A cultura madeirense!

Aproximadamente durante 2 anos tivemos de lidar com muitas privações entre as quais o acesso a eventos culturais. Nos últimos meses do ano passado, apesar de algumas restrições, começou a ser possível voltarmos a ter possibilidade de assistir a espetáculos.

A nível familiar uma das resoluções de ano novo foi pelo menos uma vez por mês irmos ao teatro, a cultura é uma parte integrante para o nosso crescimento pessoal a vários níveis, felizmente temos conseguido cumprir. A cultura sempre fez parte da nossa vida familiar, apesar de termos 3 filhos, sempre conseguimos conciliar a vida familiar, profissional e aproveitar para disfrutar de assistir a concertos, ir ao teatro e outros eventos culturais.

A importância do teatro na vida das pessoas hoje em dia, está intimamente ligada ao fato de provocar uma visão mais ampla sobre tudo. O teatro forma pessoas mais sensíveis, respeitosas, além de colaborar bastante com a formação de pessoas menos preconceituosas, mais tolerantes e com uma visão mais inteligente.

Nos passados dias 22 e 23 de abril, o nosso emblemático Teatro Municipal Baltazar Dias recebeu o espetáculo “Cabral do Nascimento – O Meu Avô”, uma criação e interpretação de Filipe Crawford. O neto do poeta madeirense, tenta traçar a biografia de Cabral do Nascimento, poeta da geração madeirense da 'Presença' e do 'Orpheu', seguidor das correntes do simbolismo e do modernismo que teve um relacionamento estreito com o pintor Henrique Franco e o escultor Francisco Franco. O Autor da peça misturou as memórias de infância e adolescência, em que conviveu com o avô, com dados da sua biografia e com excertos poéticos da sua obra. Esta viagem à infância aponta para um retrato moral da integridade do poeta e para uma filosofia de vida e de existência, refletindo sobre o ser humano através da sua poesia. Uma criação inédita que presta homenagem a este poeta madeirense praticamente desconhecido da maioria dos madeirenses.

A peça foi amplamente divulgada nos meios de comunicação social da Madeira inclusive nas redes socias, o custo de cada bilhete era de € 7,00 e para estudantes € 5,00. Confesso que desconhecia a existência deste poeta e decidimos ir à secção de sexta feira, 22 de abril, qual o nosso espanto que na esplendorosa sala do Teatro Baltazar Dias na plateia para assistir a estreia da peça estava aproximadamente 30 pessoas. Senti um misto de emoções, tristeza, vergonha enfim não há palavras que consigam descrever a situação.

Um trabalho realizado com tanto amor, dedicação e empenho pela família do poeta apresentado para uma plateia tão reduzida, que desalente para o neto e autor da obra ao se aperceber do desinteresse dos madeirenses pela história de vida de um poeta da nossa terra.

Venho por este meio mais uma vez aplaudir de “pé” a família do poeta Cabral do Nascimento que de uma forma tão singela homenageou o seu Avô que foi uma referência para a família assim como para toda a sociedade madeirense e portuguesa. Uma história de vida tão enriquecedora para a desenvolvimento da sociedade da época e futura.

Salvador Freitas