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Suspensa construção de sede da Amazon na África do Sul após pressão de indígenas

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Um tribunal sul-africano suspendeu a construção de um enorme parque comercial na Cidade do Cabo, que albergará a sede da Amazon em África, após um protesto de grupos indígenas contra o que consideram a destruição de uma área sagrada.

Os grupos indígenas das Primeiras Nações - cujos antepassados são reconhecidos como os primeiros habitantes da África do Sul - têm vindo a trabalhar há anos para parar permanentemente o projeto do River Club, no valor de 300 milhões de dólares (cerca de 272 milhões de euros).

O empreendimento perto da famosa Table Mountain da cidade está preparado para colocar escritórios, centros comerciais e habitações em aproximadamente 14,8 hectares de terreno, onde existe uma zona húmida e um ponto onde dois rios se encontram.

A Amazon vai ser o principal ocupante, de acordo com os promotores e funcionários da cidade.

Mas os grupos das Primeiras Nações dizem que a área é o local da primeira resistência do seu povo contra os colonizadores europeus no século XVI. O encontro dos rios Liesbeek e Black também tem significado espiritual.

O acórdão da semana passada do Supremo Tribunal de Cabo Ocidental suspendeu os trabalhos de construção, até uma consulta adequada com os grupos indígenas interessados.

Os grupos disseram hoje que vão agora pressionar para que todo o projeto seja desmantelado.

"Vamos lançar uma revisão de todo o empreendimento, incluindo a forma como o projeto foi autorizado, mesmo contra as leis ambientais da Cidade do Cabo", disse Tauriq Jenkins, porta-voz do Conselho Tradicional Indígena de Goringhaicona Khoi Khoin, à The Associated Press (AP).

Jenkins disse que também foi nesta área que os povos indígenas da África do Sul foram forçados a abandonar as suas terras pelos colonizadores e que "mais ataques contra os povos indígenas", através da colocação de betão no local, não deveriam ser permitidos.

A área foi anteriormente protegida do desenvolvimento ao ser designada como um importante sítio patrimonial, o que foi anulado pelas autoridades da Cidade do Cabo.

A Amazon recusou-se a comentar o projeto, planeado desde 2016. O nome do gigante das compras online foi utilizado pelos promotores e funcionários da cidade como apanágio de possíveis benefícios económicos e prestígio que traria à cidade.

As autoridades locais afirmaram que a fase de construção do projeto criaria mais de 5.200 empregos, com 19.000 empregos diretos e indiretos criados depois disso. Argumentaram também, em tribunal, que o desenvolvimento melhoraria a biodiversidade na área, o que não convenceu um juiz.

"O acórdão do tribunal foi muito claro de que o benefício económico do projeto não ultrapassa os direitos e o património do povo indígena, que é o que deveria ser considerado pelos promotores e pela cidade", disse Jenkins.

A adjunta da presidente do Cabo Ocidental, Patricia Goliath, reconheceu as ligações e o significado do local para o povo das Primeiras Nações.

"Sou de opinião que o direito fundamental à cultura e ao património dos grupos indígenas... estão ameaçados na ausência de uma consulta adequada, e que a construção do clube do rio deve parar imediatamente, enquanto se aguarda o cumprimento deste requisito fundamental", disse.