Madeira

Representante realça emigrantes que tantas vezes recebem menos do que merecem

Ireneu Barreto discursou na cerimónia oficial do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas no Funchal

Foto Rui Silva/Aspress
Foto Rui Silva/Aspress

A cerimónia do 10 de Junho, que assinala o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas no Funchal ficou marcada pela condecoração de três personalidades e entidades pelo Presidente da República, através do Representante da República na Madeira, Ireneu Barreto, que no discurso oficial não deixou de realçar o papel dos emigrantes nos cinco continentes, “mercê do seu trabalho e integridade”, souberam construir a imagem de Portugal e da Madeira no Mundo.

“Pelo modo como se integraram e contribuíram para as Nações que os acolheram, sem nunca perderem a identidade”, frisou. “Pelo orgulho que têm nesta Região e em Portugal, mesmo que tantas vezes tenham recebido menos do que mereceriam”, acrescentou num reconhecimento que seguramente é unânime. 

Mensagem de esperança em tempo de guerra

E acrescentou: “E permitam-me fazer uma saudação particular à comunidade ucraniana, que fiz questão que estivesse representada entre nós neste momento de Festa. Não será hoje dia para falar na imensa tristeza e indignação que sentimos quando vemos, ouvimos e lemos notícias do que se passa na Ucrânia, de uma desumanidade que todos pensávamos remetida definitivamente para os livros da História da Europa. Mas quero dizer-vos que sabemos bem com quem estamos, e estamos convosco. Porque sabemos quem agride e quem é agredido. Porque não ignoramos quem são os civis – crianças, mulheres, idosos – que morrem indiscriminadamente, sem qualquer culpa ou motivo. Porque bem vemos quem são os soldados que caem para defender a sua Pátria. Porque nos lembramos dos ucranianos que protagonizaram a maior manifestação pró-europeia da história, em 2014, na Praça da Independência da sua capital.”

O Representante da República na Madeira transmitiu à representante da comunidade ucraniana na Região que serão sempre bem-vindos, “na esperança de que a guerra termine o mais depressa possível, mas dando o nosso contributo, enquanto ela desgraçadamente subsistir”, salientando que “celebrar o Dia de Portugal num mundo em convulsão, acabado de sair de uma pandemia inesperada e recém-entrado numa crise geopolítica inimaginada, poderá parecer dispensável. Creio ser justamente o contrário”, asseverou. 

Depois de recordar em breve passagem a História de Portugal, salientou que “mantivemos um país uno e coeso, onde foi possível o sucesso da Autonomia, que permitiu transformar territórios insulares estruturalmente atrasados em modernas Regiões europeias. Construímos um país pacífico, tolerante e aberto, onde todos os que nos procuram, por gosto ou necessidade, se sentem bem”, reforçou. 

Não obstante, reconhecer que “temos muitos problemas por resolver, mas fazemos o nosso caminho, em democracia e liberdade, sem extremismos nem radicalismos relevantes”, Ireneu Barreto assegurou que “estamos no Mundo de um modo que nos orgulha a todos, através do trabalho da nossa diáspora, do prestígio das nossas Forças Armadas no esforço da pacificação de conflitos internacionais, e do sucesso da nossa diplomacia, cada vez mais requisitada para cargos e missões da mais elevada responsabilidade.  

Ireneu Barreto frisou ainda que “com um Mundo em mudança acelerada, onde se confundem ameaças e oportunidades a cada decisão que se toma, temos necessidade de opções corajosas, que nos apontem horizontes e nos mobilizem”, hoje, “mais do que nunca, em matéria de opções estratégicas é verdade o que Luís de Camões escreveu há quase cinco séculos: ‘Atrever-se é valor e não loucura’. Temos de nos atrever, por muito difícil que possa ser, a tomar opções claras em várias áreas”.

E acrescentou: “Em tudo isto, na nossa História e no que nos define como País, há certamente algo que nos distingue e caracteriza. Creio que, neste Dia de Portugal, podemos falar do nosso humanismo, do nosso sentido inato da justiça e no espírito de solidariedade que nos guia nas dificuldades. E estou seguro de que melhor seria o Mundo se o nosso exemplo mais pudesse frutificar.” 

O futuro em frente

Ireneu Barreto não esqueceu quem também procura Portugal para viver, nomeadamente nos últimos tempos a comunidade ucraniana, refugiada da guerra que assola o seu país. “Se temos de prestar às nossas Comunidades, que tão bem nos representam pelo Mundo, o nosso profundo reconhecimento, devemos também hoje lembrar os cidadãos de outras nacionalidades que escolheram Portugal como a sua casa”, frisou. “Que escolheram aqui viver, e aqui procurar encontrar a felicidade, para si e para os seus filhos”.

Elogiando as opções tomadas pelos órgãos de Governo próprio da Região, com o seu total apoio, “ampliando significativamente a proteção das Reserva Natural das Ilhas Selvagens, prescindindo da exploração económica intensiva dessa joia única em nome da sua conservação para o futuro. Dando execução à estratégia defendida por S.Exa. o Presidente da República quando afirmou, na comemoração do Dia Mundial dos Oceanos, em 2021, que ‘o desenvolvimento do setor deve assentar na sustentabilidade dos recursos, no qual os projetos deverão ser pensados de forma integrada com os ecossistemas e na justa e equilibrada ponderação dos valores em apreço’. Oxalá esse esforço de conservação possa ser, num dia não muito distante, distinguido com uma candidatura bem-sucedida das Ilhas Selvagens a Património Natural da Humanidade”, desejou.

Entre estas, “em matéria de recursos naturais, temos de decidir se vamos continuar a explorá-los o máximo que pudermos e vivermos melhor no imediato ou, pensando em quem virá depois de nós, explorá-los de uma forma racional”, reforçando que “discutir a importância da preservação do ambiente, bem como as alterações climáticas e o contributo da humanidade para o aquecimento global, é hoje, face à evidência dos factos, comparável a divagar sobre o heliocentrismo. É urgente agir à dimensão das nossas possibilidades individuais e coletivas”.

Também falou da opção de futuro que lhe parece incontornável, a transição digital. “Bem andaram o Governo da República e o Governo Regional ao elegerem este objetivo como prioridade de investimento para os significativos recursos do Plano de Recuperação e Resiliência”, disse. “É uma oportunidade única para que o nosso País e a nossa Região possam beneficiar dos avanços da ciência e da tecnologia na melhoria dos serviços que a administração pública presta aos cidadãos, nos ganhos da eficácia dos processos produtivos na economia e no aumento da informação e do conhecimento em geral. Bom seria, portanto, que a transição digital pudesse ser, de facto, um motor de mudança cultural”.

O restante discurso foi de homenagem aos condecorados, mas não só, pois esta cerimónia foi a primeira quase sem restrições devido à pandemia, salientando aqui os profissionais de saúde, as forças de segurança pública e as forças armadas, recordando a que a covid-19 ainda não acabou, pelo que importante manter sensatez “no saber conviver com esta doença, evitando comportamentos de risco que nos podem voltar a colocar num patamar de contágios perturbador de uma vida normal em sociedade que tanto ambicionamos”, disse.