Artigos

Portugal 2026?

Após dois meses em que o país ficou em suspenso entre um resultado eleitoral e a tomada de posse do respetivo governo, em que eclodiu uma guerra no leste europeu e, com isso, há uma subida galopante da inflação, António Costa tomou posse pela terceira vez na qualidade de Primeiro-Ministro.

Atendendo a tudo aquilo que já aconteceu entre a campanha eleitoral decorrida no mês de janeiro e a tomada de posse, no final de março, da sua intervenção não se augurou em momento algum as promessas que consubstanciaram a vitória expressiva obtida nas urnas. Como é que ficam as promessas do salário mínimo para 900€ até 2026 ou a redução do trabalho passando para 4 dias de jornada laboral semanal? No entanto, não é essa a discussão que aqui trago.

O resultado de 30 de janeiro possibilitou ao atual e novo Primeiro-Ministro todas as condições de governação. Hoje, não precisa de ceder a ninguém, falar com ninguém ou envolver alguém, para concretizar as medidas que considera necessárias. Eventualmente, até por uma questão de regime, precisará apenas do PSD se quiser fazer uma revisão constitucional. Mas fora isso, tudo o que sejam Orçamentos, Leis de Base e reformas sejam na Justiça, nas Forças de Segurança ou na Educação, o que se decidir no rato está decidido.

Mais interessante de tudo isto é que quem tem todas as condições para governar, dadas pelo Povo, são aqueles que se revelaram mestres na gestão da espuma dos dias, sem terem conseguido uma reforma estruturante desde 2015. Na boca dos novos governantes, o PRR será uma última oportunidade para tudo: Ciência e Inovação, para a Habitação, modernização da Administração Pública, Ensino Superior e para a Educação. No fundo para tudo aquilo que não se tenha uma ideia clara, responde-se com o PRR. E não será nisto um sinal de que este instrumento servirá, mais uma vez, para tapar buracos? E nisto, o tempo vai passando não se discutindo um país fiscalmente mais competitivo, uma justiça mais célere ou uma sustentabilidade da Segurança Social que permita dignificar o fim de vida daqueles que se levantam todas as manhãs para ganhar o ordenado mínimo ou pouco mais do que isso. Ou mesmo no presente, quando os jovens são aqueles que mais tarde na Europa se emancipam, que são mais qualificados que a geração anterior, mas que não tem condições de na mesma idade estar melhor do que os seus pais ou avós. E depois, há quem diga na Madeira, que vê no socialismo as virtudes para mudar? Devo sofrer de miopia, só pode.

Para as Regiões Autónomas, este será um tempo decisivo para a sua afirmação Atlântica. Num tempo em que as relações euroasiáticas estão altamente limitadas pela guerra da Rússia à Ucrânia, Portugal pode, através de qualquer um dos seus territórios insulares, ter uma posição geopolítica interessante no quadro da economia dos recursos naturais. Mas, pergunto-me, alguém pensou nisso? Não me parece. Provavelmente pensou-se mais na saída de Costa para o Conselho Europeu do que resolver os problemas nacionais, inclusivamente, qualquer um dos dossiês pendentes com as parcelas do território português.

Em 2026 terão passado cerca de 31 anos da última maioria absoluta do PSD na República. Nesse período o PSD terá governado apenas 7 anos e o PS 24, ou seja, governou três vezes e meia mais tempo que os social-democratas, pelo que me parece seguro afirmar que todos os indicadores sociais poderão ser responsabilidade de toda a gente, menos dos social-democratas. Mas o que se vê dos novos responsáveis políticos? Entre um Ministro das Finanças que cedeu dados pessoais a regimes autocráticos e um governo em que são mais os delfins que os políticos, sobra um país à beira-mar plantado, adiado e sem qualquer resolução para os problemas. Quem perde? Os mais jovens, mas sem sombra de dúvida, perde Portugal.