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Comemorar a Liberdade e a Democracia

Comemorar a Revolução dos Cravos não significa apenas preservar a memória dos homens e das mulheres que fizeram abril acontecer, celebrar a instauração da Liberdade e da Democracia é continuar a lutar pela raiz do nosso pensamento, pelos paradigmas de vida que garantam os nossos direitos; conhecer e perceber os valores e os grandes desafios de abril é refletir sobre quem somos e que futuro queremos construir para todos e cada um, onde ninguém deverá ficar para trás.

Na Madeira, ainda temos muito do 25 de abril para instituir, aliás, algumas das manhas do Estado Novo continuam vivas no modo como o governo regional exerce o seu poder, assumindo, em várias decisões políticas, o lema: “quer queiram, quer não queiram”.

Assiste-se, em demasiados momentos, a uma prática política de prepotência e de pensamento único, controlando a informação, que deveria ser pública, com pouca ou nenhuma transparência, impondo a lei do “quero, posso e mando” alimentada por uma propaganda e uma teoria da negação que culpa sempre os outros por tudo o que não corre bem.

Apesar dos milhões e milhões de euros que chegaram à Região dos fundos europeus e de outros quadros financeiros plurianuais, apesar das transferências dos Orçamentos de Estado, dos impostos dos madeirenses que ficam nos cofres da Região e dos milhões provenientes de empréstimos contraídos, apesar da estabilidade política e das potencialidades da Autonomia, os sucessivos governos do PSD, agindo sempre de forma unilateral, sem aceitar confrontar ideias ou propostas alternativas, desprezando e humilhando quem ousa confrontar o poder, não foram capazes de criar um modelo de desenvolvimento sustentável, ao serviço dos reais interesses das populações, que garantisse a justiça social e o nosso progresso.

Falharam. Contudo, insistem nas mesmas políticas e estratégias que continuam a deixar tantas gerações de madeirenses para trás. Temos uma realidade exposta, problemas sociais dramáticos e visíveis, e uma outra pobreza, envergonhada e escondida, com tanta privação e desigualdade que atinge, inclusive, homens e mulheres com vínculo laboral, mas que não conseguem sair das bolsas de pobreza. Mesmo após as transferências sociais, cerca de 17,8% destes trabalhadores encontram-se nesta situação.

Ao nível das qualificações, apesar da inevitável evolução, muito ficou por fazer. Além da falta trabalhadores qualificados, cerca de 46% dos desempregados inscritos possuem habilitações inferiores ao 9.º ano, 53,2% da população ativa possui apenas o ensino básico ou menos e temos uma taxa de abandono precoce de educação e formação na ordem dos 10,2%.

Torna-se hilariante ouvir dirigentes do PSD e do CDS a defenderam que o nosso modelo de desenvolvimento deveria ser exportado para o território continental. Uma governação que escondeu 6 mil milhões de euros nas costas dos madeirenses e hipotecou o futuro da Madeira com políticas de esbanjamento e de desperdício ao serviço dos interesses político-partidários e não só.

A vida concreta no seio das nossas famílias, após 48 anos de abril, denuncia um modelo de desenvolvimento que arrastou cerca de 80 mil madeirenses para os níveis de risco de pobreza e exclusão social, que empurrou cerca de 8 400 jovens entre os 16 e os 34 anos para o rol dos “nem nem”, que nunca teve uma política de habitação de acordo com as necessidades das populações, que conduziu mais de 17 mil madeirenses para a emigração, porque a sua terra não lhes garantiu estabilidade económica, emprego, condições para constituir e sustentar a família. Em suma, um modelo que criou a Região com o menor poder de compra do país, com a maior taxa de Privação Material e Social severa e com tantos outros indicadores a nos colocarem em último ou penúltimo ao nível de todas as regiões de Portugal.

Estaremos sempre do lado da Liberdade e da Democracia, vamos continuar a lutar em prol das populações, porque não abdicamos das causas nem dos valores de ABRIL.