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Ficar nem sempre é a escolha certa

Os lugares, aqueles que acompanham o percurso, ficam para sempre. Têm o cheiro da terra

A terra que nos agarra o coração não tem que ser necessariamente a mesma onde nascemos ou crescemos, nem mesmo tornar-se única e exclusiva. As nossas terras são as que habitam as nossas memórias e nos emocionam em cada regresso. Quando nos sentimos ligados, no sabor das relações que fomos construindo, vamos descobrindo novos caminhos de pertença e espaço para vincular. Da infância até sempre são tantos os lugares que nos acompanham e nos ajudam a crescer.

Na vida das famílias, onde tantas histórias interrompidas ou inacabadas tendem a imortalizar sonhos ou promover a continuidade dos feitos, há momentos e razões que não permitem ficar. A tradição pode ser quebrada sem que signifique desapego ou traição.

Ficar nem sempre é a escolha certa, e a coragem de partir, dentro e fora do coração, é um movimento de esperança que, para alguns, permite arrancar do modo de sobrevivência e prosseguir.

Já conheci jovens e adultos, conscientes deste direito, travados nos seus movimentos pelo discurso da culpabilização e do medo. É uma prova dura, por vezes difícil de superar, que exige resiliência e foco. Todos gostamos de ouvir histórias de coragem e superação, mas para quem lá permanece o percurso é quase sempre duro e tantas vezes solitário.

Quem consegue, e dá caminho à sua própria vontade, ganha o direito à liberdade de decidir. Pode escolher onde quer estar e quem quer que lhe seja pertença. Conhece pessoas, lugares, partilha histórias e aconchegos, cantinhos de afeto e de alegria. Enfrenta tristezas, dificuldades. Fica e vai embora. Supera crises, reinventa-se. Vive a sua vida, aquela que verdadeiramente lhe pertence, a sua identidade.

Os lugares, aqueles que acompanham o percurso, ficam para sempre. Têm o cheiro da terra.