisamos de pagar o arrendamento da casa e contas de eletricidade", para além da alimentação, disse o presidente, Hazhel C. Mamamngon, que recebeu mais de 200 pedidos de ajuda durante o encerramento parcial, para além do apoio a mais de 60 imigrantes isolados num hotel, a cumprirem uma quarentena obrigatória.

Hazhel C. Mamamngon revelou também que os trabalhadores filipinos estão igualmente a pedir ajuda financeira e alimentar através de organizações governamentais, tais como o Consulado Geral das Filipinas, a Oficina do Trabalho Estrangeiro das Filipinas e a Administração do Bem-Estar dos Trabalhadores Estrangeiros (OWWA) ao longo do confinamento.

De acordo com a OWWA, os trabalhadores filipinos que apresentam sintomas à covid-19 e que necessitam de hospitalização ou isolamento podem beneficiar da assistência financeira da agência Covid After Care no valor de 200 dólares (196 euros).

Contudo, Jassy Santos disse que a assistência das autoridades filipinas é insuficiente, e criticou a OWWA por nem todos poderem receber os benefícios.

"Não é suficiente. (...) Eles não deram a comida suficiente. (...) "Sim, há uma ajuda de 200 dólares, mas só para as pessoas mais afetadas", sublinhou.

Ambas as associações filipinas receberam queixas de que alguns empregadores não estão a fornecer alimentos a empregados domésticos que vivem nas suas casas, e alguns deles são obrigados a trabalhar horas extraordinárias sem pagamento.

Entretanto, o Sindicato dos Trabalhadores Migrantes Indonésios (UTMI) indicou que está a recolher donativos para ajudar as pessoas em necessidades da sua comunidade.

"Os nossos principais doadores são os nossos amigos, que ainda têm emprego, alguns indonésios que vivem aqui, organização muçulmana indonésia, alguns amigos e associações locais", disse a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Migrantes Indonésios, Yosa Wari Yanti, observando que o Governo indonésio ainda não prestou ajuda: "Telefonei para o consulado indonésio em Hong Kong, mas, até agora, ainda nenhuma ação".

Uma associação que representa a comunidade muçulmana também se organizou para prestar apoio.

"Há alguns que são afetados por este bloqueio parcial (...) e nós organizamos comida para eles em restaurantes selecionados, que tenham comida 'halal' [termo árabe que significa permitida, autorizada], sendo que os números de não residentes que precisam de ajuda devido à ausência de pagamento do ordenado está a aumentar", observou um membro da comunidade muçulmana, Bilal Khalil.

"Estamos a tentar o nosso melhor para ajudar todas as comunidades, mesmo (...) não-muçulmanas", esclareceu Bilal Khalil.

Segundo dados da UTMI, um trabalhador doméstico recebia entre 3.000 e 5.000 patacas (363 a 604 euros) por mês.

Com a atual escassez de mão-de-obra, o salário mensal terá aumentado para valores entre 4.000 e 6.000 patacas (463 e 725 euros). De acordo com o Gabinete de Estatística e Censos, o rendimento mensal médio da população empregada era de 16.000 patacas (1.934 euros).