O pijama

À conta de uma hérnia discal, estive 12 dias internado no Hospital Dr Nélio Mendonça.

Durante esse período, tive dois grandes inimigos: o tédio e os pijamas do hospital.

Sim, quando se tem pouca mobilidade, aquela peça em azul suave, fresca todos os dias, feita de algodão que não estica, é um autêntico lutador de jiu jitsu, tolhendo os movimentos enquanto tentamos mudar de posição na cama, aplicando autênticas chaves de pescoço com as costuras da lapela ou da calça, fazendo com que momentaneamente se vejam estrelas na escuridão noturna da enfermaria.

Para além daqueles inimigos, pude observar como se comporta uma legião de aliados composta por médicos, enfermeiros e auxiliares de ação médica e limpeza, incansáveis, rápidos, sempre com uma palavra de conforto para todos, em especial para com os mais frágeis, porque mais idosos e confusos, ou desorientados pela dor e pela solidão de sofrer longe da família.

Há sempre tempo para umas palavras alegres; um sorriso e uma mão no ombro de um octogenário; uma paciência sem fim para com os desorientados, os teimosos ou os menos educados.

E tudo isto dia e noite, porque este formigueiro não pára, de madrugada chega a roupa lavada, à hora do café da manhã já se prepara o almoço, à hora do lanche organiza-se o jantar, e depois de tudo isto, é preciso dar de comer a quem não come por si. É preciso monitorizar sinais vitais, tratar de feridas, pensos; tratar da higiene pessoal de quem não o faz por si… E muito mais.

O melhor da estadia foi o cuidado posto no diagnóstico e o “milagre” realizado pelos cirurgiões e sua equipa.

No entanto, porque das cirurgias ninguém se recorda, retive na memória a onírica viagem desde a enfermaria até ao bloco operatório, deitado numa cama empurrada por enfermeiros e auxiliares, ao longo de intermináveis corredores, vendo desfilar as luzes de teto, os aros de porta, sentindo as mudanças de piso, as vozes e as silhuetas rápidas passando em sentido contrario, até chegar ao bloco operatório e aos seus tetos sofisticados, de fazer inveja aos cenários do Star Trek…era personagem da minha própria aventura.

Aos médicos, enfermeiros e auxiliares de Neurologia e Neurocirurgia, o meu muito obrigado pelo cuidado, competência, desvelo, boa disposição e carinho que me dispensaram.

Sérgio MCSV Quaresma