Incêndio na Assembleia

- Marido, oh marido, onde é que estás “escondido”? O teu telefone há tempos que anda a tocar, é do Brasil, o nosso filho quer-te falar.

- Que diabo, em lado nenhum um homem pode estar sossegado.

- Estou, diz filho, alguma coisa se passa contigo?

- Oh, pai, estou em completa aflição, liguei a televisão e estão a dizer que aí na Madeira, pegou fogo na Assembleia.

- É verdade, mas não me parece ter sido algo de muita gravidade.

- Não ouviste as sirenes dos carros da polícia, das ambulâncias e dos bombeiros que, nesse caso, até deviam ser os primeiros?

- Oh, filho, eles tocam as sirenes por tudo e por nada que tanto pode ser uma coisa grave ou uma qualquer” baboseirada”.

- Mas informa-te pai, estou ansioso por saber se aconteceu alguma coisa, sobretudo e especialmente, ao nosso Presidente.

Quanto aos senhores deputados, mesmo que tivessem ficado um pouco chamuscados, a bem dizer, era para desconto dos seus pecados.

- Lá isso é verdade. Agora o Senhor Presidente, além de ser boa gente, ainda é um rapaz novo, e assim de um momento para outro ser levado pelo fogo, era demasiadamente pesaroso.

- Era uma triste realidade, Deus nos livre e guarde.

E o que seria da nossa querida Madeira, se ardesse a nossa amada Assembleia?

- Oh, filho, nem é bom pensar. O prejuízo seria tão grande que não dá para avaliar.

- E depois, o nosso povo, coitado, passaria de novo a ser governado por aquela maralha do continente que tanto mal tem feito à gente.

- Nem me fales nisso. Ainda fico pior do que já estou… do meu juízo!

- E sabes, pai, aquela gente que anda há tantos anos na Assembleia, exclusivamente a defender os interesses do povo e da nossa Madeira, já não está vocacionada ou capacitada para, na vida, fazer mais nada.

- Tens razão. Há deles que, se viessem “cá para fora” não havia patrão que lhes deitasse a mão.

- Até no próprio “ fundo do desemprego “ se soubessem que eles lá iam eram capazes de mandar fechar as portas mais cedo!

- Que Deus nos livre e o Santíssimo Sacramento de incendiar a Assembleia com tanta gente boa, generosa, capacitada e dedicada lá dentro.

- Filho, não te incomodes, eu tenho um pressentimento que foram mais vozes do que nozes.

- Deus queira, para bem do nosso povo e da nossa Madeira.

- Pronto, filho, já podes ficar descansado, acabaram de me informar que nada aconteceu, nem com o Senhor Presidente, nem com os senhores deputados.

Nem mesmo com os da OPOSIÇÃO que tanto têm contribuído para a paz e harmonia naquela abençoada Instituição, responsáveis pelo progresso da Região e bem-estar da sua população?

- A todos sem exceção!

- Que Deus seja Louvado, já posso dormir descansado!

Juvenal Pereira