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Emmanuel Macron "fragilizado" na vitória pode perder maioria nas legislativas

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O Presidente francês, Emmanuel Macron, renovou no domingo o seu mandato mas só quatro em cada seis eleitores votaram nele por convicção, fazendo com que fique fragilizado no poder o que pode ter impacto nas eleições legislativas em junho, segundo analistas.

"Só quatro em cada seis eleitores de Emmanuel Macron o escolheram por convicção, o resto votou nele para fazer barreira a Marine Le Pen, portanto há uma grande fragilidade no seio do apoio ao Presidente e vai colocar problemas de legitimidade e adesão nos próximos meses e anos", disse Benjamin Morel, constitucionalista na universidade Paris 2 Panthéon-Assas e politólogo, em declarações à Agência Lusa.

Tendo obtido 58,55% dos votos face a Marine Le Pen, Emmanuel Macron foi ajudado nas urnas pela chamada 'frente republicana' que tem funcionado desde 2002, primeira eleição em que a extrema-direita passou à segunda volta. Esta frente republicana consiste nos eleitores dos outros candidatos que ficaram pela primeira volta, neste caso, muitos eleitores vindos da esquerda.

O facto de nos últimos cinco anos ter havido uma erosão dos apoiantes de Emmanuel Macron e de ele ter agora uma dívida política para com outros eleitorados, pode prejudicar as suas ambições nas legislativas, que se realizam já a 12 e 19 de junho, de manter uma maioria na Assembleia Nacional.

"Tendo em vista as legislativas, se ele falar já muito ao eleitorado dos extremos, pode perder os seus leitores de base, mais ao centro, que constituem a sua força em termos de mobilização. A maioria está muito mal implementada localmente, portanto, se concorrerem contra autarcas bem implementados e houver muita abstenção, podem perder", indicou o politólogo.

Em 2017, logo após ganhar as eleições presidenciais, Emmanuel Macron conseguiu também uma maioria na Assembleia Nacional com o seu partido República em Marcha, trazendo para a política novas caras. 

Se, por um lado, esta maioria lhe deu uma margem de manobra confortável para levar a cabo as reformas que considerou essenciais no país, essa vitória acabou por não se traduzir nas eleições municipais de 2020, onde o partido não ganhou nenhuma das grandes cidades em França. 

Jean-Luc Mélenchon já veio chamar às legislativas "a terceira volta das presidenciais", pedindo para ser eleito primeiro-ministro, mas há também os socialistas à esquerda e os Republicanos à direita que esperam aumentar o número de eleitos.

"Há uma ameaça que vem dos partidos tradicionais que localmente estão bem implementados e que podem ganhar mandatos nestas eleições", explicou Benjamin Morel.

A postura do Presidente nas próximas semanas pode influenciar a eleição dos deputados, com Virginie Martin, professora da Kedge Business School, a considerar que, por enquanto, ainda não há grandes mudanças no que diz respeito ao mandato anterior.

"Emmanuel Macron pode mudar, mas por enquanto ainda não vimos sinais disso. Ele não faz grandes esforços, com a sua equipa a defender que as pessoas aderiram ao seu projeto, quando sabemos bem que muitos dos votos vêm da frente republicana e que não é um cheque em branco. Pelas suas atitudes, parece que é isso que ele pensa", disse a politóloga.

Ouvir as pessoas, integrar algumas medidas de mais participação democrática como introduzir o referendos de iniciativa cidadã e encontrar-se mais com os cidadãos são algumas das estratégias possíveis para os próximos cinco anos, segundo Virginie Martin, de modo a atrair para o seu lado também os eleitores de Marine Le Pen.

"Desde os anos 90 que ninguém ao nível político ouve os pobres de França que votam na extrema-direita. É mais fácil chamá-los de fascistas do que conhecer os seus problemas de fundo. Emmanuel Macron pode ser mais empático com as pessoas, mas há uma matriz tecno-liberal e europeísta que não encaixa nesse eleitorado", declarou a académica.

Neste âmbito, a política levada a cabo por Marine Le Pen mostra-se cada vez mais eficaz, já que mesmo perdendo, a candidata da extrema-direita conseguiu a maior percentagem de sempre de votos para o seu partido.

"A principal força de Marine Le Pen é que ela tem um esquema político que é eficaz, uma ideologia social e identitária que fala a uma grande parte do eleitorado e ela é uma das únicas figuras que possui isto. Jean-Luc Meélenchon não tem esta questão identitária e Eric Zémmour não tem a parte social, portanto ela tem um espaço político muito importante", indicou Benjamin Morel.

No entanto, tem também as suas limitações que podem ficar ainda mais visíveis durante as eleições legislativas.

"O partido União Nacional é um partido fragilizado. Desde logo devido à saída dos seus quadros mais qualificados para o partido de Eric Zémmour e também por razões financeiras, onde não há dinheiro. Se fizer um mau resultado nas legislativas, não vai conseguir continuar a financiar-se", concluiu o politólogo.

O centrista Emmanuel Macron foi no domingo reeleito Presidente de França, obtendo 58,55% dos votos na segunda volta das eleições, contra 41,45% de Marine Le Pen, a candidata de extrema-direita, segundo resultados oficiais definitivos divulgados pelo Ministério do Interior francês.

Em 2017, a primeira vez que os dois se enfrentaram nas eleições presidenciais, Emmanuel Macron venceu com 66,10% dos votos, contra 33,90% de Marine Le Pen, ou seja com uma vantagem significativamente mais clara do que nas eleições de domingo.