Análise

Alheamentos

Preocupa o facto de nascerem novos grupos, os dos negacionistas dos crimes russos na Ucrânia

As atrocidades cometidas pelos russos na Ucrânia perturbam-me ao ponto de não querer processar certas imagens transmitidas pelas televisões. É impossível compreender as razões tão estapafúrdias invocadas para se esventrar uma nação soberana, fazer sofrer e matar pessoas, que tinham, como nós, os seus trabalhos e uma vida normalizada e livre. Nunca como agora estas terríveis imagens, de que Bucha e a estação de comboio em Kramatorsk são apenas dois exemplos aterradores, nos fazem regredir aos horrores perpetrados por um país liderado por um louco maléfico chamado Adolf Hilter. O Mundo civilizado e democrático jurou que não se repetiria igual façanha na História. Equivocou-se. Assistimos a nova barbárie, incrédulos e impotentes. Lembram-se do que aconteceu na Tchetchénia, Geórgia e na Síria? O papel da Organização das Nações Unidas reflecte toda essa fragilidade, perante encenações do embaixador russo, cujo país tem poder de veto sobre as atrocidades que o mesmo comete no terreno… Parecemos todos espectadores de uma encenação de mau gosto.

O Mundo tem de encontrar um novo caminho, porque as sanções – que devem ser muito mais duras – não fazem calar as armas, nem travam a trajectória dos projécteis que atingem crianças indefesas, como Sascha, de apenas seis anos, a quem uma bala lhe roubou os sonhos e o futuro, perto de Kiev.

A guerra da falência humana faz o seu caminho, destruindo, tornando-nos mais dependentes e mais pobres, mas há quem queira negar a evidência.

Fiquei petrificado, há dias, com uma daquelas conversas de café matinais em que a guerra era tema central. Um indivíduo de meia-idade afirmava convictamente que estava tudo a ser encenado pela Ucrânia, que Putin tinha razão e que se Trump fosse presidente dos Estados Unidos nada disto estaria a acontecer. Apesar de inconsequentes, aquelas palavras incomodaram-me. Pela ignorância atrevida, pela ligeireza das palavras, pela frieza perante selvajaria. Mais assustador, pelo poder das fake news, da desinformação, da ausência de fontes credíveis na formulação da opinião. O tal sujeito, bem vestido e penteado, era fã de uns canais que nidificam no YouTube, de que nem o próprio sabe a proveniência e objectivos obscuros. Preocupa o facto de nascerem novos grupos, os dos negacionistas dos crimes russos na Ucrânia.

Trilhamos, por isso, um caminho perigoso e desafiador. Todos temos responsabilidades neste conflito. Não o releguemos para o terreno da indiferença. Também na Segunda Grande Guerra o alheamento de muitos resultou no extermínio de milhões.

2. A gestão dos dinheiros públicos deve pautar-se pelo rigor e pela transparência. O gestor público tem de ser melhor do que o privado, porque zela pelo dinheiro da sua população, da sua autarquia, do seu País. Em 1994, a situação financeira da Câmara do Funchal – 7,5 milhões de contos em dívidas herdadas e não comunicadas pela anterior vereação de João Dantas – fez tremer a cúpula do PSD-M. Na sequência desse conflito público, o presidente Virgílio Pereira, que denunciou a patranha, bateria com a porta, desgastado com a falta de rigor e de ética.

A questão do desmazelo contabilístico-financeiro é recorrente. Por norma, em quase todas as situações, a culpa acaba por morrer solteira.

O que se está a passar na Câmara do Funchal, e que vai ser dirimido na Justiça, não é uma novidade, numa terra onde os ‘buracos’ financeiros já condicionaram muito a vida da população, como todos sabemos. O que é público é de todos e por isso não podemos tolerar que não haja consequências para eventuais actos de má gestão, nem que se façam ajustes de contas pessoais ou políticos.

Tudo isto vem demonstrar, igualmente, a falência dos órgãos fiscalizadores (oposição incluída). Não têm feito o que lhes compete.